“Os atletas são pessoas e muitas das vezes pensamos que, por via da sua ligação ao alto rendimento, têm de ser máquinas. E não são. A felicidade das pessoas vai ser o fator mais importante para as performances desportivas e muitas vezes fazemos ao contrário”, observou Pedro Roque, em declarações à Lusa.
A propósito das mulheres que, regra geral, em Portugal abandonam a alta competição quando engravidam, o responsável do COP entende que a tendência desse legado é a mudança através de “ajustes” e articulação entre os vários intervenientes.
“Há a maternidade enquanto estão grávidas até ao parto e depois os primeiros meses com a amamentação. É preciso fazer um plano conjuntamente com treinadores, clubes e federações, para isso ser sustentável com sua vida pessoal a longo prazo. Caso contrário, as carreiras têm tendência a acabar em altura em que as atletas ainda têm muito a dar ao desporto”, avisou, assumindo que, atualmente, “estão a ser dados passos nesse sentido”.
Como exemplo, deu a canoísta Joana Vasconcelos que está nos Mundiais de canoagem da Alemanha a competir em K2 e K4 500 metros, lutando pelo apuramento olímpico continuando a amamentar a sua filha, que a acompanha em Duisburgo, Alemanha, tal como o seu marido, igualmente presentes durante os vários estágios da época.
“Há uns anos havia o mito de que para as mulheres era muito difícil serem mães e atletas, enquanto amamentam. O caso da Joana e outros permite-nos perceber que é possível, assim haja vontade da desportista e das organizações por detrás que a possam ajudar a tomar essas opções”, exemplificou, considerando que várias federações já se preparam para essa realidade.
Voltou a pegar no caso de Joana Vasconcelos e do também canoísta Fernando Pimenta, que, por vezes, partilha alguns dias de estágio com a mulher e dois filhos, mantendo os entes queridos por perto, com assumidos ganhos emocionais e motivacionais.
“Encontraram um conjunto de pessoas com entendimento e compressão para este fenómeno e cujo exemplo vai ajudar outros, competidores e organizações desportivas, a encontrar soluções para a continuidade das carreiras”, desejou.
Pedro Roque recorda que a longevidade das carreiras “não pode estar desfasada do projeto de vida dos atletas”.
“É possível chegar aos 30 e tal 40 anos com bom nível desportivo, conciliando o alto rendimento com a vida pessoal”, sentenciou.
Ricardo Machado, vice-presidente da Federação Portuguesa de Canoagem para o alto rendimento assuma que a situação de Joana “também é novidade” para o organismo, que está a tentar “conciliar da melhor forma possível a sua vida pessoal com as suas obrigações, dentro das regras definidas para uma seleção nacional”.
“Até agora, está a ser satisfatório para ambas as partes. Ter sido mãe não interfere com o seu desempenho e obrigações, cumpre com o planeamento e plano de treinos. Como é obvio, há alguma articulação, cedências… para que haja maior estabilidade emocional com a presença da filha, saber que está bem”, completou.
João Tiago Lourenço, treinador de Joana Vasconcelos no K2 e K4 500, diz que o cenário do desporto internacional “está a mudar”, uma vez que nas provas femininas começa a ver mais crianças e os pais.
“Nos Jogos Europeus abriram uma exceção e viram-se três ou quatro crianças na aldeia olímpica, quando antes só entravam uma ou duas horas e não podiam ficar. As coisas estão a mudar um pouco, apesar de ser difícil de conciliar, para elas e para os treinadores, uma vez que nem sempre a disponibilidade é igual”, disse, exemplificando com as típicas noites mal dormidas normais com bebés.
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