Um ano de ChatGPT, em vários textos de opinião:
1. O impacto transformador do primeiro ano do ChatGPT
2. ChatGPT não vai acabar com as agências de comunicação, mas irá mudá-las para sempre
3. Utilizar Inteligência Artificial de forma responsável é o caminho para a inovação
4. A Inteligência Artificial chegou para ficar: estamos prontos?
5. ChatGPT: a “balança” por equilibrar da inteligência artificial
1. O impacto transformador do primeiro ano do ChatGPT
Por Frederico Domingos Raposo, professor de Data Analytics na Ironhack Portugal
Há um ano, o ChatGPT emergiu para se assumir como uma presença inegável em diversos contextos da nossa vida, redefinindo a interação entre humanos e a Inteligência Artificial (IA). A sua influência estendeu-se para além das fronteiras tradicionais, aproximando a IA do utilizador comum de maneiras inovadoras.
Segundo a Udemy, utilizar ferramentas de inteligência artificial e machine learning tornaram-se duas das competências mais procuradas pelas empresas no domínio da tecnologia no primeiro trimestre de 2023, destacando-se a capacidade de trabalhar especificamente com ferramentas como ChatGPT, Azure Machine Learning, AI Art Generation e Amazon EMR.
No campo de Data Analytics, o domínio destas ferramentas pode facilitar o progresso dos profissionais, permitindo uma maior atenção a questões complexas e compreendendo e resolvendo melhor certos problemas. Por este motivo, no último ano, o ChatGPT destacou-se como um aliado crucial: a sua capacidade de processar grandes volumes de dados e fornecer insights relevantes acelerou significativamente os processos de análise, permitindo que empresas e analistas atinjam novos patamares na compreensão de padrões e tendências.
Outro marco importante foi a contribuição do ChatGPT para o aumento da produtividade visto que, ao ser integrado em diferentes ferramentas de trabalho, o modelo demonstrou eficácia a gerar ideias, redigir textos, e até mesmo otimizar fluxos de trabalho complexos. Empresas e profissionais viram as suas operações aprimoradas, impulsionando a eficiência e a inovação.
Desta forma, uma das áreas mais impactadas foi a também a educação, uma vez que se tornou cada vez mais relevante aprender a utilizar esta ferramenta da melhor forma possível. Nesse sentido, algumas escolas adaptaram os seus planos curriculares de maneira a incluírem a utilização desta plataforma, que de certa forma facilita a aprendizagem interativa e personalizada.
Ao celebrarmos o primeiro ano de ChatGPT, é relevante também considerar os desafios inerentes a esta revolução tecnológica. A utilização ética e responsável desta ferramenta é imperativa. As questões relacionadas com a privacidade, os algoritmos e a potencial substituição de certos postos de trabalho devem ser abordados de maneira proativa para garantir que o progresso tecnológico beneficia a sociedade como um todo.
O ChatGPT, no seu primeiro ano, consolidou-se como uma ferramenta versátil, moldando o cenário da interação homem-máquina. O seu impacto evidencia o potencial transformador da IA, apesar de ser preciso garantir que os benefícios são equitativamente distribuídos e os riscos mitigados.
O próximo ano reserva ainda mais oportunidades e desafios sendo que, à medida que celebramos as conquistas do ChatGPT, é imperativo permanecer vigilantes, assegurando que a IA continua a ser uma aliada positiva para a humanidade. O caminho que se avizinha exige colaboração, transparência e a implementação de diretrizes éticas robustas para moldar um futuro onde a IA e os seres humanos prosperem harmoniosamente.
2. ChatGPT não vai acabar com as agências de comunicação, mas irá mudá-las para sempre
Por Nuno da Silva Jorge, Managing Partner da Aurora e professor na ESCS-IPL
Há um ano, estávamos longe de imaginar que o big bang seria tão impactante. Chegou com tanta força que os seus efeitos têm tanto de extraordinário como de imprevisível. Qual será o futuro do trabalho? Da humanidade? Será este um dos primeiros passos para que as máquinas nos ultrapassem e, ao bom estilo do Matrix, criem uma realidade alternativa?
