Mark Zuckerberg (Facebook), Sundar Pichai (Alphabet, empresa-mãe da Google), Tim Cook (Apple) e Jeff Bezos (Amazon) vão esta quarta-feira ser ouvidos no congresso dos Estados Unidos da América. Os legisladores recolheram centenas de horas de entrevistas e mais de 1,3 milhões de documentos sobre as firmas.

É a primeira vez que os patrões destes quatro negócios da internet são obrigados a comparecer juntos no Congresso para justificar as suas ações. Trata-se de dois dos homens mais ricos do mundo (um deles ganhou 13 mil milhões de dólares num só dia ainda este mês), com empresas avaliadas em 4,35 triliões de dólares — qualquer coisa como 3 658 418 500 000,00 euros. Homens que vão defender perante a nação que estes negócios não são assim tão poderosos.

Um a um, são acusados de abusar do poder, das posições que foram construído, num ciclo em que só ganham. A Amazon (sobretudo comércio online) é acusada de abusar do seu papel enquanto vendedora e anfitriã de vendedores externos nas suas plataformas; a Apple (sobretudo vendedora de equipamentos como telemóveis e computadores) é acusada de injustamente usar o seu poder sobre a App Store (a loja de aplicações que alimenta o seu ecossistema de aparelhos eletrónicos) para bloquear rivais e forçar as aplicações a pagar grandes comissões para estar presente; o Facebook (a maior rede social no mundo) é acusado de ter um monopólio das redes sociais; e a Alphabeth, dona da Google (começou por ser um motor de busca e hoje tem negócios num sem fim de soluções online), tem múltiplas acusações de violar as regras de anticoncentração por causa do seu domínio na publicidade na internet, pesquisa e programas para smartphones (Android).

A par disto, é esperado também que os congressistas do Partido Democrata coloquem questões sobre a desinformação nas redes sociais. Já os Republicados, podem muito bem colocar em cima da mesa o suposto enviesamento liberal em Silicon Valley — o lugar onde praticamente todas estas empresas têm os seus serviços sediados —, alegando que as vozes conservadoras são censuradas.

Um monstro “orgulhosamente americano”

A rede social Facebook surgiu em 2004. O mundo — e a internet — desse longínquo ano em que Portugal sonhava com um europeu de futebol ao som da “Força” de Nelly Furtado pouco têm a ver com a mega-plataforma de hoje, encabeçada por Mark Zuckerberg. O fundador do Facebook bem diz que a empresa, "orgulhosamente americana", não teria tido sucesso sem "leis que encorajam a concorrência e a inovação".

Segundo excertos do discurso consultado pela agência France-Presse da audiência de Zuckerberg no Congresso norte-americano, prevista, o fundador da rede social defende a plataforma, acusada tanto pela esquerda como pela direita de se tornar demasiado dominante.

No discurso a que a AFP teve acesso, Zuckerberg apela em particular ao patriotismo económico dos eleitos.

"Acreditamos em certos valores - democracia, concorrência, inclusão, liberdade de expressão - sobre os quais a economia americana foi construída", refere, salientando não existirem garantias de que esses valores irão vingar, fazendo uma comparação com o mercado chinês.

"A China, por exemplo, está a construir a sua própria versão da internet sobre ideias muito diferentes e a exportar essa visão para outros países", declara.

Mark Zuckerberg já tinha utilizado este argumento numa audição de outubro, sobre o seu projeto de uma moeda digital, perante a Comissão de Serviços Financeiros do Parlamento Europeu.

Nessa ocasião, disse também que, na sua opinião, os governos e os reguladores devem "desempenhar um papel mais ativo" na "atualização das regras da internet" em termos de moderação de conteúdos.

No discurso hoje conhecido, o milionário antecipa as críticas previsíveis que provavelmente enfrentará. Muitos democratas e a sociedade civil pronunciaram-se contra esta rede social, que acreditam ser demasiado laxista a lidar com mensagens e vídeos de extrema-direita ou algumas das observações insultuosas do presidente dos EUA, o republicano Donald Trump.

Os republicanos, por outro lado, sentem-se censurados por plataformas com sede em Silicon Valley, Califórnia, um reduto democrata.

Já o patrão da Amazon, Jeff Bezos, o homem mais rico do mundo, destacou que a "Amazon deve ser examinada" pelos legisladores, como qualquer grande organização.

Numa mensagem citada pela AFP, depois de classificar a sua empresa de comércio eletrónico como um "sucesso" dos Estados Unidos, mostrou-se desafiante ao destacar que "quando te olhas ao espelho, avalias as críticas e ainda acreditas que estás a fazer a coisa certa, nenhuma força no mundo te poderá deter”.