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No limbo entre gostar e odiar
Com a estreia da terceira temporada de “You” na Netflix, é sempre giro recordar como esteve muito perto de ser uma série à qual a maior parte de nós não ia dar muita atenção. Em 2018, “You” era simplesmente um projeto que esperava que o facto de ser protagonizado por uma das estrelas de “Gossip Girl” (Penn Badgley) fosse suficiente para atrair alguma audiência num canal chamado Lifetime, que é desconhecido para a maior parte de nós e que, mesmo nos EUA, não é dos mais populares. A série aborda a história de Joe Goldberg, um jovem que trabalhava numa livraria em Nova Iorque e, que devido a vários traumas de infância, tem uma forma muito peculiar e errada de se apaixonar.
Um novo interesse amoroso torna-se rapidamente uma obsessão que leva a que Joe se torne num stalker. Em muitas situações, até consegue conquistar “a rapariga”, mas a sua natural desconfiança em relação aos outros e o seu comportamento levam a que tome más decisões e que alguém saia magoado… ou morto. Na primeira temporada, somos apresentados à mais recente paixão de Joe, Beck, uma jovem que capta a sua atenção enquanto compra um livro na loja onde trabalha. Ao longo dos episódios, vemos o comportamento suspeito de Joe nas ações que vai decidindo tomar, mas também na sua forma de pensar. Aliás, diria que as melhores partes da série são quando este se coloca em monólogos internos a analisar uma situação ou uma pessoa e nos faz um “step by step” de como decidiu resolver um problema que provavelmente foi criado por si.
Portanto, a série tinha todos os elementos para correr bem, tanto que mesmo antes da sua estreia, em setembro de 2018, a Lifetime decidiu renová-la para uma segunda temporada. Só que a verdade é que os episódios da série na Lifetime não tiveram ratings muito bons e o futuro de “You” começou a ser questionado. Até que foi lançada em modo binge na Netflix, que entretanto tinha adquirido os direitos de distribuição da série. No primeiro mês no serviço de streaming, “You” foi visto por mais de 40 milhões de pessoas e rapidamente se tornou num fenómeno.
Entre os principais elogios, estava o facto de a série, através de uma história meio macabra, ser capaz de incluir várias críticas à sociedade atual como o perigo das redes sociais, a importância do movimento #MeToo e, mais especificamente desta terceira temporada, uma reflexão, digamos assim, sobre o grupo de pessoas que são anti-vacinas.
Até agora, “You” não conseguiu destronar “Squid Game” do top da Netflix, mas está num honroso segundo lugar. Esta terceira temporada, com tudo o que tem de bom e de mau, confirma que Joe Goldberg é uma das personagens mais interessantes e controversas dos últimos anos, capaz de no mesmo episódio causar empatia e completo repúdio. É esse limbo que nos prende à série e que nos fez esquecer que, algures no tempo, Penn Badgley era só um rapaz atrás de Serena Van der Woodsen.
- Veio nos livros: “You” é baseado numa saga de livros da autoria de Caroline Kepnes.
- Fun fact: alguém se deu ao trabalho de contar o número de vezes que “you” é dito nas primeiras duas temporadas… Foram 3.857.
A melhor série do mundo (atualmente)
Aquela que é considerada por muitos como a melhor série de televisão, hoje em dia, também regressou com a sua terceira temporada à HBO Portugal. A série acompanha a história da família Roy, que é afetada por um anúncio importante. O patriarca, Logan Roy, CEO da Waystar Royco (uma espécie de Disney ficcional), tem um problema de saúde grave e deverá anunciar em breve a sua sucessão na empresa.
Em linha, estão os seus quatro filhos - Kendall, Roman, Shiv e Connor -, que rapidamente se tentam posicionar para cair nas boas graças do pai, gerando uma guerra familiar que é deliciosa de observar. Cada um têm ligação e uma proeminência diferente na Waystar, mas todos começam a preparar um futuro sem o pai, ao mesmo tempo que tentam receber o amor que durante a sua infância nunca receberam. Claro que, para isto, formam alianças, planeiam traições e mantêm um contacto constante com o pai emocionalmente distante (rima não intencional) para saber os seus pensamentos e conseguirem extrair algum tipo informação sobre aquilo que vai decidir fazer.
“Succession” consegue ter o equilíbrio perfeito entre drama, comédia e sátira, muito graças aos papéis que atribui às suas personagens e às relações que estabelece entre elas. Roman, independentemente do contexto onde esteja, vai criar um momento engraçado pela sua reação ou pela forma provocatória como fala. Greg (primo dos irmãos) e Tom (marido de Shiv) vão gerar um momento de humor sempre que partilharem uma cena. Por outro lado, Logan, Kendall ou Shiv serão sempre responsáveis pelos momentos de maior tensão e maior seriedade na série. É um balanço desafiante de manter, porque podia fazer-nos sentir estar a ver dois tipos de série em simultâneo, mas “Succession” fá-lo incrivelmente bem.
E depois há a música. Poucas séries utilizam a sua banda sonora de uma forma tão exemplar como esta. Há um jingle muito específico que “Succession” tira do seu genérico e que usa ao longo dos episódios para indicar que algo está prestes a acontecer e que shit is about to get real para alguma personagem ou para a família de uma forma geral. Pode soar repetitivo, mas é uma questão de ver para crer.
Nesta terceira temporada, “Succession” mantém a receita que lhe trouxe sucesso e o episódio que estreou esta segunda-feira faz-me pensar que o que aí vem promete e pega precisamente no momento épico no qual a última temporada acabou. Rezo para que venham mais desses.
Podcast Acho Que Vais Gostar Disto
Depois de, em 1973, a série "Cenas da Vida Conjugal", estrear na Suécia, a taxa de divórcio do país aumentou e há quem diga que a responsabilidade é da produção realizada por Ingmar Bergman. O enredo foca-se num casal em ponto de rutura e os vários episódios acompanharam a sua queda, mas o sucesso foi tanto que acabou por ser adaptada para o cinema, num filme com mais de duas horas e meia que pode ser visto na HBO Portugal.
Agora, dezenas de anos mais tarde, Hagai Levi resolveu fazer uma adaptação com algumas diferenças e "Scenes From a Marriage" está a ser um sucesso. O último episódio da minissérie estreou há uns dias, e não podia ser melhor altura para eu, o João Dinis e a Mariana Santos discutirmos o tema no podcast Acho Que Vais Gostar Disto.
Neste episódio falou-se da wokeness desta versão, das principais diferenças para o original e do porquê de ficarmos sempre do lado de uma das personagens dos filmes e séries que vemos, independentemente daquilo que eles façam.
Créditos Finais
- Álbum da semana. É este.
- Trailers que importam ver: “The Batman”, “Get Back”, “Ozark”, “Being The Ricardos” e “Glória”.
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