Cosgrave falava à Lusa quatro dias antes de arrancar a edição deste ano da Web Summit Lisboa, que será totalmente 'online' devido à pandemia.
Naquela que é considerada a maior cimeira de tecnologias a nível mundial, estão inscritos "mais de 2.500 jornalistas", disse o responsável.
A edição deste ano — que arranca em 2 e termina em 4 de dezembro — conta com mais de 2.500 'startups', 1.250 investidores, mais de 800 oradores, 150 países e mais de 2.500 jornalistas.
"Uma das grandes mudanças este ano é ao nível dos jornalistas", salientou o cofundador da Web Summit.
"Criámos um novo evento chamado 'Fourth Estate' [quarto poder] que é para jornalistas, editores, 'publishers' discutirem especificamente as mudanças no setor", explicou Paddy Cosgrave.
Assim, "pela primeira vez temos editores e chefes de tantas publicações globais diferentes que irão falar e reunir-se uns com os outros" e "iremos dar continuidade a este evento em 2021, em Lisboa", salientou.
Questionado se o tema dos media vai ser uma tendência, Paddy Cosgrave considerou que sim.
"O mundo dos media teve uma década incrivelmente desafiante. Cada vez mais há antigas plataformas de media que estão a começar a prosperar novamente", disse o presidente executivo da cimeira tecnológica.
"E não é apenas o The New York Times. Estão a encontrar novas formas" de serem pagos pelo "verdadeiro jornalismo", prosseguiu.
Além disso, "também acho que muito público está a regressar aos media tracionais, porque estamos num momento em que há muita desinformação", referiu.
"E a pandemia tem sido uma oportunidade para os media tradicionais reforçarem o importante papel que desempenham", rematou.
Temas como "Pode a liberdade de imprensa sobreviver", "A pirâmide de notícias invertida ainda funciona", "Tornar global: os desafios das notícias internacionais" ou o "Combate das 'fake news' em 2020" são alguns dos temas em análise no evento.
50 mil bilhetes para estudantes
Questionado sobre quantos participantes espera este ano, Cosgrave adiantou cerca de "100 mil".
Além disso, "alocámos 50 mil bilhetes - é algo que não foi amplamente divulgado - para estudantes de universidades, faculdades e institutos em Portugal", acrescentou.
No passado, "o máximo que tivémos foram cerca de quatro mil" bilhetes e mesmo estes participantes (estudantes) "não conseguiram participar adequadamente na Web Summit", prosseguiu.
Mas agora, com a edição deste ano, "pela primeira vez, estes estudantes serão capazes de interagir com todos", salientou.
Muitos deles são estudantes de ciências de computação, apontou Paddy Cosgrave, afirmando esperar que alguns sejam "inspirados a começar as suas próprias empresas em Portugal" e que outros encontrem "trabalho numa ótima 'startup' portuguesa".
Questionado sobre os custos desta edição, Paddy Cosgrave referiu rondar "pouco mais de 20 milhões de euros", sublinhando que "o verdadeiro custo é o tempo e o esforço e o número de engenheiros interna e externamente que levaram nove meses a construir a plataforma" 'online'.
Ao todo, estiveram envolvidas "250 pessoas", disse, apontando que nas últimas semanas tem havido filmagens em Portugal.
"Grande parte das filmagens foi feita em Portugal e o evento terá um sabor português", disse.
Relativamente ao pagamento de 11 milhões de euros (oito milhões pelo Governo e três milhões de euros pela câmara de Lisboa) por uma edição que é 'online', Paddy Cosgrave disse tratar-se de um assunto político.
"Não me quero envolver. Acho que é muito importante em democracia os partidos políticos levantarem estas questões em determinados momentos", prosseguiu, aludindo às questões do CDS-PP ao Governo sobre o tema e do vereador do Bloco de Esquerda (BE) à Câmara de Lisboa sobre o pagamento do contrato.
"Mas não quero criticar nenhum dos lados ou envolver-me de alguma forma", trata-se de "um assunto interno", rematou sobre o assunto.
Sobre o impacto da edição ser completamente 'online' nas receitas da Web Summit, disse que os dados serão publicados daqui a 12 meses.
"Dentro de 12 meses verá que estamos abaixo, cerca de 30 milhões" de euros, "acho que havia um risco que a Web Summit" não acontecesse, foi o que aconteceu com os eventos do setor em toda a Europa, "tem sido absolutamente devastador", referiu.
"Obviamente, este é o pior ano da nossa história e teria sido mais fácil cancelar o evento", confessou, salientando, contudo, que "a coisa certa" a fazer pela marca e pela "relação de longo termo, de 10 anos, foi tentar e fazer" a cimeira, "mesmo que fosse mesmo muito difícil".
E acrescentou: "nenhum dos grandes eventos organizou um 'online' porque é muito complicado e caro de o fazer"..
Na edição deste ano haverá "mais presidentes executivos portugueses" como oradores de sempre, e mais 'startups' e participantes portugueses.
Questionado sobre o que destacaria, Paddy Cosgrave, que é amante de ténis, destacou a participação da tenista Serena Williams, que considerou a "melhor" na história da modalidade.
"Ouvi-la é muito especial, mas obviamente a maioria das pessoas estão lá para ver o presidente executivo do Zoom, o cofundador do Facebook, o CTO da Amazon e todos os fantásticos oradores de tecnologia", salientou.
E depois há a presença de líderes das maiores empresas tecnológicas da China, que "continua provavelmente a ser o mais importante emergente mercado no mundo".
Entre os temas em análise, além da pandemia, Cosgrave destacou o futuro dos impostos, nomeadamente para as empresas.
O responsável da OCDE, Pascal Saint-Amans, vai falar sobre política fiscal, tal como o ministro das Finanças francês, que provavelmente o fará a partir de Lisboa.
"Acho que ele deverá falar do imposto único digital que a França está desenvolver e que provavelmente outros países na Europa irão seguir", acrescentou.
"Para mim, acho que a criptomoeda vai tornar-se algo mais importante. E porquê? Porque a China está prestes a lançar uma criptomoeda apoiada pelo Estado [...] o que significa que, potencialmente em todo o mundo, as pessoas podem pagar por coisas com uma" moeda digital "estável".
E acrescentou: "É possível que o dólar seja substituído, muito possivelmente num curto espaço de tempo, o que poderá enfraquecer os Estados Unidos no mundo".
Outro dos temas em destaque é a eleição de Joe Biden para Presidente dos Estados Unidos, considerando importante perceber que tipo de mudança haverá ou se é apenas retórica.
Sobre as expectativas para este ano, Paddy Cosgrave manifestou-se otimista.
"Temos já pré-agendadas mais de um milhão de reuniões" e "espero que o número de reuniões que as empresas portuguesas tenham seja maior que nunca", disse.
Para o próximo ano, a Web Summit terá uma edição híbrida - 'online' e física.
"Acho que é uma ótima solução a curto prazo devido à falta de espaço. Não conseguimos tornar a Web Summit maior nos últimos dois anos, estamos à espera que o recinto dobre de tamanho", prosseguiu o cofundador.
"Por isso, teremos um evento híbrido no próximo ano com 70.000 a vir a Lisboa" e expectativa "de muito mais 'online'", salientou.
Para Paddy Cosgrave, o próximo grande desafio será trazer "100.000 pessoas a Lisboa", o que será "fantástico", mas que só acontecerá "em 2022 ou 2023".
Por: Alexandra Luís da agência Lusa
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