Partindo numa viagem que começou há 500 anos em Portugal, mais especificamente em Lisboa, a caminho da Ásia, e dando como exemplo a pimenta "como ideia global introduzida pelos portugueses” nessa zona do globo, Young Sohn, presidente da Samsung Electronics, lançou números para a mesa que profetizam o potencial da Inteligência Artificial: do número de estrelas na nossa galáxia (100 mil milhões), ao número de neurónios no cérebro humano (mil milhões), destacam-se os 340 biliões vezes três de endereços IP que existem hoje em dia.
O presidente da empresa que fabrica desde telemóveis a micro-ondas trouxe o tema da Inteligência Artificial (IA) ao encerramento do segundo dia da 3.ª edição da Web Summit, que decorre no Altice Arena, em Lisboa.
O número galopante de dados que cresce a cada segundo em áreas como o consumer mobile, internet das coisas (IoT), inteligência artificial (IA), cibersegurança ou cloud, aliada a uma capacidade de computação cada vez maior e mais barata, forma “uma tempestade perfeita” para uma proliferação da inteligência artificial, uma tecnologia que “anda por aí há 30 anos”, mas que promete agora transformar praticamente todos os setores da sociedade e assumir-se como um novo motor económico.
O mundo está a aprender a lidar com este ativo. “É como o petróleo no século XIX. Existiu desde sempre, mas foi só então que passou a ter valor, pois aprendemos a refiná-lo e a usá-lo no motor de combustão”, comparou.
“Estamos num ponto de viragem”, disse Young Sohn durante a palestra que decorreu no palco principal do evento. E neste virar de página socorre-se de uma comparação entre a economia do petróleo, que imperou até agora, e a economia do conhecimento: o presidente da Samsung, olhando para as 10 maiores empresas a nível mundial, destaca que, em apenas 10 anos, só uma petrolífera (Exxon Mobil) se mantém neste 'top', sendo que a lista é dominada por multinacionais tecnológicas como a Microsoft ou a Google. "Se os dados são o novo petróleo, a inteligência artificial é o motor", atirou.
A ética entra em campo
A IA “está a dar forma ao nosso futuro”, seja nas aplicações tradicionais, mas também na gestão de energia, nos transportes, na navegação, no automóvel ou nos pagamentos, diz Young Sohn. E são os dados que alimentam este motor.
O presidente da Samsung pegou na área da saúde e dos automóveis para dar corpo a esta ideia.
No primeiro caso, salienta que através das informações obtidas da estrutura e sequência genética (ADN) e “com informações sobre genoma, sangue, nível de atividade e estilo de vida, conseguiremos fazer mais correlações e poderemos conhecer-nos melhor para prevenir e tratar doenças”. Já nas estradas, dá como exemplo o desenvolvimento de sensores que garantam a segurança da condução autónoma. “Precisamos de infraestrutura, dados sobre as condições das vias, sensores nas ruas e rede de internet 5G” para tornar isto real, disse.
Quanto à inevitável pergunta sobre quando é que os carros autónomos surgirão, relembrou que “os smartphones também não aconteceram de um dia para o outro. É preciso ter os componentes certos, a conectividade certa”, apelando à paciência porque a tecnologia será “benéfica”.
Com estes avanços todos, urgem os problemas éticos associados ao uso de dados, tendo o presidente da Samsung apontado riscos e incógnitas.
“Vamos criar mais ou menos empregos? Vamos ser mais diversificados? Não tenho uma resposta para vocês”, disparou perante a plateia. Sem certezas alertou que “a responsabilidade está connosco enquanto empresa, convosco enquanto consumidores e com os governos”. E deixou uma garantia: “A viagem vai ser muito drástica, difícil e não haverá respostas óbvias”, finalizou.
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