Faz hoje uma semana que Google e Apple anunciaram a parceria para lançar uma solução conjunta que permita rastrear as cadeias de contágio de covid-19. Não é uma ideia original, mas por ser apresentada por quem é pode tornar-se global.
A ideia é simples e passa por tornar digital o processo que os médicos fazem pessoalmente quando alguém testa positivo. Consiste em identificar as pessoas com quem se pode ter estado em contacto de forma a monitorizar a situação de saúde e prevenir futuros contágios.
Como é que funciona? A aplicação pede aos utilizadores que registem - diariamente - como se sentem, respondendo a questões sobre os sintomas de covid-19. Todos os utilizadores que usem a aplicação têm informação partilhada, de forma anónima, o que permite, mediante o uso da tecnologia de bluetooth, que quando alguém testa positivo, as outras pessoas com que se cruzaram (dentro do universo de utilizadores da aplicação) recebam uma notificação para avaliar o estado de saúde junto de uma equipa médica.
Isto é, na prática, o que os médicos fazem presencialmente cada vez que têm um paciente infetado. Perguntam com quem esteve, onde esteve, de forma a poderem localizar as pessoas em causa e avaliar o seu estado de saúde - passo que é fundamental para controlar as cadeias de contágio.
As vantagens de fazer este processo com uma aplicação é que a escala é maior e também mais precisa, já que cada pessoa não sabe em precisão todos os contactos possíveis que teve, nomeadamente com pessoas que não conhece - mas com as quais pode ter partilhado um mesmo espaço.
Mas não são só vantagens. Colocam-se questões sobre os temas de privacidade e de gestão da informação sobre o estado de saúde de cada utilizador, mesmo que as tecnológicas garantam ética e cumprimento da lei em ambas.
Outro problema adicional é ainda a discussão sobre o que o uso que os estados, nomeadamente autocráticos, podem fazer com soluções como esta.
Já agora, Apple e Google são Apple e Google mas não são, de todo, os únicos. Tão pouco em Portugal, onde o projeto Covidografia, que resultou do movimento Tech4Covid19, arrancou em março como ferramenta para ajudar as autoridades de saúde a identificar as zonas potencialmente mais afetadas pela covid-19 e que se prepara agora, numa segunda etapa, para ter também a avalência de rastreio das cadeias de contágio. (Na próxima semana este será um dos projetos convidados da série especial do The Next Big Idea a partir de uma conversa com o Rui Costa, um dos mentores e responsáveis da iniciativa que desenvolveu todo o trabalho a partir de casa num dos concelhos mais afetados do país, Ovar).
Last, but not the least. Para que estas apps resultem em melhor controlo do contágio, é preciso que muitas pessoas as usem. Os dados de Singapura, um dos países que implementou uma solução com estas características, são que apenas 1 em cada 6 pessoas instalou a aplicação que, ainda assim, é vista como tendo sucesso no país.
Nota da redação: Este artigo foi editado a 22 de abril para corrigir a informação sobre a forma como funciona o projeto Covidografia que só em maio deverá evoluir para aplicação de rastreio.
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