A assumir as palavras que Yuval Noah Harari proferiu na sua passagem por Lisboa em meados do presente ano, as formas de inteligência artificial generativa que hoje conhecemos serão as “amebas” de uma forma de vida digital cuja evolução não dorme e não se rege pelas regras do desenvolvimento orgânico. E, no espaço de um ano, foi isso mesmo que vimos: uma evolução que ultrapassa o que fazia o ChatGPT quando foi lançado e o que faz hoje. A grande questão será mesmo: o que fará daqui a um ano?
E, num ano, a forma de pensar o trabalho de uma agência de comunicação mudou radicalmente. Desde a pesquisa, a elaboração de conteúdos, a criação de documentos, imagens, campanhas, avaliação — tudo se alterou, na prática. Primeiro, veio a sensação de que vivíamos uma espécie de ficção científica digna de um episódio de Black Mirror; depois, o ceticismo sobre resultados algo redundantes e superficiais; e, devagarinho, como em qualquer peça de software, veio a compreensão e o domínio que permitiam resultados extraordinários.
O primeiro grande resultado em Portugal surgiu em março, com uma campanha de comunicação desenvolvida com o objetivo de atrair talento para uma empresa. Toda a conceção da campanha foi feita com recurso a ferramentas de IA Generativa. Não só o ChatGPT, mas também outras de criação de imagem, análise linguística, vídeo, criação de música, entre outras — um grande balão de ensaio para o que era possível fazer melhor e mais rápido. Em três dias, com três pessoas, foi feito o que normalmente demoraria duas semanas com seis indivíduos. Uma melhoria de produtividade enorme, mas também de eficiência, com os resultados a ultrapassarem as expectativas: o impacto no envio de currículos, que era um dos grandes objetivos deste caso, foi imediato.
Hoje, as ferramentas de Generative AI fazem parte do dia a dia das agências de comunicação do futuro: mais rápidas e mais eficientes. Mas com algumas reversas. Não é a utilização destas ferramentas que as define, mas sim a sua compreensão, domínio técnico e uso ético. Porque, se este ano nos ensinou alguma coisa, é que não basta pedir ao ChatGPT — é preciso saber como o fazer.
3. Utilizar Inteligência Artificial de forma responsável é o caminho para a inovação
Por Fernando Matos, Partner e co-fundador da Closer Consulting
É surpreendente como, em apenas um ano desde o lançamento do ChatGPT, o mundo do trabalho e a própria sociedade se transformaram drasticamente. A era pré-ChatGPT parece agora um conceito quase primitivo. O impacto desta plataforma é tal que desafiar alguém a recordar como trabalhava antes dela pode levar a uma pausa reflexiva. Nas últimas duas décadas, testemunhei inúmeras inovações tecnológicas, mas nenhuma se compara à revolução desencadeada pelo ChatGPT, uma transformação apenas comparável à invenção da Internet. E por que é que digo isto?
A existência do ChatGPT representa mais do que a facilidade em aceder a esta tecnologia. A sociedade está, hoje, muito mais ciente daquilo que a IA significa, em particular a IA generativa, e procura saber mais sobre o tópico e como o pode aplicar no seu dia a dia. Não é só o ChatGPT que faz parte das tabs dos profissionais, mas também plataformas como MidJourney, Vertex AI ou Make-A-Scene são apenas algumas das várias já utilizadas diariamente para uma série de tarefas empresariais e que permitem uma capacidade de produção inédita, através da simplificação de processos e da rapidez de respostas.
É importante perceber, porém, que com este “grande poder” vem a “grande responsabilidade” de utilizar plataformas como o ChatGPT de forma ética e consciente. E este é um tema que nunca deve ser ignorado e que, durante este último ano, se tornou ainda mais óbvio. É necessária uma utilização responsável da IA. Tenho defendido a importância de criar guidelines muito claras, de forma a regular a utilização desta tecnologia e do seu desenvolvimento, sob pena de entrarmos num território que se torna bastante dúbio e que tem muitas ramificações.
