Tudo começou com a falência do banco de investimento norte-americano, Lehman Brothers, a 15 de setembro de 2008. A partir da queda desta instituição “too big to fail”, a crise que começara com o subprime um ano antes instala-se definitivamente no mundo financeiro. E começam os seus impactos socioeconómicos.
Ora é a partir desta crise de 2008 que, 22 artistas contemporâneos, dos Estados Unidos e América Latina à Europa e ao Médio Oriente, passando por Portugal, arranca a exposição Tensão & Conflito. Ao todo são 22 obras espalhadas na galeria principal e na Vídeo Room do MAAT - Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia -, em Lisboa. Uma exposição que concilia a arte à economia e que mostra visões pessoais sobre os efeitos da grande recessão (a maior pós 1929), a agitação política a ela associada e os aspetos sociais menos óbvios que dai emergiram. “Todos os artistas têm posição ativa da sociedade”, destacou Luísa Santos, curadora convidada.
A crise dos refugiados e as migrações, a Grécia, a questão Síria, as abordagens na imprensa, a censura e outros temas paralelos como o racismo, com abordagens reais e ficcionais são retratadas em vídeo, uns mais demorados que outros. “É arte em vídeo, não videoarte como a conhecemos”, continuou, Luísa Santos, no arranque de uma visita guiada a uma exposição que pede tempo a quem visita. “A linguagem vídeo exige mais atenção e compromisso do espetador. O desafio é convencer as pessoas a ficarem a ver a sequência do vídeo até fim”, sublinhou Pedro Gadanho, igualmente curador. “Há trabalhos que pedem para a entrar e perder tempo”, reforçou Luísa Santos.
A crise e as crises da crise
Falar de crise é falar da crise grega. Com argumento de Yorgos Zois o vídeo mostra os efeitos da intervenção da Troika na sociedade helénica. Mostrando filas do antes e depois, do supermercado à discoteca, passando pela caixa de multibanco, é um “retrato de todos na crise”, frisou Pedro Gadanho.
A portuguesa Patrícia Almeida “puxa” “não um vídeo” mas uma “sequência de imagens de uma ativista quando entra no BCE e atirou confettis a Mario Draghi”, descreveu Luísa Santos.
Os atentados de Paris - Charlie Hebdo -, serve de mote ao trabalho da artista brasileira Marilá Dardot ou a apropriação títulos jornais que refletem a crise financeira, com os títulos a saírem de uma caixa de música, do argentino Jorge Macchi, são outros dos trabalhos expostos.
Há a crise e as crises que nascem com a crise. Se a narrativa da exposição começa com a crise global de 2008, outras podem ser vistas e percecionadas. “São crises muito atuais, espoletadas por esta, que se foram multiplicando em outras crises, nomeadamente a dos refugiados", refere a curadora.
As migrações e os migrantes são o tema de uma visão futuristas do dinamarquês Nikolaj Larsen (com um vídeo, claustrofóbico, a transportar-nos para os naufrágios no Mediterrâneo) e do português Paulo Mendes, uma obra de 2005, ultrapassando a baliza da exposição, mas que foi “encomendada”, “revisitada e feita especialmente para aqui” explicou Luísa Santos, apontando paras as imagens de videovigilância da entrada de migrantes por Melilla, fronteira de Espanha e África.
De Portugal chega igualmente o trabalho de Artista Maria Trabulo, do Porto no qual a artista retira as bandeiras do Euro 2004, refletindo o “momento euforia e de tristeza do euro 2004”, atestou Luísa Santos.
Um olhar de África e de Bofa da Cara (Angola) sobre a Europa e temas como o racismo retratados pelo alemão Mario Pfeifer, com #blacktivism (2015) podem igualmente ser visionados na exposição “Tensão & Conflito”, no MAAT, uma exibição patente até 19 de março e que termina com a apropriação do espaço público com imagens retiradas da internet sobre a música “Happy” (Pharrell Williams), intermediada com imagens de manifestação e repressão movimentos populares.
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