A reportagem centra-se na realidade de cinco jovens refugiados, afegãos, menores, e na sua vida em Portugal, ou como o Estado falhou, apesar de se ter congratulado por ser bonzinho e cheio de boas intenções.
O nosso país tinha-se disposto a receber 95 jovens refugiados. Jovens que viveram o pesadelo da guerra, da morte; jovens com vivências traumáticas e com realidades inimagináveis para tantos de nós. Eram 95 jovens, mas o Estado português acolheu à laia de teste tão somente cinco e ainda bem, porque a forma como os recebemos é, no limite, uma vergonha para o Estado, para todos nós.
Por que carga de água é que queremos ter um discurso de responsabilidade social se não conseguimos cumprir? Por que carga de água louvamos a nossa disponibilidade e bom coração se depois descartamos as pessoas que acolhemos?
Não temos resposta, ninguém tem. O que a reportagem da SIC mostra é que falhámos a todos os níveis porque não soubemos integrar ou perceber a realidade dos jovens acolhidos, soubemos sim colocá-los numa espécie de gueto, suavizando a má consciência com o argumento de que a Segurança Social paga mensalmente uma quantia certa para viverem neste país à beira mar plantado.
O resto? Pois, parece que o resto não importa muito. Parece que os professores com quem os jovens contactaram ficaram muito incomodados por não serem jovens padronizados e constantes no seu comportamento (qual é a admiração?). Parece que o melhor que conseguimos foi deslocar um dos jovens para uma instituição que acolhe pessoas com deficiências e perturbações mentais. Pior ainda, temos estes jovens sem projecto, sem orientação, sem uma pátria ou família e escolhemos ignorar.
A reportagem da SIC, que demorou quatro meses a ser feita e comprova a urgência do jornalismo de investigação com meios para se designar como tal, mostra isto e mais. Mostra ainda que os mesmos jovens, perante o interesse do jornalista, foram ameaçados pela Segurança Social, pois isto de falar para a comunicação social é mesmo uma grande chatice e pode causar problemas.
Quem viu a reportagem deve ter morrido de vergonha, como aconteceu comigo. O Governo deveria agir imediatamente, a Segurança Social, as pessoas que tomam conta destas matérias, deveriam ser ouvidas no espaço público e avaliadas as suas acções ou não-acções. A reportagem passou já há uns dias, ninguém fala no assunto. A realidade tenebrosa de cinco jovens não pode durar apenas um ciclo noticioso, uma curta onda de indignação. Os jovens mereciam melhor, o nosso Estado deveria ser melhor.
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