É dever das entidades reguladoras, em conjunto com os profissionais da área (sejam do setor público ou privado) e com a própria sociedade, definirem estas regras, de forma a balizar o tipo de decisões que podem, ou não, ser tomadas. Simultaneamente, e porque uma regulação coerente só existe se houver um entendimento profundo sobre o tema, a capacitação para a utilização e desenvolvimento da IA Generativa é fundamental.
Ao garantir que a sociedade está pronta para lidar com o potencial desta tecnologia, através de uma estratégia de literacia digital que deve alcançar toda a sociedade, garantimos, também, um desenvolvimento sustentável. A regulação nunca deve ser vista como obstáculo, mas sim como impulsionadora da inovação. Uma inovação responsável e segura, que nos permite continuar a atingir transformações tecnológicas verdadeiramente impactantes. É isto que desejo para o futuro.
4. A Inteligência Artificial chegou para ficar: estamos prontos?
Por Ivo Bernardo, Partner e Data Scientist da DareData Engineering
Inteligência Artificial já não é ficção científica. Se, até há pouco tempo, “IA” era um termo incompreendido, que apenas profissionais do setor entendiam de uma forma mais imediata, hoje é raro encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar sobre “o potencial da máquina”. Em particular, nas organizações, o ChatGPT tem sido, claramente, a grande estrela.
Independentemente do setor, os profissionais, especialmente aqueles que olham para a tecnologia como impulsionadora de produtividade, estão a conseguir trabalhar de forma mais rápida, atingindo resultados que, antes, demorariam dias ou semanas.
Enquanto profissional de consultoria em Dados e IA, tenho sentido muita diferença na forma como os decisores organizacionais olham para esta tecnologia. Antes, explicar modelos era desafiante, devido à natureza abstrata das fórmulas matemáticas; hoje, a linguagem natural facilita a compreensão. A automatização dos processos nas empresas é outra mudança notável que destaco. Tarefas mais morosas podem ser feitas por máquinas, sem intervenção humana, deixando espaço para que os profissionais se foquem nas suas capacidades criativas e inovadoras, sem terem de estar constantemente a quebrar o seu foco.
Apesar de haver riscos e de muito se debater sobre a questão da substituição das pessoas pela máquina, acredito que plataformas de IA Generativa, estilo ChatGPT ou outras de geração de texto, vídeo, imagem, têm um potencial de trazer benefícios para a sociedade, por acrescentarem um valor extraordinário às ações humanas.
Finalmente, todas as tecnologias de IA Generativa trazem o que me parece ser uma maior ênfase na autenticidade. Cada vez mais. As pessoas querem saber o que é autêntico, e este debate será cada vez mais relevante. Porque antes sabíamos com facilidade se algum conteúdo era manipulado, mas hoje em dia torna-se complexo — nalguns casos praticamente imperceptível — diferenciar aquilo que é verdadeiro daquilo que foi feito por uma máquina. Isto leva-me sempre a pensar naquilo que é efetivamente real, e no que isso significa. É um pensamento interessante, até um pouco filosófico, porque podemos perguntar-nos se aquilo que a máquina cria não passa também a ser, por si só, real.
Um recente exemplo é a música dos Beatles, que foi lançada há pouco tempo, através do uso da IA. Deixa de ser “real” ou de ter valor intrínseco? Onde nos posicionamos sobre este assunto? Estamos numa zona cinzenta para a qual ainda não encontrei uma resposta definitiva. E quer gostemos ou não, todos estes pontos e questões encontram-se na principal e verdadeira mudança provocada pelo “terramoto” Inteligência Artificial Generativa: agora, as pessoas sabem que a IA chegou de forma definitiva às nossas vidas e que não parará de evoluir. Veio para ficar. Como queremos lidar com ela?
