Quem acompanhou as notícias em Portugal, nos últimos dias, poderá ter reparado que se sucederam os comunicados de diferentes companhias áreas a justificarem o cancelamento dos voos. Em Lisboa, que recebe uma maior percentagem dos voos direcionados a Portugal, foram canceladas mais de 130 viagens aeronáuticas e muitas foram ainda obrigadas a mudar o seu destino para Faro e para o Porto.

A situação é indesejada para todos os intervenientes:

  • Os viajantes, no primeiro verão sem grandes restrições, veem as suas férias estragadas ou por não conseguirem ir para o destino que queriam ou por terem dificuldade em regressar ao seu dia-a-dia;
  • As companhias aéreas, que depois de dois anos a sangrar, esperam que o primeiro verão “mais normalizado” lhes pudesse dar uma estabilização ou aumento de receitas;
  • Os próprios países que veem em cada voo cancelado uma oportunidade perdida de fomentar o seu produto turístico, seja através de experiências, restauração ou estadias em qualquer tipo de alojamento.

Mas isto está longe de ser um problema só português, apesar de todas as críticas que podem ser apontadas aos aeroportos e de algumas polémicas que também marcaram a agenda política este fim de semana.

Olhando para o Velho Continente

Na Ásia, continuam a observar-se uma série de vagas de Covid-19 que aumentam as restrições para viajantes e reduzem os destinos possíveis. Nos EUA, existe uma crise de oferta de pilotos, que faz com haja demasiados aviões à espera de um comandante que os pilote.

No entanto, o caso europeu parece mais grave e um artigo recente da Bloomberg explorou as raízes do problema, encontrando padrões semelhantes nos aeroportos de Londres, Frankfurt, Paris ou Amesterdão. Primeiro, alguns números:

  • Entre abril e junho, o número de voos europeus cancelados foi o dobro dos registados por voos norte-americanos, de acordo com a RadarBox.com;
  • O aeroporto de Schiphol, em Amesterdão, lidera o ranking de cancelamentos, registando mais de 14 mil voos cancelados no mesmo período;
  • Em junho, o número de voos cancelados na Alemanha, França, Itália e Espanha foi o triplo do registado em 2019, de acordo com a consultora Cirium;
  • Na semana passada, um voo Londres-Alicante estava 3x mais caro comparado com o mesmo período em 2021, de acordo com a Kayak.com.

Portanto, independentemente do país e da sua saúde económica, se tivéssemos de fazer uma caricatura da situação aeroportuária, ela seria basicamente a mesma. E a explicação é mais ou menos lógica.

Durante a pandemia, os aeroportos e as companhias aéreas foram obrigados a fazer um “downgrade” à sua oferta (menos pessoas) devido a baixa dramática no volume de viagens. Este verão, o ritmo de viagens voltou aos níveis de 2019, mas a maior parte dos aeroportos e companhias não tinha reposto a oferta de antigamente, o que leva a uma capacidade inferior de processamento de tripulantes em toda a cadeia, desde a segurança ao tratamento das bagagens. 

Como tudo funciona de uma forma mais lenta, as filas alongam-se, os tempos de espera crescem e muitos aviões são obrigados a partir mais tarde. Face a um perigo de rutura das operações dos aeroportos, estes são obrigados a pedir às companhias aéreas para cancelarem voos, de modo a terem um melhor controlo sobre o tráfego aéreo e de pessoas. Com menos oferta de voos, os que restam tornam-se mais valiosos e os preços acabam por escalar nos diferentes algoritmos de compra de viagens.

Como voltar ao “normal”?

A resposta mais óbvia seria tanto os aeroportos como as companhias aéreas reporem os recursos, em termos de que apresentavam antes do aparecimento do Covid-19. No entanto, existem alguns entraves, alheios e não alheios, a estes intervenientes:

  • Os salários. De um modo geral, posições nas divisões operacionais das companhias aéreas e dos aeroportos não são propriamente bem pagos, o que dificulta o processo de fazer regressar ex-trabalhadores ou de recrutar novo pessoal, que vê melhores oportunidades noutros empregos.
  • As greves. Precisamente por esta razão, os próprios trabalhadores que ficaram estão a exigir melhores condições, o que implica um aumento de custos redobrado para quem está a tentar recrutar mais pessoas.
  • As margens. Tudo isto continua a ser um negócio e, no final do dia, mesmo com um serviço pior, as companhias aéreas e aeroportos fazem constantes comparações entre a rentabilidade de uma extensão do número de voos com mais pessoas e a rentabilidade de uma oferta mais reduzida com mais queixas, mas preços mais altos.

E, para já, parece haver um cenário vencedor que não significa boas notícias para quem for viajar este verão.

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