A publicação nasce de um coletivo de autores e artistas, que já se conheciam “através de lançamentos de livros uns dos outros”, e que em maio de 2015 decidiram juntar-se na Sociedade de Instrução Guilherme Cossul, para uma leitura encenada de excertos dos seus próprios livros.
Nascia assim o coletivo “A Morte do Artista”, composto por Manuel Halpern, João Eduardo Ferreira, Firmino Bernardo, Fernanda Cunha e Carina Bernardo, aos quais se juntou depois o fotógrafo e artista plástico Paulo Romão Brás, responsável pelo design e pela paginação da revista.
O escritor homenageado é Mário de Carvalho, de quem será publicada uma ficção inédita e a quem será atribuído um prémio, uma peça da autoria de Paulo Romão Brás.
A revista terá “contos, poemas, ensaio, recensões — a parte dedicada a Mário de Carvalho tem também vários textos sobre ele, incluindo um de Natália Constâncio, que conhece bem e tem grande paixão pelo trabalho deste escritor – ilustrações de André Ruivo e fotografia manipulada de Paulo Romão Brás”, disse à Lusa Manuel Halpern.
Além dos textos de e sobre Mário de Carvalho, a revista inclui inéditos da autoria dos fundadores, mas também de Alfredo Cameirão, Carlos Bessa e Pedro Castro Henriques.
“A Morte do Artista” terá um formato “o mais distante possível” do livro (caso da revista Egoísta) e bem mais próximo de uma revista ou de um jornal, esclarece.
“A ideia inicial era fazer um jornal, algo contracorrente. A publicação tem 60 páginas, com dois agrafes ao meio, parece uma revista, embora o formato seja diferente, no sentido conceptual, porque é um quadrado e o papel é melhor, mas é totalmente uma revista e nós gostamos que seja assim”.
Assume-se como uma “revista literária de periodicidade eventual”, mas Manuel Halpern confessa que gostaria de conseguir todos os anos lançar um número e de, em todos eles, homenagear um escritor.
Para já, resolveram “fazer um número e ver o que acontece”.
Esse primeiro exemplar vai ser lançado no próximo sábado, na Biblioteca Camões, em Lisboa, às 16:30, e posteriormente apresentado no Festival Literário da Gardunha, no Fundão, no dia 20, às 18:30, só sendo depois possível comprá-lo ‘online’ (em amortedoartista.wordpress.com), por três euros.
“Quisemos que tivesse um preço acessível. Não é para ganhar dinheiro nenhum, só gostaríamos mesmo era de não perder dinheiro, que se divulgasse o máximo possível e que não seja pelo preço que alguém não a queira comprar”, disse Manuel Halpern, explicando que não tiveram quaisquer apoios para este projeto.
A revista foi criada pelo grupo de autores, que não tiveram apoio nem mecenas, nem os procuraram, porque quiseram ter a liberdade de fazer a revista como a imaginaram, convidando a colaborar quem quisessem.
“Era a forma prática disto avançar. Não temos nada contra as editoras, mas esta é uma edição nossa, foi a forma mais livre e prática de avançar. A parte da liberdade é muito importante. Convidámos quem quisemos para colaborar, e todos aceitaram”, explicou.
Há dois motes transversais a toda a revista: um é a ideia da “morte do artista”, interpretada de forma bastante diferente pelos autores, e o outro é “aprender a cair para cima”, que tem a ver com a edição, “com a frustração de quem quer editar e não consegue, um tema também abordado em vários textos da revista”.
Aliás, o próprio tema “A Morte do Artista”, escolhido tanto para o coletivo como para a revista, “é uma reflexão sobre o mundo editorial e o que se passa hoje: quando o autor tem de se promover a si próprio é a morte do artista, mas quando não se promove também é. Ele está condenado à partida”, diz Manuel Halpern.
Assim, os seus fundadores decidiram “morrer juntos”, na ânsia “de nascer de novo e de nascer melhor”.
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