Com a seleção portuguesa a sagrar-se, em julho deste ano, campeã mundial de hóquei em patins, batendo a Argentina numa final emotiva, com o guarda-redes Ângelo Girão a ser a chave para o sucesso, o professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), Mário Vaz, acredita que agora é o momento ideal para lançar no mercado um novo capacete destinado aos guarda-redes de hóquei em patins que garanta a proteção dos atletas no momento de defender bolas que podem atingir velocidades “superiores a 100 quilómetros por hora”.
“Estou convencido que, com um parceiro industrial adequado, se começarmos de imediato, é perfeitamente possível em 2021 ou 2022 colocarmos no mercado um produto comercializável", avançou à Lusa Mário Vaz, um apaixonado de hóquei em patins e que trabalha também no Laboratório de Biomecânica da Universidade do Porto (Labiomep).
A paixão que nutre pela modalidade do hóquei em patins, levou Mário Vaz, também investigador do Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI), a debruçar-se nos últimos 10 anos em vários projetos que têm sido realizados no INEGI e no Labiomep. A criação de um capacete para a modalidade com uma maior capacidade de proteção dos atletas é o mais recente projeto.
Após várias experiências científicas e testes com um canhão pneumático para disparar bolas a mais de 100 quilómetros por hora, estudos de impactos com as viseiras em uso e registos de vídeo de alta velocidade para verificar os danos e simulações em computador, este engenheiro mecânico de formação, e conjunto com a sua equipa multidisciplinar de investigadores, conseguiu desenvolver um protótipo do capacete, inspirado nos modelos do hóquei no gelo.
O próximo passo é encontrar uma empresa que queira investir no hóquei em patins, uma “modalidade que sempre foi muito acarinhada em Portugal” e que está “nitidamente em crescimento”, obtendo até financiamento europeu para desenvolver o produto para o colocar no mercado.
“O que é preciso realmente é que haja um parceiro, que olhe para o hóquei em patins como um desporto que lhe interesse e que olhe para o mercado mundial e não apenas para o mercado nacional. Há empresas que estão a fazer isso, que estão a trabalhar connosco, nomeadamente a Azemade”, empresa de Oliveira de Azeméis, em Aveiro, líder mundial no mercado em ‘stiques’.
Os atuais capacetes dos hoquistas podem sofrer fraturas com os impactos da bola e provocar lesões na testa, olhos, orelhas, queixo ou na articulação temporomandibular, articulação fundamental que permite mastigar e falar. Em média, os guarda-redes partem dois a três capacetes por época e estão expostos a lesões que podem ser graves, alerta o investigador.
“No último campeonato do mundo, com o guarda-redes da seleção portuguesa, Ângelo Girão, apercebemo-nos de que a proteção faz de tal forma parte do corpo do atleta que ele até se esquece que pode ser perigoso meter a cabeça, sempre que necessário, na frente da bola e é preciso criar condições para que não haja um risco”, descreveu.
O investigador observou também que era “importante” que as próprias federações garantissem aos atletas uma maior proteção, porque há seguros de acidentes associados e esse problema deve ser “pensado logo desde a primeira hora”.
O novo capacete não permitirá levantar a viseira, pois essa é uma das "debilidades da atual solução", refere o especialista.
Dessa forma, o atleta, à semelhança do que acontece no hóquei no gelo, deverá retirar todo o capacete da cabeça puxando-o para cima, uma forma de aumentar a proteção da zona da articulação temporomandibular , explicou.
“Ao evitar esta articulação, fazemos com que a carga resultante dum embate da bola na zona do queixo seja transmitida diretamente à parte superior, à cabeça e não à articulação, o que será mais eficaz na proteção do atleta”.
Há 50 anos os guarda-redes de hóquei em patins não tinham proteção da cabeça e era muito frequente os atletas terem dentes e queixos partidos ou mesmo lesões fatais.
Nos dias de hoje, com a melhoria das condições de treino no hóquei em patins, em que os guarda-redes são treinados de forma a defenderem com a cabeça bolas para a área superior central da baliza, e com a velocidade da bola cada vez mais elevada, com energia superior às que o atual o equipamento admite em segurança (136 quilómetros por hora de velocidade máxima medida) Mário Vaz acredita que é essencial encontrar novas soluções para os atletas não correrem riscos de vida.
O projeto do capacete teve como coordenador Mário Vaz, mas resultou do trabalho de um equipa multidisciplinar que contou com a apoio de elementos da Faculdade de Engenharia, Medicina Dentária, do Labiomed, do INEGI e do Mestrado em Design Industrial.
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