Muitos têm uma queixa comum: não sei onde conhecer pessoas novas, a minha vida amorosa não desemburra, estou encalhado(a). Nos anos 80 do século passado conheciam-se pessoas no Bairro Alto, em Lisboa, e outros pontos similares em outras cidades, dizem os mais saudosos; nos anos 90, o local de eleição eram os ginásios. Agora... no pós-pandemia, a reclusão social impôs-se de uma maneira subtil. Jantamos mais cedo, recolhemos a casa antes da meia-noite, as noites loucas de convívio não são o que eram.
Talvez esta queixa seja apenas de uma geração muito específica, mas acontece que, entre os 40 e os 50 anos, homens e mulheres estão muitas vezes – para usar o verbo anteriormente aplicado –, encalhados. Alguns com filhos. Outros apenas solteiros, separados ou divorciados.
E como acontece o amor nesta época de satisfação imediata e de enorme velocidade? Acontece com dificuldade, digo eu, porque a maior parte das almas não está disposta a um compromisso. Uma coisa pragmática é sexo: para isso as aplicações servem às mil maravilhas, embora possam comportar certos riscos (basta pensar um bocadinho sobre como pode correr mal, para uma pessoa se encolher e optar por ter uma relação especial com o comando da box de streaming).
E outra coisa, um pouco mais partilhada, mais afectuosa? Amor? Ah, a quanto obrigas. Conhecimento, partilha, intimidade, resiliência, capacidade de ouvir as mesmas histórias um milhão de vezes, reunião de duas famílias que podem chocar com uma facilidade incrível (uns são do Benfica, outros do Porto; uns são superiores por serem de esquerda, outros incrivelmente mais inteligentes por serem de direita; uns são ateus convictos e não acreditam no pensamento mágico, outros vão à missa ao domingo ou seguem os preceitos do Islão e têm de gerir os preconceitos e ideias feitas; uns defendem Israel, outros a Palestina sem conseguir criar pontes e por aí fora, dando razão à ideia de que o inferno são os outros). As famílias, convenhamos, ainda assim podem ser o pior deste cenário de iniciar uma relação com alguém novo.
Quando se tem entre 40 e 50 anos, uma pessoa não se apaixona com facilidade. Mas também não se ilude. Sabe o que quer, pelo menos espera-se que sim. As exigências são muitas. As mulheres, por exemplo, têm estudos, são financeiramente independentes, já não estão dispostas a cumprir um papel exclusivo de cuidadoras.
Na semana passada começou uma onda de promoção de encontros no supermercado. Tem a sua graça como golpe publicitário. Faz-nos pensar e, de novo, regressam as queixas de homens e mulheres que estão em terra firme e a sonhar com o mar alto. Soluções? Pelos vistos, pode ser que se encontrem soluções entre o ananás e a garrafa de vinho. Ou talvez seja mais prático pensar que estamos a redefinir os padrões amorosos e que o modelo do casal tradicional já não faz tanto sentido. Começaram as listas sobre as diferentes formas de relação, aquelas que estão para lá da clássica monogamia. A felicidade não vem na bula de um medicamento, portanto tudo é possível. Assim as pessoas tenham cabeça para tanto.
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