Não tenho dúvidas de que a voz é um dos mais poderosos instrumentos de que dispomos. A voz identifica-nos, aproxima-nos, gera emoções e alimenta a nossa imaginação. E não tem de ser a voz de quem nos é querido – embora todos saibamos como é bom ouvir a voz daqueles de quem gostamos. Mas não só. Diariamente, tornamo-nos íntimos de quem não conhecemos: companhias extraordinárias sem rosto, capazes de influenciar à distância o nosso humor, o nosso dia-a-dia.
Lembro-me de a minha mãe contar, aliviada, como era fácil adormecer-me em bebé. Quando não podia ficar ao meu lado, bastava uma pequena telefonia (sim, sou desse tempo) ao lado da minha cama, e eu ali ficava sossegada a ouvir as vozes que saiam da pequena caixa. As vozes da rádio. Parece que o gosto por ouvir vozes já nasceu comigo. A verdade é que uma boa voz, com a entoação certa, faz-nos viajar no tempo e no espaço, ao passado das nossas memórias e ao futuro que queremos alcançar. Já fiz muitas viagens assim, de olhos fechados, conduzida por vozes mágicas de atores, locutores, cantores, diseurs, de auscultadores nos ouvidos ou com o som bem alto ao meu redor. Cresci íntima de muitos sem nunca os ter conhecido pessoalmente, e fui seguindo o seu percurso profissional, enquanto tentava também aprender com eles.
Já a trabalhar como locutora, em 2023, senti vontade de lançar um podcast. Encontrar tema não foi difícil. O meu Voxy Club mais não é do que um palco para falar de algo extraordinário: a voz como uma incrível experiência dos sentidos. A primeira temporada já me permitiu conhecer ‘velhos amigos’ e, claro, apresentar melhor os ‘donos’ de vozes que nos inspiram. No meu caso, alguns nomes eram óbvios: Eduardo Rêgo, Ana Zanatti, Ruy de Carvalho, entre muitos outros, e não creio que seja preciso explicar porquê. Mas quando começamos a mergulhar neste mundo, não há fim. Todos os dias surgem novas vozes capazes de prender a nossa atenção, na publicidade, na rádio, na informação, no teatro, no cinema… numa leitura presencial. E uma nova voz não tem idade: pode ser a de um adolescente ou a de um jovem de 70 anos.
A voz toca-nos. E esta é provavelmente uma das melhores descrições da voz que eu alguma vez ouvi: a voz é o toque à distância.
No Dia Mundial da Voz cuidem da vossa. Foi para isso que esta data foi criada.
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