No início do ano queremos acreditar que tudo será melhor – o tudo é uma coisa abrangente, mas muitas vezes não abarca uma melhoria pessoal – e, ao mesmo tempo, destilamos aquele fatalismo nacional. Nunca nada será realmente bom.
Fazer comparações é uma característica do ser humano, a mesma que permite teimar em não reconhecer o que temos de bom. É uma coisa muito portuguesa, a queixa, a ideia de que há uma dimensão de grande injustiça na nossa vida. Ao mesmo tempo, projetamos nas redes sociais uma existência cheia de glamour. Temos tudo à mão, o acesso à Internet permite-nos parecer inteligentes e cultos.
A felicidade não se conquista assim, é uma fachada que funciona como promoção aspiracional. Ao mesmo tempo, as redes facilitam um destilar de fel e dor de corno que são chocantes. No início do ano parece que existe uma patine de bondade. Como no fim da pandemia, íamos todos ficar bonzinhos, solidários, evitar o consumismo, proteger o ambiente. Foi sol de pouca dura. O presente estado de bonomia face a um novo ano está quase a terminar. Para a semana mantemos o registo costumeiro: todos a queixarmo-nos e a mostrar os nossos almoços e jantares, os nossos animais e os poemas que catamos à Internet, muitas vezes com a autoria errada. Roda o disco e toca o mesmo. Os seres humanos são o que são.
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