5. ChatGPT: a “balança” por equilibrar da inteligência artificial
Por Ricardo Rocha, US Managing Director & Head of Global Marketing da Noesis
O impacto desta ferramenta, em apenas 365 dias, foi impressionante! Desde a agenda mediática até à investigação académica, o software da OpenAI conseguiu criar uma disrupção sem precedentes na indústria e influenciar a percepção da sociedade em torno da inteligência artificial. Ao mesmo tempo, com apenas um ano de existência, é ainda difícil fazer uma avaliação sobre o impacto a longo-prazo da massificação da IA generativa.
Ao fim de um ano, as incertezas ainda são muitas e há vários tópicos que devem ser pesados nesta balança de “prós e contras”, sobre o impacto do ChatGPT na sociedade.
Desde logo, as interrogações éticas. Os algoritmos de IA ao serem programados, na sua génese, por seres humanos, têm, inevitavelmente inclinações morais e éticas, passíveis de estarem refletidas no conteúdo apresentado. Por outro lado, questões sobre a própria veracidade da informação disponibilizada, exigem um olhar crítico e não uma utilização acrítica deste tipo de ferramentas. Acrescente-se ainda a responsabilidade pelas decisões tomadas, baseadas na informação fornecida pelo ChatGPT – em casos prejudiciais, quem é responsabilizado? A OpenAI? O utilizador?
Por outro lado, salvaguardadas as questões anteriores, é inegável que os ganhos de eficiência são consideráveis. Por exemplo, na análise de dados. As ferramentas de IA permitem analisar elevadas quantidades de dados, e “interpretá-los” em segundos. Potencialmente, estamos a falar em poupar horas de trabalho que poderão ser alocadas a tarefas mais complexas que requerem a intervenção cirúrgica de um profissional qualificado.
Porém, esta “facilidade” e a democratização do acesso à IA acarreta também enormes desafios de segurança para as organizações. Pegando num exemplo simples, se um determinado colaborador partilhar um conjunto de dados, eventualmente sensíveis e confidenciais, da sua organização, com estas ferramentas, quais as salvaguardas que existem na proteção desses dados? Onde são armazenados? Por quem podem ser acedidos? Em que circunstancias? Estas são algumas das grandes questões com que os responsáveis de IT se deparam atualmente nas suas empresas. Qual o equilíbrio entre produtividade, eficiência, competitividade… e segurança? Esta é uma preocupação que deve ser endereçada desde já!
A evolução das ferramentas de AI e do próprio ChatGPT tem sido exponencial. Os modelos de processamento de linguagem natural (NLP) estão cada vez mais evoluídos e as interações são cada vez mais “humanas”, o que facilita a sua adoção pelo utilizador “comum”. A capacidade da IA generativa para aferir o contexto de uma determinada “conversa” e fornecer respostas coerentes e contextualmente relevantes é um dos grandes atributos deste tipo de soluções. Um elemento crucial para criar interações significativas e envolventes, melhorando a experiência do utilizador.
Face aos desafios e benefícios identificados, será difícil prever exatamente qual o impacto a longo-prazo do ChatGPT, e ferramentas similares, na sociedade. Mas temos hoje uma certeza…vai ser significativo! Irá mudar a forma como trabalhamos, estudamos, acedemos a informação, gerimos (e geramos) conhecimento. Impacto semelhante talvez só a massificação do acesso à internet, no início do século. Como todas as revoluções, há prós e contras que pesam na balança…mas a expectativa é que o melhor está para vir!
Se endereçados os desafios éticos corretamente, se mitigada parte dos riscos de segurança, se incorporada a tecnologia nos processos e sistemas das nossas empresas, estou certo de que conseguiremos alcançar o tão desejado equilíbrio. Uma coisa é certa: um ano depois do surgimento do ChatGPT, não há ninguém que lhe fique indiferente!
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