Somos capazes do pior, sobretudo quando cultivamos a ignorância, quando acreditamos que a nossa forma de estar e a nossa opinião prevalece e deve prevalecer. Existem campos de concentração para homossexuais na Tchetchénia. Quando escrevo campos de concentração agradeço que se entenda na dimensão terrível que atribuímos ao Holocausto. Não é melhor.
É triste e desumano que a sexualidade seja discriminada, seja questionada e, quando fora de um padrão que alguém definiu como certo (só esta ideia é já um chuto na tola), passível de levar à tortura.
O senhor Putin é homofóbico? Não tenho a menor dúvida e, para não ficar sozinho, foi buscar o senhor Ramzan Kadyrov para manter a Tchechénia na ordem. Trata-se de mais um regime e, como em todos os regimes, o tal padrão normalizador é, no limite, espelho de quem governa.
Sunita, muçulmano, ex-separatista, dono de um exército privado, o senhor Kadyrov faz o que quer e como quer há já uns anos. O poder é seu desde 2007. A perseguição a homossexuais não é de hoje, mas agora chegam testemunhos e relatos perturbadores que indicam que a homofobia chegou a um extremo. Se é gay, é para abater, ou torturar até que denuncie quem é igualmente gay.
Sim, em pleno século XXI, com tudo o que deveríamos saber, há um lugar no planeta Terra em que os homossexuais têm de ter medo, têm de se casar e ter filhos para esconder a sua verdadeira sexualidade. Um sítio onde as famílias são instigadas a denunciar quem possa ser gay ou – muito melhor – tratar do assunto, que é como quem diz, executar filhos, primos, tios, sobrinhos ou outros que possam ser homossexuais ou suspeitos de tal.
A Amnistia Internacional criou uma petição, o mesmo fez a organização Avaaz. Lemos nos jornais – no The Guardian têm-se escrito vários artigos sobre esse terror – e comentamos nas redes sociais. Não chega. Contra o Mal não chega.
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