Os open spaces podem não ser hoje sítios assim tão incríveis para trabalhar, mas nasceram com um bom propósito. Nos anos 30, o arquiteto Frank Lloyd Wright desenhou o que seria o protótipo de um open space como uma espécie de declaração anti-fascista, um espaço que derrubaria as hierarquias corporativas. Chamou-lhe então a arquitetura da liberdade.
Antes de Frank Lloyd Wright, um engenheiro de Filadélfia chamado Frederick Winslow Taylor pensou na organização dos espaços de forma aberta e com secretárias alinhadas em filas - algo que nos é familiar aos dias de hoje, também mais de 100 anos depois ainda que Taylor, que escreveu em 1911 "The Principles of Scientific Management", tivesse uma premissa diferente da do arquitecto: o objetivo era que as áreas de trabakho assim organizadas permitissem um maior controlo aos supervisores. O escritório desenhado como uma fábrica.
Taylor - o "pai" do Taylorism, teoria de otimização do trabalho - foi desafiado por designers e arquitectos ao longo das décadas seguintes, e ainda é, mas a tentação de desenhar espaços iguais replicados num grande espaço envolvente manteve-se.
Nos anos 60, um artista gráfico e escultor chamado Robert Propst, que foi presidente da unidade de investigação da Herman Miller, uma empresa de design e mobiliário de escritório, cunhou uma frase num livro-manifesto: "O escritório de hoje é um espaço de desperdício. Suga a vitalidade, bloqueia o talento, frustra o desempenho. É o cenário diário de intenções por cumprir e de esforços falhados".
"O cubículo nunca devia ter acontecido"
Propst não se limitou a lamentar o que existia - propôs alternativas.E a alternativa era uma solução modular para combater a tirania da fábrica-escritório designada por sistema "Action Office". Nesta solução - produzida pela Hellman Miller, claro - cada espaço podia ser adaptado com elementos movíveis de mobiliário, incluindo pequenas divisórias. Que rapidamente se tornaram muito usadas para criar uma espécie de "bunkers" pessoais ou cubículos onde cada pessoa se podia isolar das restantes. "O cubículo nunca devia ter acontecido", diz hoje Joseph White, diretor da estratégia para espaços de trabalho da Miller.
A utilização dos módulos obedeceu, uma vez mais, a uma ideia de eficiência - e por eficiência entenda-se rentabilização dos espaços e do dinheiro investido. Mas, dinheiro à parte, ainda estava aqui por avaliar a forma como cada pessoa olha para o seu espaço e para a sua necessidade de privacidade ou isolamento.
Damos um salto para o século XXI, altura em que, sobretudo a partir da segunda década, os espaços abertos, mais ou menos divertidos, mais ou menos simétricos, nascem como cogumelos por todo o mundo. São coworks, são campus, são incubadoras, são comunidades criativas. Nestes espaços, a ideia de espaço individual de secretária é ela própria alterada para outras versões, nomeadamente a mesa partilhada.
Em 2014, um designer, Clive Wilkinson, propõe uma mesa-cobra com 305 metros que é usada na sede, em Nova Iorque, do Barbican Group. Já em 2019, Michael Bloomberg, ex-mayor e fundador da Bloomberg, atual candidato à nomeação democrata para a presidência dos Estados Unidos, propôs que a própria ala este da Casa Branca se transformasse num open space.
Mas voltando a quem trabalha em open space. A necessidade de privacidade nunca desapareceu. E a melhor evidência disso foi a forma como uma série de produtos foram sendo adotados ou inventados. Os headphones são os mais populares, mas estão longe de ser os únicos. Listemos alguns:
- paredes amovíveis ou "Dancing Walls"; são multifunções e podem revestir-se de várias formas dependendo do espaço e da criatividade
- as paredes são "só" normais quando olhamos para ideias realmente novas como esta criada pela Panasonic e pelo deigner japonês Kunihiko Morinag. Chama-se Wear Space e é um dispositivo, um wearable, desenhado para ajudar à concentração. Como? Limitando os sentidos da visão e da audição, através de tecnologia que cancela o ruído e uma espécie de venda que limita o campo de visão. Ficam as imagens.
- cabines telefónicas no open space. São mesmo isso e existem por todo o lado. Servem para fazer chamadas privadas ou conference calls que requerem isolamento e são bem pequenas, têm apenas o estrito espaço necessário à função. Podem também causar algusn problemas: em dezembro de 2019, a gestora de espaço WeWork retirou cerca de 2300 cabines devido aos níveis elevados de formaldeído, uma substância que causa problemas respiratórios e, em altos níveis de exposição, pode causar cancro.
Mais de 100 anos depois da sua invenção, os opens spaces florescem por toda a parte, mas trouxeram problemas nem sempre assumidos como a dificuldade de concentração, a menor produtividade e o stress de quem lá trabalha.
Sobre aquela parte de convivermos todos mais uns com os outros – sim, em parte é verdade, mas só em parte. Basta olhar para os nossos espaços abertos e ver a quantidade de pessoas com headphones colocados e que não estão propriamente em modo “social” com o colega do lado com quem, preferencialmente, comunicam por chat.
O estudo "The impact of the ‘open’ workspace on human collaboration" procurou perceber, como o título indica, o impacto do espaço na forma como nos relacionamos uns com os outros no local de trabalho. Sem portas e paredes, a comunicação interpessoal desceu, concluíram. Mais de 70%, o que é um valor expressivo. "Em vez de promover uma colaboração vibrante cara a cara, os espaços abertos parecem despertar uma resposta humana de retração na interação com os outros, fazendo-o através de email de chat", escrevem os autores.
Conscientes disso - além de outras razões fora do âmbito da arquitetura - muitos espaços, nomeadamente das empresas tecnológicas, criam zonas de jogos e promovem "happy hours" e convívios de sexta-feira.
Se hoje já estamos longe do cenário da Consolidated Life of New York, a seguradora retratada no filme "O Apartamento" deBilly Wilder, que chegou aos cinemas em 1960, é igualmente verdade que continuamos longe de encontrar a solução ideal para locais onde muitas pessoas passam a maior parte do seu dia. O que significa que há uma oportunidade para resolver um problema de muitos se queixam.
Alguns números apurados pelo Quartz podem ajudar a dimensionar, passando o pleonasmo, o espaço que os open spaces ocupam atualmente no mundo do trabalho.
- 70% das pessoas que trabalham em ambiente de escritório nos Estados Unidos estão num open space
- Um estudo da Harvard Business School refere que trabalhar em open space leva a uma quebra de 72% na interação olhos nos olhos
- Crescimento de 41% nas vendas de headphones entre 2008 e 2012. A fonte é a Consumer Electronics Association que refere também que a maior parte das unidades vendidas são usadas em ambiente de trabalho
- Nos Estados Unidos, poupança estimada de 50 dólares por metro quadrado neste tipo de espaços
- No open office da sede do Facebook, no Menlo Park, trabalham 2800 pessoas. O CEO e fundador Mark Zuckerber gosta de o descrever como “o maior do mundo”.
Para quem tiver tempo e vontade, gostava muito de ouvir as vossas experiências de trabalho, open space, gabinete, mesa de café. Prós e contras, histórias caricatas e ideias arrojadas – o que possam e queiram contar para partilhar podem enviar para o meu email: rute.vasco@madremedia.pt
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