16
O Justin acabou por dormir com seis ou sete raparigas nas semanas depois de nos termos separado oficialmente — pelo menos, foi o que me chegou aos ouvidos. Eu percebo, era o Justin Timberlake. Esta era a altura de ele avançar a solo. Ele era o sonho de qualquer rapariga. Eu estava apaixonada e compreendo o fascínio que as pessoas tinham por ele.
Decidi que, se o Justin iria sair com pessoas, eu devia tentar fazer o mesmo. Há muito tempo que não curtia com ninguém, por causa do desgosto que tinha tido e por andar em digressão. Nesse inverno, vi um tipo que achei bonito, e uma amiga minha, promotora de uma discoteca, disse que eu tinha bom gosto.
«Esse tipo é o máximo! Chama-se Colin Farrell e neste momento está a participar num filme», disse a minha amiga.
O melhor era não perder tempo. Meti-me no carro e fui até ao set do filme de ação que ele estava a rodar, S.W.A.T. Quem é que eu achava que era?
Não havia segurança nem nada e, por isso, fui diretamente para o estúdio de som, onde estavam a gravar uma cena numa casa. Quando o realizador me viu, disse-me: «Senta-te aqui na minha cadeira!»
«Está bem», disse eu. E sentei-me na cadeira a observar as filmagens. O Colin veio ter connosco e perguntou: «Tens algumas dicas para o que devo fazer?» Estava a convidar-me a dirigi-lo.
Acabámos por ter um combate que durou duas semanas. Combate é a única palavra que me ocorre — estávamos sempre enrolados um no outro, agarrando-nos tão apaixonadamente que parecia que estávamos num combate de rua.
Durante esse nosso tempo de diversão juntos, ele levou-me à estreia de um thriller em que entrava, chamado O Recruta, com Al Pacino. Fiquei muito lisonjeada por me ter convidado. Levei uma parte de cima de um pijama. Pensei que era uma camisa porque tinha umas tachas minúsculas, mas agora quando vejo as fotografias, penso: É verdade. Definitivamente, fui à estreia do Colin Farrell com um casaco de pijama.
Fiquei tão empolgada por estar na estreia. Estava lá a família toda do Colin, e foram todos muito amáveis comigo.
Como já tinha feito antes quando me sentia demasiado presa a um homem, tentei convencer-me de todas as maneiras possíveis e imaginárias de que não era nada de importante, que andávamos apenas a divertir-nos, que neste caso eu apenas estava vulnerável porque ainda não tinha esquecido o Justin. Mas, por um breve momento, pensei mesmo que podia haver ali qualquer coisa.
As desilusões que sofria na minha vida romântica justificavam apenas uma parte do meu isolamento. Sentia-me sempre muito desconfortável.
Tentei ser mais social. Eu e a Natalie Portman — que conhecia desde que éramos pequenas e andávamos no circuito dos teatros de Nova Iorque — até organizámos uma festa de Passagem do Ano.
Mas fi-lo com muito esforço. Na maior parte dos dias, nem sequer conseguia arranjar coragem para telefonar a um amigo. A ideia de sair de casa e ser corajosa no palco ou em bares, mesmo em festas ou jantares, enchia-me de medo. Era raro sentir alegria junto de grupos de outras pessoas. Na maior parte do tempo, eu tinha uma ansiedade social grave.
A forma como a ansiedade social funciona é: aquilo que para a maioria das pessoas é uma conversa perfeitamente normal, para uma pessoa com ansiedade social é arrasador. Estar ao pé de outras pessoas, especialmente numa festa ou em qualquer outra ocasião em que haja expetativas de nos apresentarmos bem, provoca, sem qualquer razão aparente, picos de vergonha. Eu tinha medo de ser julgada ou de dizer uma parvoíce qualquer. Quando esse sentimento me ataca, só quero estar sozinha. Fico assustada e só quero desculpar-me para ir à casa de banho e depois sair de mansinho.
Eu ora era muito sociável, ora estava incrivelmente isolada. Estava sempre a ouvir dizer que parecia muito confiante. Quem estava de fora tinha dificuldade em compreender como é que alguém que conseguia cantar à frente de milhares de pessoas podia ficar em pânico nos bastidores só por estar com uma ou duas pessoas.
Esse tipo de ansiedade é estranho. E a minha foi aumentando à medida que se foi tornando claro para mim que o que quer que eu fizesse — e até muitas coisas que não fizesse — se tornava uma notícia de capa. As notícias eram muitas vezes ilustradas com fotografias minhas, muito pouco lisonjeiras, tiradas quando eu menos esperava. Já estava habituada a preocupar-me com o que os outros pensavam sobre mim; ser o centro das atenções a nível nacional transformou essa minha tendência natural em algo insuportável.
Ao passo que, na maior parte das vezes, as notícias sobre mim não eram nada simpáticas, a imprensa do entretenimento estava cheia de histórias bonitas sobre o Justin e a Christina. O Justin apareceu seminu na capa da Rolling Stone. A Christina apareceu na capa da Blender, vestida como uma dona de bordel do Velho Oeste. Apareceram juntos na capa da Rolling Stone, ele com uma T-shirt sem mangas preta, deitando-lhe um olhar sensual, e ela a olhar para a câmara, vestida com uma blusa preta que apertava à frente com um cordão. No artigo ela também afirmava que eu e o Justin devíamos fazer as pazes, o que era confuso tendo em conta as coisas negativas que dissera sobre mim por toda a parte.
