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Uma startup que vale quase 100 mil milhões de euros já era um objeto de estudo interessante, independentemente do problema que estivesse a solucionar. Contudo, no caso da Stripe, a história dos seus fundadores tem algo que não só é invulgar, como ajuda a explicar o porquê de a empresa ser considerada uma das mais importantes para as décadas que se avizinham.

Patrick e John Collison cresceram numa terra rural irlandesa chamada Dromineer. Nesta localidade com poucos milhares de habitantes e com uma ligação à internet que, nos anos 90, não seria a melhor, inovação e empreendedorismo não eram duas palavras que se ouvissem muito. No entanto, o pai era um engenheiro que geria um alojamento local e a mãe era uma microbióloga, por isso os dois irmãos habituaram-se desde cedo a estar rodeados de ciência e tecnologia. Ainda muito novos, Patrick e John aprenderam a programar e começaram a destacar-se academicamente, cada um à sua maneira.

Patrick, o irmão mais velho, começou logo a ter o desejo de acabar a escola mais cedo do que era suposto. Para isso, o primeiro passo foi fazer os SAT (testes americanos de acesso à faculdade) aos 13 anos e, aos 16, decidiu num espaço de 20 dias fazer todos os exames que lhe estavam destinados nos dois anos seguintes. Passou a todos com distinção. No entanto, esse nem foi o seu maior feito. No mesmo ano, ganhou o prémio de Melhor Jovem Cientista da Irlanda por ter desenvolvido um sistema de inteligência artificial de raiz. Aos 17 estava de malas feitas para o MIT, uma das mais prestigiadas universidades do mundo.

John, dois anos mais novo, não ficou muito atrás. Ambicionava, tal como o irmão, terminar a escola mais cedo e, apesar de não ter ganho nenhum prémio nacional, teve os melhores resultados alguma vez registados na Irlanda, nos exames de acesso à faculdade. No ano seguinte, sem grande surpresa, juntou-se ao irmão em Boston, para ir estudar para Harvard.

Já nos Estados Unidos, em 2008, os irmãos começaram rapidamente a beber da cultura empreendedora e a ficar mais preocupados em resolver problemas do que em estudar. Por isso, com 17 e 15 anos, respetivamente, desistiram das faculdades e começaram a trabalhar numa startup à qual chamaram Auctomatic. A sua ideia era melhorar a experiência de compra em marketplaces como eBay, cujo sistema consideravam demasiado complexo e complicado. Em simultâneo, dedicaram-se também ao desenvolvimento de aplicações para iPhone, que estavam a tornar-se cada vez mais populares depois do lançamento do smartphone em 2007.

Fazendo jus à sua precoce reputação, em dez meses os irmãos desenvolveram o software para a Auctomatic, testaram com alguns clientes, conseguiram financiamento da Y Combinator (uma das mais importantes aceleradoras de startups nos EUA) e venderam a sua startup por 5 milhões de euros, tornando-se milionários antes de terem idade legal para beber.

De seguida, em vez de comprar uma casa na praia, tentaram ainda regressar à faculdade, mas, passado algumas semanas, passaram simplesmente para a resolução do problema seguinte, do qual ainda hoje estão a tratar. A ideia para a Stripe surgiu nos períodos em que Patrick e John trabalharam com apps. Neste processo repararam que o e-commerce e os negócios online estavam a desenvolver-se a um ritmo mais rápido do que a tecnologia disponível na internet para processar pagamentos. Entre intermediários, taxas para bancos, taxas para empresas de cartões de crédito e taxas para plataformas tecnológicas, o processo de implementação de pagamentos roubava demasiado tempo, tempo esse que as empresas deviam investir no seu produto e não na parte financeira.

Aumentar o PIB da internet

É este o slogan da Stripe e é a missão que está por detrás do serviço que criou. A PayPal, no início dos anos 2000, tinha um propósito parecido, mas acabou por resolver o problema só para o lado dos consumidores, que passaram a ter uma solução simples para comprar online. Do lado das empresas, faltava uma forma fácil de integrar pagamentos nos seus serviços, uma que não exigisse tanta burocracia e tempo excessivo.

Foi nisso que a startup dos irmãos Collison se focou durante quase dois anos: desenvolver relações com as instituições bancárias e reguladores, para que os seus futuros clientes não tivessem de o fazer, e criar um método fácil de integrar o seu serviço nos seus negócios. E foi isso que fizeram. O serviço base da Stripe, lançado em 2011 e que hoje é utilizado por quase 2 milhões de negócios, consiste em sete linhas de código que lhes permite implementar 29 métodos de pagamento diferentes. O que antes demorava meses, passou a ser resolvido com um “simples” copy-paste.

A Stripe era tão fácil de implementar que se começou a tornar na empresa fetiche para os developers que iam ser responsáveis por algumas das mais importantes startups que iam surgir na década seguinte. Atualmente, a Stripe tem como principais clientes a Amazon, o Facebook, a Shopify, o Booking, a Lyft, a DoorDash e a Deliveroo, só para citarmos alguns nomes.

  • Como é que a Stripe faz dinheiro? A startup cobra uma taxa de 2.9% para cartões de crédito americanos e 1.4% para cartões europeus, mais 30 cêntimos por cada transação feita.
  • Quem são os principais concorrentes neste mercado? A PayPal (por estar há mais tempo no mercado), a Adyen (que tem um serviço semelhante e clientes como a Uber, a Netflix e o Airbnb), a Square (mais focada no lado do consumidor) e a Apple e o Google na vertente dos smartphones.

Crescer para além dos pagamentos

Houve mais dois serviços que colocaram a Stripe no mapa e nos quais a empresa tem fortemente investido:

  • O Radar, um serviço de deteção de fraude através de inteligência artificial que a Stripe disponibiliza a diversos clientes. Esta funcionalidade é muito útil dado o volume de transações que são processadas pela Stripe, que permitem que o seu algoritmo possa ter diversas aprendizagens que não estão ao alcance de outros serviços.
  • O Atlas, um serviço no qual a Stripe permite que qualquer empresa, independentemente do país de origem, possa ser incorporada no EUA, mais precisamente no Estado do Delaware (conhecido por ter uma legislação mais “liberal”) e tirar proveito do acesso ao mercado americano para internacionalizar o seu negócio de uma forma mais fácil. A Stripe trata de toda a burocracia, as empresas focam-se no seu produto.

Números que ficam na memória

  • 350 mil milhões de dólares. Estimativa do volume de pagamentos processado pela Stripe em 2020 (1.5x o PIB português para referência).
  • 80% dos americanos que compraram algo online em 2019, fizeram-no num serviço que tem o código da Stripe integrado.
  • 95 mil milhões de dólares. Valor da Stripe depois da mais recente ronda de investimento.
  • 2.5 mil milhões de dólares. Estimativa para as receitas da Stripe em 2020.
  • 6.4 mil milhões. É a fortuna em dólares de cada um dos irmãos. Nada mau para dois sobredotados.

Fonte: Backlinko

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