No outro dia, ouvimos Carlos Moedas dizer que, durante os 10 anos que trabalhou no Goldman Sachs, era “proletariado dos banqueiros, chegava lá às 8 da manhã, saía de lá às 3 da manhã, chegava a casa ‘muita’ cansado, ali a sofrer, a sofrer, a sofrer”. Eu ia chorando. Coitado do Carlos. Apesar de ele ter trabalhado 10 anos numa das instituições que mais prejudicou o mundo nas últimas décadas, levando milhões de pessoas à miséria (tendo sido mais tarde condenado a pagar 5 biliões de dólares pela sua responsabilidade na crise de 2008), de certeza que foi um grande sofredor neste banco que, presidido por Durão Barroso, ainda há poucos meses resolveu processar a República Portuguesa em 292 milhões de euros. Podemos ter a certeza que Carlos Moedas saberá perfeitamente o que passam os lisboetas de classes mais baixas que trabalham tanto ou mais que o Carlos, só que recebem o ordenado mínimo e não conseguem pagar uma renda em Lisboa.

Para a Amadora, parece que uma hipótese é mesmo Suzana Garcia. Ou seja, para aquela que é provavelmente a Câmara de uma das áreas mais multiculturais do país, convida-se para ser candidata à presidência alguém que é conhecida da televisão pelos comentários racistas e xenófobos. Parecia uma boa ideia, se fosse pelo Chega, para lá fazerem os seus planos de mandar todos os negros e imigrantes para a “terra deles”. Mas não é pelo Chega, é pelo PSD. Passa de boa ideia a ideia genial, continuando a direita democrática a estender a passadeira à extrema-direita. Vai correr bem, de certeza.

Para Gaia, e também ainda sobre o PSD, foi escolhido António Oliveira, ex-treinador e actual maior acionista particular e privado do Futebol Clube do Porto. Conflito de interesses? Hm? ‘Tou? O que é isso? Não, nunca, não sabemos. Tudo normal.

E destaco ainda Pedro Frazão, membro da Opus Dei, parte da direcção nacional do Chega e candidato à CM de Santarém. Ainda não sabemos as propostas, mas sendo Opus Dei e Chega, é possível que tenha ideias como obrigar todos os escalabitanos a ir à missa vestidos como Jesus e, quem sabe, montar uma Inquisição aos ciganos do distrito. Agora, o que achei muito divertido nele nestes dias, foi o tweet muito revoltado com a TVI, porque o Goucha e o marido estavam – em plena Sexta-Feira Santa – a praticar heresia em directo por estarem a comer carne. Ri-me bem. Mas, por via das dúvidas, fui confirmar ao calendário que não estávamos em 1640. Como houve muita gente a rir a bom rir com tal comentário, o candidato a Santarém ripostou dizendo que estava a ser vítima de Cristofobia. Isto nem inventado. Eu, também num tweet, escrevi apenas “Cristofobia. É aqui que chegámos”. A isto, uma seguidora diz que eu é estou a precisar de um susto para ver se aprendo, ao que Frazão responde com um “é uma questão de tempo”. Meio estranho, um católico tão acérrimo a fazer ameaças, e logo na semana Santa, não? Se calhar sou só eu.

Bem, acho que por estes exemplos já estamos, para já, bem servidos de pagode das autárquicas. Mas Portugal sendo Portugal, com certeza muito mais virá.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:

- Rapaz Ego Canta Durante la Siesta: este EP está lindíssimo.

- Se Esta Rua Falasse: um livro muito bonito de James Baldwin. Também têm o filme na Netflix, e o documentário “I’m Not Your Negro” sobre o autor no Filmin.

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