Pois bem, ela aí está. Para já, são 12 emblemas a fazerem parte deste "capricho" de gente rica. Terá no total 20 equipas, sendo que 15 são fixas e cinco entram por convite.

Surgem de Itália, Inglaterra e Espanha. Acenam com uma bandeira de 92 troféus e alegam representarem o desporto amado por quatro mil milhões de fãs. A todo-poderosa estrutura é liderada por Fiorentino Pérez, presidente do Real de Madrid e Andrea Agnelli (ex-Juventus).

A desculpa, é a mesma de sempre: a necessidade de receitas. No outro lado (perverso) da moeda está a outra não menos habitual conversa: vamos ajudar à sustentabilidade do futebol europeu. A tal pirâmide que mais não é do que a perpetuação das Cleópatras da bola no topo. Por fim, a justificação que, aos olhos de quem criou, poderia não merecer contestação. A pandemia. O mal que veio justificar a bondade desta ação de recuperar as finanças depauperadas que a Covid-19 destapou.

Primeiro que tudo, não ajudará sustentabilidade nenhuma. Agravará e cavará o já existente fosso. Uma aberração que aprofunda a morte de um desporto outrora chamado futebol, que ganhou, nos anos recentes, o apelido de "negócio".

Depois, não há bondade na ação. Há sim, um braço que se atira à boia de salvação. E mais não é do que uma demonstração de instinto de sobrevivência de quem ainda consegue financiar-se para dar continuidade à loucura por si iniciada.

Durante os anos recentes, as gigantescas injeções de capital vindas de pontos seletos do globo tem servido para acompanhar os galopantes ordenados sem teto de uma pequena elite. Mas, nem sempre, as receitas acompanham os desvarios. Querem mais.

Por isso, estes acionistas destes 12 clubes encontraram na porta dos fundos a solução. Uma casa de póquer onde os mesmos de sempre se sentam à mesa para brincarem ao jogo da bola. Um jogo fechado para o qual convidam quem querem e não quem poderia estar por mérito desportivo.

Como são meninos ricos e caprichosos (a bola é minha e ora ganhas, ora ganho eu) recorreram a um papá que não olha a meios para deixar os "donos da bola" felizes no jardim. Garantiram um financiamento do JP Morgan na ordem dos 4 mil milhões de euros. Ou seja, biliões de euros para dividir entre uma dúzia de clubes. Logo, não é a pirâmide que se trata, como escrevi atrás. É garantir que sejam eles os ocupantes lá em cima.

A concretizar-se (a guerra jurídica começa dentro de momentos) esta Clubehouse mais não serve do que para alimentar os bolsos de quem tem capacidade e saldo sem limite para investir, afastando, desta forma, quem não tem.

A SuperLiga não é uma competição para o povo e pelo povo que ama o futebol. É contra o povo que escolheu o futebol como o desporto mais amado no planeta. Representa a morte do que o futebol deve ser. Uma competição que deve ter por base o mérito desportivo.

Este "grupinho à parte" nasce aproveitando-se desse desporto pensado para o povo e alimentado pelo povo. Este capital humano que se renova e o transformou em desporto-rei a partir das memórias vivas dos golos e vitórias. E não pelo capital que gera.

Aguardo com natural expectativa a reação do simples adepto. Eu, nessa qualidade, sou contra. Não quero ver durante 10 anos jogos em que o Liverpool elimina o Real de Madrid ou a Juventus vence o Barcelona. Quero ver o Nottingham Forrest vencer uma competição europeia eliminando um deles. O Celtic. Ou um Atlético de Bilbao. E, já agora, um Sporting, Benfica ou Porto.

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