O Spotify lançou uma rede social que vai competir com a Clubhouse: a Greenroom. Os planos da big tech sueca foram postos em prática na semana passada, quando soubemos que, desta vez, tanto os telemóveis iOS como os Android vão poder ter acesso a este novo espaço de conversas. Pode-se dizer que esta é a primeira tentativa da empresa de criar uma rede social per si, já que, até agora, detinha “apenas” uma plataforma de streaming de música, podcasts e outros conteúdos em áudio.

Antes de mais: descrever a inspiração

Vamos partir do pressuposto que a Greenroom surge como uma forma de o Spotify não ficar para trás em relação à Clubhouse. Para isso, é importante que entendamos antes em que contexto surgiu a Clubhouse e que impacto é que tudo isto pode ter na indústria do streaming (neste caso, em direto).

Estávamos em pleno começo de pandemia, em abril do ano passado, quando surgiu esta rede social, lançada pela mão de Rohan Seth (com um passado profissional na Google) e Paul Davidson (empreendedor em Silicon Valley). A Clubhouse apresentava-se como uma espécie de fórum de debate em áudio, dividido por chat rooms (canais virtuais de conversa) aos quais os utilizadores podiam ter acesso, para ouvir todo o tipo de pessoas falar sobre todo o tipo de temas. Inicialmente, estava apenas disponível para iPhones, mas, há um mês, chegou aos smartphones Android em Portugal.

Ao contrário de praticamente todas as redes sociais, esta plataforma tem uma particularidade: só entra quem tem um convite. Ou seja, para qualquer pessoa ser efetivamente um utilizador tem de ser convidada por outro utilizador. Mas, apesar desta necessidade de crescimento exponencial em cadeia, não tardou muito até que a Clubhouse começasse a dar que falar. Com uma pandemia que fechou o mundo em casa, e personalidades tão conhecidas quanto Elon Musk a dar entrevistas neste espaço, o volume de convites rapidamente cresceu e a rede social passou de 1.500 utilizadores em abril de 2020 para 6 milhões, em fevereiro de 2021.

Este é o contexto que justificou as apostas de outras gigantes tecnológicas, que surgiram depois da Clubhouse (algumas depois de tentarem comprar a plataforma). Aos mais curiosos, sugerimos que passem os olhos por este artigo, que publicámos durante o boom da rede social.

O que é que sabemos sobre a Greenroom até agora?

  • Não há exclusividade. A rede social, lançada pelo Spotify, compete com a Clubhouse. Contudo, apesar do serviço ter um conceito bastante semelhante, não é preciso um convite para assistir às conversas ou ser host de uma conversa (um sistema com o qual a própria Clubhouse já pensou acabar). Aliás, os utilizadores podem inscrever-se com o seu login do Spotify.
  • Foca-se no desporto, na música e na cultura. O espaço que hospeda a Greenroom é a Locker Room, criada pela Betty Labs, que o Spotify adquiriu em março. A plataforma que antes era dedicada exclusivamente a conteúdo desportivo abre agora espaço para que sejam debatidos temas ligados à música e à cultura, que é como quem diz “para debater todo o tipo de temas, mas com um rótulo que diferencie este novo serviço do Spotify”. Por isso, os antigos utilizadores vão ter de se começar a habituar a ver mais do que polémicas da Champions, highlights da NBA e recordes do lançamento do martelo (mentira, já ninguém via lançamento do martelo de qualquer forma).
  • Molda-se ao utilizador. Tal como acontece na maior parte das plataformas, o utilizador poderá escolher que tipo de tópicos terá mais interesse em ouvir falar e o próprio algoritmo da plataforma irá aprender com o tipo de conteúdos que decidir consumir.
  • Tem fundos para criadores. Ainda não há muitos detalhes sobre esta funcionalidade. Mas, segundo o The Verge, os utilizadores poderão ser recompensados com base na popularidade dos seus conteúdos. Devem ainda ser feitos acordos exclusivos com alguns criadores. Os interessados poderão inscrever-se para obter mais informações aqui.
  • Promove a participação de muitas pessoas. As chat rooms da nova rede social têm a capacidade de receber cerca de mil utilizadores e a empresa planeia alargar esta funcionalidade a ainda mais participantes. Há também um recurso de chat de texto em direto, onde os ouvintes podem dar gems (ícones que expressam apreço ou concordância, uma espécie de like instantâneo durante os debates) aos oradores.
  • Está disponível para (quase) todos. Para já, a aplicação apresenta-se apenas em inglês (ao contrário do Spotify, que já abarca um total de 62 idiomas). No entanto, para além de estar disponível tanto em telemóveis iOS como em telemóveis Android, a Greenroom estará presente em 135 países.

Pequeno grande detalhe: do streaming à rede social

Mais do que lançar toda uma nova plataforma, a Greenroom simboliza também o lançamento de uma rede social, por parte de um serviço popularizado pelo streaming de áudio. Isto denota as sinergias óbvias que se podem estabelecer, até porque algumas das funcionalidades da Greenroom vão eventualmente chegar à aplicação clássica do Spotify.

Ao contrário da Clubhouse, as sessões de áudio vão ser gravadas pelo próprio Spotify (o que também surge na tentativa de encontrar alguma moderação, um problema que tem sido uma dor de cabeça para a Clubhouse). Deste modo, os criadores podem facilmente transformar as suas conversas em podcasts e distribuí-las no Spotify, através do Anchor, plataforma que a empresa detém desde 2019. Esta tem ferramentas simples que permitem aos criadores editar os seus conteúdos áudio de forma prática. Deste modo, o Spotify consegue fazer um três em um, no qual agrupa no seu serviço a transmissão, edição e distribuição de áudio.

Mais do mesmo? É uma questão de perspetiva

Já não é a primeira vez que uma plataforma tenta “imitar” a Clubhouse. Há outros serviços, tais como o Slack, o LinkedIn, o Reddit ou o Discord, que já começaram a conceber produtos semelhantes de modo a ganhar terreno nesta indústria onde a opinião é que conta.

Destaca-se aqui o Facebook, que lançou as Live Audio Rooms, nos Estados Unidos, esta semana. A empresa anunciou a possibilidade de algumas figuras públicas poderem ser hosts de conversas através de um iPhone (contudo, qualquer pessoa pode entrar com um telemóvel iOS ou Android). Para estes debates, qualquer um pode ser convidado como orador, sendo que 50 é o número limite de oradores numa mesma audio room. Não há, no entanto, limite para o número de ouvintes (ao contrário da Clubhouse e do Greenroom).

Tanto os Live Audio Rooms do Facebook como o Twitter Spaces têm legendas ao vivo (outra funcionalidade que a Clubhouse não possui). O Twitter foi mais rápido do que o Facebook a tentar a sua sorte no streaming de áudio ao vivo, uma vez que já criou este espaço no ano passado. Também disponível para iOS e Android, notifica os utilizadores quando uma das pessoas que segue está a falar, e permite que estes solicitem a participação na conversa. Neste caso, qualquer um pode ser host, desde que tenha 600 ou mais seguidores.

Perante todas estas opções, resta-nos fazer uma pergunta: quão viável é o produto do Spotify? Numa primeira análise, a Greenroom pode ter melhores chances de vingar, uma vez que já está alojada numa plataforma onde as atenções sempre estiveram viradas para o áudio, de forma exclusiva. No entanto, convencer os utilizadores a passar tempo numa app cuja atividade se faz ao vivo pode ser complicado.

  • “A guy who builds a nice chair doesn’t owe money to everyone who has ever built a chair, okay? They came to me with an idea. I had a better one.” – Mark Zuckerberg, no filme A Rede Social.
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