Num mundo cada vez mais dominado pelas redes sociais e afins, eis que um estudo de mercado da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros nos mostra que, afinal, o negócio dos livros está vivo.

Se nas vésperas da pandemia, em 2019, tivemos 18 916 livros novos disponíveis no mercado, em 2022 esse número subiu para 21 115. Portanto, podemos dizer que estamos bem. Estamos? Todas as semanas saem, em média, extrapolando destes números, 406 volumes novos. Isto quer dizer que os livreiros podem mudar montras e escaparates e promover novidades sistematicamente, o que significa que o fundo de catálogo das editoras é submerso pelas novidades, razão pela qual entramos em algumas livrarias e não dispomos de uma colecção completa de livros de um determinado autor.

Não há espaço físico para tudo. Tão-pouco existe uma política de promoção do que já foi publicado há muito tempo. Para os escritores, posso afiançar, é uma frustração tremenda, por vezes dá ideia de que os livros simplesmente foram eliminados. 

62% dos portugueses afirmam comprar livros. Não sei qual a amostra deste estudo de mercado, nem que zonas do país abrangeu, mas a verdade é que, ao ler este estudo, perco um pouco menos de fé no mercado livreiro e nos consumidores.

Que livros compram os portugueses? Voltei a pasmar, porque a indicação é de que o romance é o género literário que mais atrai (69%); o infanto-juvenil representa 50% do consumo e o romance histórico 52%. Para os mais adeptos das tecnologias, aquelas pessoas que advogam as maravilhas dos e-books e afins, compreendo que não terão grande sorte, porque os portugueses gostam mesmo é de papel (!), já que 99% compram livros em formato físico e apenas 8% em formato digital. Estamos, assim, muito à frente em certas coisas, noutras nem tanto.

A larga maioria compra em lojas físicas (88%), sendo que em Lisboa o consumo cresceu, mas no Porto diminuiu (chegou mesmo a um valor negativo). O mesmo estudo declara que 82% compram livros para consumo próprio, e que os que mais compram têm entre os 55 e os 74 anos de idade (87%). Comparado com o ano da pandemia, 2022 revela que 28% compraram mais livros, e 40% adquiriram o mesmo número de livros. 

Sabem o que estranho? Entrar no metro e não ver ninguém com um livro; ir à praia e ver tudo agarrado ao telemóvel, da avó ao neto (ok, podem estar a ler um e-book, mas os tais 8% fazem-me pensar que talvez não seja isso); entrar numa livraria, com dimensão considerável, e perceber que o departamento de jogos está muito mais bem servido, de público, do que os escaparates da literatura.

Não quero ser Velho do Restelo, acredito piamente nos dados agora fornecidos pelo estudo, não tenho como não acreditar e respeito o trabalho desenvolvido pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, mas que aqui há qualquer coisa que me ultrapassa, há.

Como escritora, oiço as queixas dos editores e são sistemáticas: os livros não vendem, as vendas são fracas, não há como pagar adiantamentos aos autores, é tudo difícil, não é possível apostar em Literatura (atenção que o estudo não classifica o género romance como Literatura, podemos estar apenas no domínio do romance de cordel, é verdade). Talvez as vendas sejam fracas pela impossibilidade de o livro viver tempo suficiente nas livrarias, em espaço com visibilidade. Será isso? Publicamos de mais? Eis algumas perguntas que, para o futuro da história da leitura em Portugal, talvez tenham importância.