Trata-se de “uma loja onde queremos permanentemente estar a introduzir experiências, tecnologias, gamas de produtos”, afirmou o responsável.
“Somos a primeira marca europeia a abrir uma loja sem caixas”, afirmou o diretor de inovação e transformação digital, salientando que apenas a norte-americana Amazon tem um conjunto de lojas nos Estados Unidos e no Reino Unido a funcionar com um conceito semelhante.
O investimento total, com obra, equipamentos e tecnologia, “ultrapassou um pouco um milhão de euros”, referiu Frederico Santos.
A loja, com uma área de venda de 150 metros quadrados, tem “20 quilómetros de cabos de rede” instalados e está equipada com “cerca de 230 câmaras no teto e mais de 400 sensores de prateleira”, que associam os produtos recolhidos (e devolvidos) das prateleiras por cada cliente, criando carrinhos de compras virtuais, sendo o pagamento processo automaticamente através do cartão associado.
Para fazer compras nesta nova loja, é preciso descarregar uma aplicação — Continente Labs — no ‘smartphone’ e ter um cartão de débito ou de crédito associado e os dados de faturação para emitir a fatura eletrónica.
“Existe uma aplicação, que é o Continente Labs, que suporta na aplicação do cartão Continente, que já quase um milhão e meio de clientes têm e que, numa aplicação ou noutra, é possível configurar” para fazer um pagamento, explicou.
Depois de tudo configurado, basta abrir a aplicação Continente Labs, a qual exibirá um código (QR Code). Este código é lido à entrada, na zona do torniquete, que após a leitura do mesmo abre e o cliente só tem de guardar o telemóvel e não se preocupar com mais nada, a não ser com as compras.
Ao iniciar as compras com o retirar dos artigos das prateleiras, em tempo real começa a ser construído o seu carrinho virtual, através da tecnologia de inteligência artificial da Sensei, ‘startup’ portuguesa e parceira deste projeto.
A tecnologia ‘machine vision’ acompanha a posição do cliente ao longo da loja, sem utilizar reconhecimento facial, garantiu Frederico Santos, que explicou que os sensores conseguem perceber qual o artigo tirado da prateleira, se foi devolvido ou pousado numa zona diferente.
Por baixo da loja está um ‘data center’ (centro de dados) potente que “está permanentemente a processar informação”, disse.
Depois das compras feitas, basta ao cliente sair da loja, sem ter de apresentar mais nada, e “ir para casa”.
Entretanto, a Sensei envia o carrinho de compras virtual para o Continente, que processa a faturação e emite a fatura eletrónica.
Mas e se houver algum problema com os artigos? Não há problema, porque a aplicação tem uma funcionalidade que permite reclamar.
“Guardamos as imagens de interação durante o período de devolução normal de 15 dias, até porque somos obrigados pelo próprio RGPD [regulamento sobre proteção de dados]”, que prevê que haja uma pessoa a avaliar aquilo que aconteceu no caso do cliente fazer uma reclamação.
A funcionar, numa fase inicial, entre as 12:00 e as 21:00, seis dias por semana, a Continente Labs vai contar com seis pessoas na loja: é preciso alguém para receber a mercadoria, colocar nas prateleiras, repor o ‘stock’ e garantir a higiene e segurança na operação, entre outros.
Por exemplo, se um cliente pretender comprar álcool, como a prateleira está fechada, terá de recorrer a um dos colaboradores da loja para aceder ao produto.
Caso um cliente deixe um artigo na prateleira errada, os colaboradores recebem essa indicação na aplicação.
Sobre replicar o conceito, o responsável disse não ter “planos para isso” neste momento.
“Não tenho dúvida alguma de que isto é parte do futuro da experiência de compra, estou super convencido disso”, esta “solução é a base de experimentação sobre a qual vão surgir as soluções certas”, salientou.
Em termos de proteção de dados, a “confidencialidade do cliente é garantida”.
A Sonae MC com o Continente e a Sensei, enquanto operador de tecnologia, têm “contratos muito claros entre as duas entidades em que clarificam a forma como são tratados os dados de cliente e foi uma preocupação desde o início do projeto desenvolver uma solução para que potencie a confidencialidade dos clientes”, disse.
Quando o cliente entra, é criado um número aleatório, que a título de exemplo vamos identificar como 425. O Continente informa à Sensei que o cliente 425 entrou e esta é a única informação que a tecnológica obtém. Quando o cliente faz as compras e sai, a Sensei informa a retalhista de que o 425 saiu e qual é seu carrinho virtual (artigos que comprou).
“Esta separação completa permite que nenhum de nós tenha informação sobre o cliente que não é suposto ter, a própria Sensei não guarda nenhuma imagem do que o cliente faz na loja se não estiver a interagir com produtos, só guarda imagens quando o cliente interage com a prateleira”, asseverou Frederico Santos.
O Continente Labs, cujo projeto começou há dois anos e envolveu “quase 100 pessoas” do lado da Sonae MC, é inaugurado na quarta-feira.
Localizado no centro Lisboa, mais concretamente na rua D. Filipa de Vilhena, além de supermercado Continente onde os clientes podem fazer compras, pretende também ser “um laboratório vivo” com “tecnologia 100% portuguesa”.
A sua localização reúne vários perfis de consumidores: desde a população estudantil (ao pé do Instituto Superior Técnico), à profissional, que trabalha nos escritórios circundantes, como ao conjunto de residentes variados.
“Esta é a primeira versão da loja”, disse, admitindo a possibilidade de no futuro alargar a opção de pagamento.
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