A igreja é feita pelos homens e pode falhar, muitas vezes falhou na História e foi protagonista do pior. Em pleno século XXI, os escândalos que acumulamos – e que respeitam a abusos cometidos por membros do Clero e opções de branqueamento, pela hierarquia clerical – são inaceitáveis. 

O Papa Francisco diz que há tolerância zero. Compreendo e aceito que o diga, mas não lhe agradeço, como tenho visto muitas pessoas fazer questão de dizer, por considerar que não há perdão no abuso a menores, ou outros, feito com o poder do nome de Deus. 

Neste momento assistimos a uma cebola a ser descascada. Quando as notícias surgem, dando a garantia de que as esferas mais altas da Igreja foram informadas, e optaram pelo silêncio e pelo não afastamento dos indivíduos em questão, lembro-me dessa dimensão humana da Igreja, mas recuso a indulgência. 

Bem sei que perdoar é crucial na essência cristã; porventura deveríamos praticar a complacência com maior regularidade, seria bom para criar menos ressentimentos, menos equívocos. Neste caso, dificuldade, assumo. E choca-me a leveza com que muitas pessoas preferem encarar esta questão. Não a querem debater, não querem reflectir sobre o que significa. Pior ainda é a perversidade da curiosidade, apenas esse espreitar pela fechadura sem consequências: fiquei a saber, está bom. As pessoas perturbam-se por uns minutos e depois vão à sua vida. 

Em nome de Deus muitas heresias têm sido cometidas, justificadas com essa dimensão de superioridade. A religião é, sempre foi, um regulador de poder, um regulador da sociedade. O poder assume facetas desprezíveis – uma delas é o corporativismo, o silenciamento em prol de um qualquer grupo. É assim na política, nos negócios, em algumas (porventura todas) as profissões. Não é novidade na Igreja Católica e muitos são os pecados que não temos como contabilizar. O silêncio é o pior deles. O perdão não se aplica.