Custava-me ver pessoas que tinha conhecido tão intimamente falarem assim de mim na imprensa. Mesmo que a sua intenção não fosse serem cruéis, a sensação que tinha era que estavam a deitar sal na ferida. Porque é que era tão fácil para toda a gente esquecer-se de que eu era um ser humano — suficientemente vulnerável para ficar magoada com aqueles títulos?
Desejosa de desaparecer, dei comigo a morar sozinha, durante meses, em Nova Iorque, num apartamento de quatro andares, no NoHo, onde a Cher tinha morado. Tinha tetos altos, um terraço com vista para o Empire State Building, e uma lareira muito mais bonita do que a que tínhamos na sala da nossa casa em Kentwood. Teria sido um apartamento de sonho para servir de base enquanto descobria a cidade, mas quase nunca saía de casa. Uma das poucas vezes que saí, um homem que estava atrás de mim no elevador disse qualquer coisa que me fez rir; voltei-me, e era o Robin Williams.
A determinada altura, percebi que tinha perdido a chave do apartamento. Eu era, indiscutivelmente, a maior estrela do mundo e nem tinha a chave do meu próprio apartamento. Que raio de idiota. Estava presa, tanto emocional quanto fisicamente; sem uma chave, não poderia ir a lugar nenhum. Também não estava disposta a comunicar com ninguém. Não tinha nada a dizer. (Mas, confie, agora tenho sempre a chave da minha casa.)
Não ia ao ginásio. Não ia comer fora. Ninguém me via. Só falava com o meu segurança e com a Felicia que — agora que eu já não precisava de alguém que tomasse conta de mim — se tinha tornado minha assistente e continuava a ser minha amiga. Desapareci da face da terra. Mandava vir comida de fora a todas as refeições. E, provavelmente vai parecer estranho, mas sentia-me satisfeita por ficar em casa. Gostava de lá estar. Sentia-me segura.
Eu saía muito raramente. Uma noite, calcei uns sapatos de salto alto e vesti um vestido de 129 dólares, da Bebe. A minha prima levou-me a uma discoteca underground, sexy, com teto baixo e paredes vermelhas. Dei umas passas num charro, naquela que foi a primeira vez que fumei erva. Mais tarde, voltei para casa a pé, para poder conhecer a cidade, partindo um dos saltos no caminho. Quando cheguei ao meu apartamento, fui para o terraço e apenas olhei para as estrelas durante horas. Naquele momento, senti-me unida a Nova Iorque.
Uma das poucas pessoas que veio visitar-me durante aquele período estranho e surreal foi a Madonna. Mal entrou, é claro que a casa passou a pertencer-lhe imediatamente. Lembro-me de ter pensado: Agora é a casa da Madonna. Linda de morrer, transpirava poder e confiança. Dirigiu-se logo à janela, olhou lá para fora e elogiou: «Bela vista.»
«Sim, acho que tem uma linda vista», anui.
A enorme confiança da Madonna ajudou-me a ver a minha situação com outros olhos. Acho que provavelmente ela teve uma noção intuitiva daquilo por que eu estava a passar. Na altura, eu precisava de alguma orientação. Ele tentou ser a minha mentora.
Chegou a realizar uma cerimónia de fitas vermelhas comigo, para me iniciar na Cabala, e deu-me uma arca cheia de livros Zohar para eu rezar. Tatuei na base do pescoço uma palavra em hebraico que significava um dos 72 nomes de Deus. Alguns cabalistas acham que significa «cura», que era aquilo que ainda estava a tentar fazer.
Em muitos aspetos, a Madonna teve um efeito positivo em mim. Disse-me que tinha de arranjar tempo para a minha alma, e eu tentei fazê-lo. Ela era o modelo de um tipo de força que eu precisava de ver. Havia tantas formas diferentes de se ser mulher nesta indústria: podíamos ficar com fama de divas, podíamos ser profissionais, ou podíamos ser «simpáticas». Eu sempre me tinha esforçado tanto para agradar: aos meus pais, ao público, a toda a gente.
Devo ter herdado esse sentimento de desamparo da minha mãe. Via a forma como ela era tratada pela minha irmã e pelo meu pai, e como ela não se insurgia. No início da minha carreira segui esse modelo e tornei-me passiva. Quem me dera que ela tivesse sido mais minha mentora do que a cabra má que foi para mim, para que eu tivesse aprendido mais cedo a agir assim. Se pudesse recuar no tempo, eu teria sido o meu próprio progenitor, o meu próprio parceiro, o meu próprio advogado — como sabia que a Madonna fazia. Ela tinha aguentado tanto sexismo e tanto bullying por parte do público e da indústria, e fora tantas vezes criticada pela sua sexualidade e, no entanto, sempre ultrapassou tudo.
Comentários