Hoje é dia 1 de Abril, dia das mentiras. Conhecido também no meio da política como “quinta-feira”. São tempos estranhos para pregar partidas porque parece que vivemos a maior partida de todas pregada pelo universo. Não digo que foi por Deus porque, obviamente, Deus não existe e é apenas mais uma partida pregada por humanos que gostam de controlar os outros. Bem, mas e ideias para este dia das mentiras? Os pais vão acordar os filhos e dizer “Afinal o avô não morreu de covid a semana passada!” só para depois gritarem “Ah ah ah, dia das mentiras! Está morto e bem morto!”. É uma ideia, mas não sei se justifica.
Imaginem alguém acordar hoje, depois de pouco mais de dois anos de coma. Já seria difícil convencer essa pessoa de tudo o que estava a acontecer se ela acordasse em qualquer outro dia do calendário gregoriano, mas acordando no dia das mentiras talvez fosse tarefa impossível. Seria uma conversa complicada:
- Então, Jorge, bem-vindo ao mundo dos conscientes, estiveste mais de dois anos em coma, mas a melhor notícia é que vais ficar sem sequelas e viver muitos e longos anos!
- Obrigado, Doutor, isso é que são excelentes notícias e dois anos não é muito mau, podia ser pior, o mundo não deve estar assim tão diferente.
- Mais ou menos, Jorge, mais ou menos...
- Mal posso esperar por sair do hospital e ir visitar a minha família!
- Sim, mas olha que não podes mudar de concelho.
- Como assim?
- Então, desde que ficaste em coma que o mundo foi afectado por uma pandemia e as coisas estão muito diferentes. Já morreram quase 3 milhões de pessoas no mundo.
- Três milhões?! As pessoas devem estar aterrorizadas!
- Mais ou menos, há muita gente que diz que é menos perigoso do que a gripe e não cumprem as normas, especialmente no Brasil e Estados Unidos que, por acaso, são os países com mais mortos.
- A sério? Com o Bolsonaro e o Trump no poder ninguém diria que tal fosse acontecer. E por cá?
- Olha, por cá, começámos bem, disseram que éramos um milagre, mas depois como todos os milagres foi-se a ver e era coincidência e depois ficámos um bocado na merda. O governo é uma espécie de cego a tentar jogar Fifa, é um bocado meio à parva a ver se acerta. Mas pronto, agora tudo é diferente, temos todos de andar de máscara e confinados em casa. Às vezes não se pode sair ao fim de semana nem comprar álcool a partir das 20h e ninguém percebe muito bem porquê. Bem, não se faz nada de jeito, não há discotecas nem bares, se queres que te diga foi a melhor altura que podias ter escolhido para estar em coma.
- Que desgraça, deve estar a ser terrível. E eu a pensar que ia sair daqui e tomar um café!
- Isso podes! Mas só se for ao postigo!
- Ao postigo? O que é isso? Isso não é um restaurante na Damaia? Não me fica nada em caminho e se não dá para mudar de concelho se calhar vou antes ali à máquina do hospital.
- Não te metas nisso, Jorge, aquele café é terrível, antes voltar para o coma. Toma antes um saquinho de soro.
- Doutor, estava aqui a ver televisão e diz que o Nuno Graciano é candidato à Câmara de Lisboa pelo Chega... é daquelas notícias falsas que os telejornais gostam de dar no dia das mentiras, não é?
- Pois, Jorge, não é mentira, não. É mesmo verdade.
- Porquê?
- Ninguém sabe muito bem, isto em termos políticos também mudou alguma coisa e parece um bocado mentira há uns tempos. Parece que aquela advogada de programas da manhã, aquela loira tetuda sem pescoço, esganiçada e “meio” racista, a Suzana Garcia, pode ser candidata à Câmara da Amadora pelo PSD.
- Ó doutor, nessa eu não caio! A pandemia e os milhões de mortos ainda é naquela, agora a Suzana Garcia ter o apoio do PSD? Não me engana.
- Jorge, não estou a brincar. É verdade.
- Não me diga que o Hernâni Carvalho e a Maya também vão a eleições e que o José Figueiras ganhou o Festival da Canção?
- Ah ah ah, quase, Jorge, quase, mas para já ainda não. Mas a Cristina Ferreira voltou para a TVI e está meio que a levar na pá em termos de audiências.
- A sério? Como as coisas mudam em apenas dois anos. Bem, mas o que interessa é que eu acordei do meu coma, e como o doutor disse no início, sem sequelas e vou sobreviver, não é verdade?
- Surpresa! Dia das Mentiras!
- Ah, logo vi que aquilo da pandemia, do postigo e do Nuno Graciano só podia ser treta.
- Não, não, isso é mesmo verdade, aquela parte de sobreviver é que era peta… só tens duas semanas de vida. Apanhámos-te bem! Pensavas que ias viver muito tempo? Ah ah ah!
Feliz dia das Mentiras e não se esqueçam “Vai ficar tudo bem!”.
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