Uma mochila e um leque de cabedal que, à primeira vista, parecem feitos de um cabedal tão comum quanto qualquer outro. Depois de tocar não há nada que desvende que se trata de cabedal vegano e não de origem animal. Apenas o cheiro e a reduzida pegada de carbono denunciam esta startup japonesa. Olívia é a responsável de marketing e vendas da Peel Lab, e explica ao SAPO24 que aqueles produtos são feitos a partir de cabedal feito através de folhas de ananás. Depois, a Peel Lab vende essa matéria-prima a outras empresas que a transformam em móveis, roupa ou outros produtos com variados designs. Em funcionamento desde fevereiro de 2021, este ano vendeu para mais de 50 clientes que transformam a sua matéria-prima em diferentes designs.

Olivia não tem dúvidas que no topo das vantagens está a diminuição da pegada de carbono, em comparação com couro de origem animal, por exemplo. Embora a empresa tenha ADN japonês, as quintas de produção de ananás são no Vietname. Colocando-se aqui o problema de vendas no Ocidente por causa do transporte entre dois continentes e o que isso representa na poluição, para uma empresa que quer reduzir emissões, uma vez que agora toda a indústria produtora e transformadora está na Ásia. E, portanto, Olivia deixa o repto "se houvesse quintas, fábricas e clientes interessados na Europa seria perfeito".

Olívia realça a durabilidade do produto, como outra das vantagens e também o facto de ser impermeável e resistente a salpicos. "E, também, ao fazermos isto conseguimos reduzir o preço da matéria-prima cerca de 30%, comparando com o cabedal de origem animal", explica. A empreendedora traça um cenário onde se compara o cabedal de origem animal, o sintético, o de origem vegetal mais comum e o de ananás em particular. E não tem dúvidas, "se forem todos ao mesmo preço as pessoas vão escolher, aquele que tem mais histórias".

Um pavilhão ao lado do de Olívia, e uns continentes depois, João Machado também quer salvar o planeta uma gota de cada vez. E a vontade é de tal forma forte que o explana no nome da sua empresa, Savearth.

Começa por explicar, num misto de indignação e incredulidade, que "neste momento, dois biliões de pessoas não têm acesso a água. Em 2050, se continuarmos sem fazer nada, vamos chegar aos cinco biliões. E nós não fazemos nada, continuamos na mesma. Mesmo sendo os nossos hábitos os responsáveis por esta situação."

Hábitos tão simples que podem ser alterados, como se ensina no início da vida escolar. "Por exemplo, tomar banho, em média nós consumimos cerca de 50 litros de água por banho. Se uma pessoa viver até aos 70 anos, vai consumir o equivalente ao rio Tamisa."

João combina a energia típica de um jovem que acredita na sua startup e de um jovem que quer salvar o mundo. Propõe-se a construir um dispositivo que informa os consumos durante o banho. "Com esta informação as pessoas podem tomar um eco shower, um banho responsável, que deve ser abaixo de 35 litros". Mas a grande vantagem da sua proposta é que os clientes podem poupar e ganhar dinheiro com este dispositivo, que "atribui tokens na conta das pessoas para que elas depois possam trocar por descontos, experiências, promoções ou até doar a ONG que combatem a escassez de água."

Esse dispositivo, que custará entre 25 e 30 euros, ainda existe apenas em protótipo. "A empresa ainda está em fase de incubação, estamos a criar uma lista de espera de encomendas e daqui a seis meses esperamos poder estar a criar os dispositivos".

Mesmo nesta fase embrionária o empreendedor não tem dúvidas do sucesso que o espera, "abaixo dos 35 litros começa logo a ganhar algum volume de tokens, quanto mais poupar mais ganha. O conceito que nós desenvolvemos aqui é save to earn, poupar para ganhar". Mais do que ter uma empresa de sucesso, João Machado quer também "mudar pensamentos" e acredita que "este é o momento certo para este tipo de projetos. Primeiro a tecnologia de web3 está pronta, as pessoas e os governos estão mais dispostos a acompanhar estes projetos e a investir neles", e deixa para o fim aquela que é a sua maior motivação, "é mais urgente que nunca".

O jovem acredita que "podemos fazer diferença gota a gota", tanto nas casas dos clientes, como em consumidores maiores como ginásios. E traça uma visão de futuro, "com 10 mil dispositivos vamos ser capazes de poupar 20 milhões de litros por ano. O ambiente ganha e o consumidor também que fica com uma conta de água mais barata".

Se João se foca nas pequenas decisões do dia-a-dia, Gorjan Jovanovski, CEO e cofundador da EarthCare.ai, veio da Macedónia atrás de parcerias para um projeto mais ambicioso. De forma simples e direta resume-o ao SAPO24, "estamos a transformar a forma como os negócios têm acesso e usam os espaços ambientais, com base em dados climáticos."

Ele e o seu sócio aperceberam-se de um padrão difícil de ultrapassar, a dificuldade em aceder e em perceber dados climáticos. "As empresas precisam de dados climáticos - desde as empresas de seguros, de agricultura, imobiliário ou retalho - mas têm dificuldade em aceder. Porque além de haver muita informação, está fragmentada, no governo, nos satélites etc. É uma loucura." Por isso, a EarthCare.ai agrega toda esta informação de várias fontes numa plataforma única, no mesmo formato e linguagem. "Permitimos a estas empresas tomar decisões com base em informação", resume.

Uma das grandes vantagens diz ser o facto de a informação estar percetível quer se seja especialista, ou não, e assim as empresas podem fazer a análise de risco ambiental para os seus investimentos. "Seja saber se compensa construir num sítio ou a probabilidade da sua produção inundar. Mas também tomar decisões a curto prazo durante esta crise climática que estamos a viver, ajudar as pessoas a prevenir e a preparar-se. E, claro, tornar o mundo mais seguro."

Da Web Summit esperam "conectar com o máximo número de pessoas possível. Mas também encontrar parceiros que estejam disponíveis em trabalhar connosco". Nesta fase inicial de desenvolvimento estão já a trabalhar com a Alemanha e a Suécia, mas o objetivo é crescer e alastrar.

*Artigo corrigido às 8h20, de dia 15 para alterar o local de produção de ananás