Assim já gostamos de vilões

Parece que a DC Comics está a fazer um grande esforço para corrigir alguns dos seus falhanços épicos da última década, em que foi perdendo progressivamente, em termos de popularidade, para a Marvel. Na construção de um universo de super-heróis (e de super-vilões), a casa de personagens como o Batman, o Super-Homem ou a Mulher Maravilha foi lançando projetos que, apesar de fazerem algumas centenas de milhões em receitas de bilheteira, acabavam sempre por ficar aquém das expectativas.

Depois da nova versão de quatro horas de “Justice League”, a cargo de Zack Snyder, ter sido lançada há uns meses (com críticas bem mais favoráveis), na semana passada, chegou a vez de “Suicide Squad” receber a sua extreme makeover. Em 2016, quando foi originalmente lançado, o filme fez quase 800 milhões de dólares em bilheteira, o que demonstrou a vontade de os fãs da banda desenhada verem no grande ecrã a história dos vilões que são obrigados a juntar-se e a salvar o mundo. No entanto, as reviews foram terríveis (o filme tem 26% no Rotten Tomatoes) e a maior parte das pessoas saiu do cinema com a mesma sensação: o guião do filme não era bom e não havia efeitos especiais ou atores do calibre de Jared Leto, Will Smith e Margot Robbie que o conseguissem salvar.

Passados cinco anos, a DC e a Warner Bros, que produziram o primeiro filme, decidiram que era altura de lhe dar uma segunda oportunidade, mas de uma forma peculiar. Não pensaram em fazer uma sequela. Não imaginaram um spin-off com uma ou duas personagens. Inclusive, nem replicaram a receita de “Justice League”, que consistiria em pegar na visão original e adicionar mais pedaços de história. O que decidiram fazer foi simplesmente esquecer que o filme original tinha existido e fazer outro que o pudesse substituir nos livros de História do Cinema, uma decisão que, vistas as coisas, poderá ter sido a mais acertada.

Primeiro, contrataram um dos mais populares realizadores e argumentistas dos filmes da Marvel, James Gunn, responsável pelos dois volumes de “Guardians of the Galaxy”, para dirigir e escrever uma nova história. Segundo, com o guião já desenvolvido, decidiram fazer regressar Margot Robbie (Harley Quinn), Viola Davis (Amanda Waller) e Joel Kinnaman (Rick Flag) para os papéis que já tinham desempenhado. Por último, incluíram no elenco nomes como Idris Elba, John Cena, Sylvester Stallone e a portuguesa Daniela Melchior para desempenhar os novos vilões-heróis, que iriam salvar o mundo.

E o que posso dizer, sem grandes spoilers, é que o filme é, a todos os níveis, bem superior àquele que o antecedeu. Os risos enervantes do Joker de Jared Leto e os pouco memoráveis restantes vilões originais foram substituídos por dois assassinos profissionais — Bloodsport (Elba) e Peacemaker (Cena) —, por um tubarão falante com a voz de Stallone, um vilão às bolinhas (têm de ver para perceber) e uma adolescente portuguesa capaz de controlar ratos com um dispositivo criado pelo seu pai. Este novo Suicide Squad tem a missão de recuperar provas de um projeto numa base estrangeira, que podem comprometer o governo americano. As regras são as mesmas de sempre: qualquer desvio do plano poderá causar a morte dos vilões, através de um chip que foi colocado na sua cabeça. Por isso, vai correr tudo suavemente e direitinho, certo?

No final, o filme conta a história de uma forma muito mais cativante, na qual não existem muitos tempos mortos, onde existe espaço para ficarmos a conhecer melhor as personagens e para criarmos empatia com estes vilões, e em que não existe medo de arriscar num registo humorístico, quer através da edição quer através dos diálogos, algo que James Gunn já tinha feito tão bem na Marvel. Há também uma boa dose de violência e uma cena em particular de Harley Quinn, que foi provavelmente a minha favorita. A única crítica que pode ser feita é o facto de não existir um grande vilão-vilão, mas quem precisa de um, quando se tem já uma equipa de vilões a fazer “o bem” tão mal.

Já chegou a altura

As férias são uma ótima altura para pôr alguns filmes em dia ou para rever alguns que foste ver ao cinema e que, passados alguns anos, já nem te lembras bem da história. Não há um critério universal, mas cada um de nós, à sua maneira, define um momento no qual já é aceitável ver um filme novamente, sem que nos sintamos aborrecidos por já saber o que vai acontecer. No meu caso, diria que costumo esperar dois anos antes de voltar a pôr os olhos num filme que vi no cinema. Será que é muito, será que é pouco? Digam-me, respondendo a esta newsletter, como é que costumam fazer.

Em homenagem a este dilema de primeiro mundo, esta semana decidi escolher três filmes, um por plataforma de streaming, que valem uma primeira ou segunda oportunidade.

  • "Once Upon a Time in Hollywood" (Netflix): neste filme de Quentin Tarantino, Leonardo DiCaprio, Brad Pitt e Margot Robbie brilham numa história sobre Hollywood nos anos 60, onde um ator, longe do seu primor, faz o seu melhor para se manter relevante, com a ajuda do seu duplo.

  • "Deadpool" (Disney+): demorou uma década a chegar ao grande ecrã, mas o herói mais irreverente da Marvel, protagonizado por Ryan Reynolds, tornou-se numa referência da cultura pop e revolucionou a forma como um filme pode ser comunicado na era das plataformas digitais.

  • "Vice" (HBO Portugal): Christian Bale desempenha na perfeição o papel de Dick Cheney, considerado o mais poderoso vice-presidente da história dos EUA, que teve um impacto em alguns dos principais acontecimentos geopolíticos do século XXI, nomeadamente as Guerras no Iraque e no Afeganistão.

Créditos Finais

  • Podcast. No episódio mais recente do nosso “pod”, falámos das nossas séries não-americanas favoritas. Ouve aqui e partilha connosco quais são as tuas.

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