O Observatório Europeu do Sul (OES), do qual Portugal é um dos países-membros e que opera o telescópio VLT (com que foram feitas as observações), refere em comunicado que se trata da "primeira imagem direta de mais do que um exoplaneta em órbita de uma estrela do tipo solar".
Um exoplaneta é um planeta que orbita uma estrela que não é o Sol, a estrela à volta da qual a Terra orbita. Trata-se assim de um planeta que pertence a um sistema planetário diferente do nosso.
De notar que o sistema planetário em causa é composto por dois planetas gigantes gasosos a orbitarem a estrela TYC 8998-760-1, situada a cerca de 300 anos-luz da Terra. Está na constelação da Mosca, e tem 17 milhões de anos de idade. Comparando, o Sol é uma estrela bastante mais velha: tem 4,6 mil milhões de anos.
Os resultados das observações, feitas com o telescópio VLT (Very Large Telescope), no deserto do Atacama, no Chile, são descritos num artigo publicado na revista da especialidade The Astrophysical Journal Letters.
Segundo o OES, apenas dois sistemas planetários, com dois ou mais exoplanetas a orbitarem a mesma estrela, foram observados "de forma direta até à data", mas as estrelas são "marcadamente diferentes do Sol".
O comunicado realça que as observações feitas com o telescópio VLT podem "ajudar os cientistas a compreenderem melhor como é que os planetas se formaram e evoluíram na órbita do Sol".
As observações foram realizadas em 2019, tendo a equipa de astrónomos utilizado dados mais antigos, anteriores a 2017. E o que significam? O coordenador da investigação, Alexander Bohn, da Universidade de Leiden, nos Países Baixos, responde no comunicado: "Esta descoberta pode ser comparada a tirar uma fotografia a um ambiente muito semelhante ao nosso Sistema Solar, mas numa fase muito mais precoce da sua evolução".
Matthew Kenworthy, coautor do estudo e professor na mesma universidade, considera que "as observações diretas" de exoplanetas na Via Láctea, galáxia onde se localiza a Terra, "são importantes para a procura de ambientes que possam sustentar a vida".
O grupo de astrónomos obteve a imagem dos dois planetas em redor da estrela TYC 8998-760-1 quando procurava planetas gigantes jovens em torno de estrelas parecidas com o Sol, mas mais jovens.
Os dois planetas extrassolares orbitam a estrela-hospedeira a uma distância superior em 160 e cerca de 320 vezes a distância que separa a Terra do Sol, o que significa, de acordo com o OES, que ambos os planetas estão mais distantes da sua estrela do que Júpiter e Saturno, igualmente gigantes gasosos, se encontram do Sol.
O exoplaneta que está no meio da fotografia tem uma massa 14 vezes superior à de Júpiter, o maior planeta do nosso Sistema Solar, enquanto o do canto inferior esquerdo possui uma massa seis vezes maior.
O futuro traz mais informação
A equipa de astrónomos espera aprofundar o estudo deste sistema planetário com, nomeadamente, o ELT (Extremely Large Telescope), o maior telescópio ótico do mundo em construção no Chile, com participação de cientistas e empresas portugueses. Este telescópio será operado pelo OES a partir de 2025, segundo os prazos estimados pelo observatório.
Os astrónomos querem aferir se os dois exoplanetas se formaram nas suas atuais posições, longe da estrela TYC 8998-760-1, ou se moveram-se de outros sítios, assim como perceber a sua interação.
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