Álvaro Roquette e Pedro Aguiar-Branco, que dirigem a AR-PAB com galerias em Lisboa e Paris, adquiriram uma jarra de filigrana num mercado suíço de arte em 2015 e, quando a peça chegou à casa de Aguiar-Branco, foram as flores, que pareciam simples flores secas, que chamaram a atenção.
Cinco anos depois, as flores foram identificadas como sendo da autoria do mestre ouvires alemão Wenzel Jamnitzer, um maiores especialistas europeus na utilização da prata, que viveu no século XVI e que serviu vários imperadores do império sacro-romano, nomeadamente Maximiliano II e a sua descendência.
À agência Lusa, Álvaro Roquette explicou que o método usado por Jamnitzer para realizar estas flores é um processo químico que até hoje nunca conseguiu ser reproduzido, já que o ourives alemão usava uma liga de prata que cobria flores naturais flores ou até animais, dando-lhes um aspeto ultra natural.
"No século XVI até se dizia: são tão reais que um sopro as faz mexer como se estivessem na natureza", indicou o antiquário português.
Para a AR-PAB, é a descoberta de uma vida - existem apenas três exemplos similares em museus de todo o mundo.
"É mais do que [uma descoberta] inesperada. Acho que foi a grande descoberta das nossas vidas. Claro que já descobrimos nestes anos todos de trabalho objetos extraordinários que estão em museus e ótimas coleções, mas isto é maravilhoso", afirmou Roquette.
Os cinco anos de investigação levaram os antiquários portugueses a diferentes museus, especialmente ao Rijksmuseum, em Amesterdão, onde está o exemplo mais próximo das flores agora descobertas, mas também muitos testes às ligas de prata e milhares de radiografias para se chegar a esta atribuição.
As flores estão atualmente expostas na TEFAF, em Maastricht, nos Países Baixos, a feira mais importante do mundo no domínio da arte antiga.
"É a feira mais escrutinada e mais importante do mundo na Arte Antiga. Passou no crivo da peritagem e não houve dúvidas em relação à atribuição. Agora é um corrupio para virem ver as famosas flores", contou Álvaro Roquette.
As flores estão à venda por 800 mil euros e deverão ficar no mercado europeu, não só devido aos atuais constrangimentos de viagens impostos pelo Covid-19, mas também por uma questão de gosto artístico.
"[Deverá ir para] um mercado muito europeu porque, este ano, devido às restrições por causa das viagens, os americanos vieram muito poucos ou quase nenhuns e isto não é uma coisa para o mercado asiático, embora até possa acontecer", concluiu o antiquário.
Caso o negócio não seja encerrado na TEFAF, que decorre até este domingo, as flores vão regressar a Portugal e vão ficar em exposição na galeria da AR-PAB, em Lisboa.
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