O que é um podcast? perguntarão alguns dos leitores mais infoexcluídos ou, como se diz por outras palavras, os meus pais. Os “podecástes”, como diriam os mesmos, são um antigo novo meio de comunicação e entretenimento. Há quem lhe chame rádio da Internet ou vídeos sem imagem e, na maioria dos casos, são conversas longas onde o som é o meio principal, podendo ou não ter vídeo como auxiliar.
Num mundo de stories e tiktoks, de conteúdo de consumo rápido, reaquecido e fast food, os podcasts tentam equilibrar os pratos da balança. Estuda-se agora o sucesso deste formato que desafia todas as boas regras da criação de conteúdo online e, além do elemento prático de consumir apenas áudio, já que é mais fácil fazê-lo enquanto se fazem tarefas domésticas, no carro, ou a fazer exercício, há quem aponte o factor nostálgico porque a maioria dos podcasts não são mais do que as antigas conversas de amigos gravadas em cassete, mas digitais e divulgadas para quem quiser ouvir.
Em Portugal, as marcas ainda estão um pouco alheadas deste tipo de formato porque, salvo raras excepções, continuam a ter números menores do que o vídeo, imagem ou texto. Muitas marcas não percebem a relação íntima que se forma entre o ouvinte e o autor do podcast que é impossível de conseguir num vídeo viral de dois ou três minutos. Os podcasts são dos poucos formatos onde há realmente opinion makers e influencers e isto deve-se ao formato em si, à possibilidade de falar sobre um assunto em detalhe, durante longos períodos de tempo e de forma completamente livre. São talvez o único dos formatos onde é possível abordar um tema a fundo e formar e moldar opiniões. Os talk shows passaram a ser desfiles de celebridades que, muitas vezes não têm nada interessante para dizer e só lá vão para promover o novo livro, peça ou filme. Dez minutos de conversas inócuas onde, normalmente, as perguntas e respostas são as mesmas desde aquela vez que o convidado foi ao seu primeiro talk show nos anos 90.
Além de tudo isto, penso que o sucesso dos podcasts resida na liberdade do formato. Censuram-se piadas e opiniões no Facebook, reportam-se contas no Twitter, denunciam-se vídeos no YouTube, mas o podcast parece ser o último bastião da plena liberdade de expressão na Internet, com todo o bom e mau que isso tem. Se alguém quiser espalhar ideias xenófobas e racistas, um podcast é um bom meio. Não quero estar a dar aqui ideias ao André Ventura. A verdade é que há podcasts que pode influenciar decisões. O maior podcast do mundo é o Joe Rogan Experience, do comediante norte-americano Joe Rogan, que conta com milhões de ouvintes, capaz de condicionar a opinião pública e, dizem, até de poder influenciar decisões políticas e eleitorais. Por algum motivo o Spotify pagou cerca de 100 milhões de dólares pela sua exclusividade.
Por cá, estaremos sempre longe desses valores e de se tornar num negócio milionário, mas começa a ser um nicho de grande escala. Na verdade, serve esta crónica principalmente para sugerir podcasts que acho interessantes e que, como não há discotecas este verão, podem dar jeito para passar o tempo:
Sem Barbas Na Língua – dois gajos a conversar, um deles um escritor de renome, com passado jornalístico credível, culto e bem preparado, o outro sou eu.
Por Falar Noutra Coisa – a minha rubrica das manhãs da Antena 3, agora extinta, mas onde podem ouvir mais de 140 crónicas publicadas no último ano e meio.
Hotel – uma espécie de radionovela da autoria de Luís Franco-Bastos, diferente e único no panorama dos podcasts portugueses.
Maluco Beleza – podcast de entrevistas e conversas do Rui Unas, talvez o precursor de todos os podcasts em Portugal (juntamente com a Prova Oral) e um exemplo de sucesso comercial.
Ask.TM – o podcast do humorista Pedro Teixeira da Mota, provavelmente o mais ouvido em Portugal e com números que extravasam o nicho do podcast.
Ar Livre – do Salvador Martinha e que foi dos primeiros em Portugal com o formato “falar sozinho para o microfone durante meia hora”.
O humor é rei no reino dos podcasts, mas existem outros tipos de formatos interessantes como o 45 graus, Perguntar não ofende, Fumaça, e uma série de outros Seria impossível listar aqui todos os podcasts interessantes, mas aqui ficam mais uns: Psichoterapia, Terapia de Casal, Sozinho em Casa, FUSO, Segundo, O Podcast do Paulo Almeida, toda uma série de outros que podem ver nesta lista.
Para ouvir: os podecástes sugeridos no texto, especialmente os meus.
Comentários