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Ode a Ted Lasso
No podcast Acho Que Vais Gostar Disto nomeei, há duas semanas, “Ted Lasso” como a melhor série de comédia do ano. E não é que, para minha surpresa, na semana seguinte, descobri que o treinador mais bem disposto do mundo estava de regresso com os primeiros dois episódios da segunda temporada?
A série beneficiou de vários fatores que levaram a que se tornasse no primeiro grande hit da Apple enquanto plataforma de streaming. Quando saiu, em julho de 2020, estávamos todos a passar por uma fase particularmente complicada. As quarentenas e recolheres obrigatórios tinham sido progressivamente levantados, mas havia uma grande incerteza sobre quando conseguiríamos regressar a alguma normalidade. E isso deixou muitas pessoas em baixo. Foi neste período que séries como “The Office” ou “Friends” regressaram à rotina de muitas audiências por terem uma fórmula que, durante 20-30 minutos, melhorava o nosso humor de alguma maneira.
“Ted Lasso” não tinha propriamente uma receita ganhadora. Começou em 2013, como um conjunto de anúncios que o canal NBC fez para promover a liga inglesa de futebol nos EUA, com o ator Jason Sudeikis no papel principal e a orientar equipas como o Tottenham ou o Leicester. As campanhas revelaram-se um sucesso e, uns anos mais tarde, Jason Sudeikis e a equipa envolvida nos anúncios começaram a trabalhar na adaptação da personagem a uma série. No entanto, havia algumas suspeitas de que o conceito poderia não funcionar num formato mais longo: primeiro, o público americano (ainda) não é conhecido por ser propriamente um grande fã de soccer; segundo, os direitos para a série foram comprados pela Apple que, ao contrário de plataformas como a Netflix e a HBO, não tinha ainda provado ser capaz de produzir um conteúdo que apelasse a uma vasta audiência.
2020 chegou e o novo “Ted Lasso” apresentou-se ao mundo pedindo algumas dicas a José Mourinho, não uma, mas duas vezes. De bigode, pullover por cima de um polo e zero noção de como se joga futebol na Europa, percebemos que o seu novo emprego será treinar um clube chamado AFC Richmond da principal divisão de futebol inglesa que, para os mais distraídos, é fictício e não existe. Mas como é que chegou lá? Essa é a parte mais gira.
Um divórcio milionário de um casal inglês levou a que a mulher ficasse dona do clube que o seu agora ex-marido detinha. Como vingança pelo seu coração partido, Rebecca decide fazer aquilo que causaria uma dor parecida ao seu ex-parceiro: despromover o clube que tanto amava, o AFC Richmond. Para isso, tem uma ideia mirabolante: contratar um treinador de futebol americano para comandar a sua equipa e confiar no seu completo desconhecimento do desporto para que os piores resultados sejam atingidos e o clube, no final, desça de divisão. O nome do novo responsável técnico? Adivinharam, Ted Lasso.
Uma onda de contestação entre media e adeptos rapidamente é gerada. “O que é que este americano vem para cá fazer?”, “Isto vai ser a ruína do clube”, “Tirem aquela mulher dali” são expressões que imagino a ecoar na boca dos adeptos fictícios do AFC Richmond, pela minha própria experiência de vinte anos a acompanhar futebol. No entanto, há uma variável da qual nem Rebecca, nem os media, os adeptos ou a própria audiência da série estavam à espera: a personalidade do treinador Lasso.
A boa disposição mesmo quando está a ser desmanchado de alto a baixo pela imprensa. O número infinito de ditados e analogias utilizadas para interpretar uma situação ou para fazer alguém sentir-se melhor. A confiança ingénua de que tudo ia ficar bem no fim, mesmo vendo os seus jogadores a jogarem mal durante 90 minutos. A bondade de estar sempre disposto a ajudar alguém, sem pedir nada em troca. Noutra altura, esta era uma personagem que tinha tudo para irritar algumas pessoas. Mas, em 2020, era exatamente aquilo de que precisávamos. Foram muitos meses a discutir os perigos do vírus, a debater medidas dos governos, a perspetivar o que podia ser o futuro. E, de repente, temos ali alguém, na nossa televisão ou computador, que quase parece que sai do ecrã e nos dá o conforto e a paz de que estávamos à procura.
Se eu tiver de dar uma razão para o sucesso de “Ted Lasso”, falo do facto de colocar a audiência e as personagens que o rodeiam a passar exatamente pela mesma experiência. Começamos com um sentimento de desconfiança sem saber muito bem o que é que aquela pessoa vai dar e acabamos a torcer por ele e pela sua equipa, sem que os resultados em nada afetem o amor que ganhámos por aquele clube. E isso, meus amigos, é o futebol.
- A segunda temporada: estreou na sexta-feira e é difícil falar dela sem dar alguns spoilers daquilo que acontece na primeira. Digamos que o treinador Lasso e os seus jogadores estão a enfrentar novos desafios após sete empates seguidos e que uma nova psicóloga promete mexer com as dinâmicas dos episódios anteriores.
- Emmys: 20 nomeações nas categorias de Comédia para “Ted Lasso”.
Créditos Finais
- Adrenalina: Para quem gosta de história de assaltos, a nova série documental da Netflix “Os Grandes Assaltos da História” (originalmente “Heist”) diz no título tudo aquilo que precisas de saber. Três histórias contadas, cada uma, em dois episódios de 45 minutos.
- Amy Winehouse: Na semana passada, no podcast Acho Que Vais Gostar Disto, marcámos uma efeméride mais triste: os dez anos da morte da cantora britânica. Relembrámos a sua história, o que a tornava especial e os fenómenos que levaram a que partisse demasiado cedo. Podes ouvir aqui.
- Álbum da semana: Este, porque a nostalgia foi forte.
- John Oliver: Há uns dias, no canal de YouTube do “Last Week Tonight” foi publicada uma história sobre uns desenhos animados dinamarqueses que se tornaram muito populares no seu país de origem, mas que se tornaram polémicos em países como Inglaterra. Descobre aqui quem é “John Dillermand”.
- Regresso: “Outer Banks” regressa esta sexta-feira. Vê aqui o trailer para a segunda temporada.
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