O escritor recebe o doutoramento Honoris Causa no mesmo dia em que abre a Feira Internacional do Livro de Lima, que este ano tem Portugal como país convidado de honra.
Esta distinção foi outorgada a outras personalidades, entre as quais o Papa João Paulo II (1920-2005), o antigo Presidente de França general Charles de Gaulle (1890-1970), o ex-secretário-geral da ONU Ban Ki-Mon (1944) e o poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973).
A universidade Nacional Mayor de San Marcos, fundada em 1551, por ordem do imperador Carlos V, é a mais antiga das Américas contando atualmente com mais de 2000 professores e perto de 35 mil alunos, esclarece a editora do escritor.
A universidade foi frequentada por personalidades como o poeta César Vallejo (1892-1938), os romancistas Alfredo Bryce Echnique, 89 anos, e Mario Vargas Llosa, 86 anos, que recebeu em 2010 o Prémio Nobel da Literatura.
A proposta de atribuição da distinção ao autor de “Memória de Elefante” foi “assinada por 22 professores de literatura e teve como primeiro subscritor o presidente da Academia Peruana da Língua, Marco Martos”, tendo sido “aprovada pela assembleia da Faculdade de Letras e Ciências Humanas, passando depois pela Assembleia da Universidade, onde também teve aprovação unânime”.
”Todos os procedimentos se cumpriram num prazo recorde, o que, segundo uma declaração institucional da Cátedra de História da Cultura Portuguesa aí existente, ‘dá ainda mais relevo à distinção e mostra bem como a obra de António Lobo Antunes é conhecida e reconhecida na América latina'”, lê-se no mesmo comunicado.
Na resolução assinada, a reitora da universidade, Jeri Ramón Ruffner, justifica esta atribuição por a obra de António Lobo Antunes significar “uma radical renovação do estilo narrativo em língua portuguesa”, testemunhando “as contradições da pós-modernidade e mostrando um elevado espírito crítico, profundamente marcado pela memória da guerra colonial na qual combateu”, cita a editora.
Segundo a mesma resolução, este doutoramento Honoris Causa justifica-se também por António Lobo Antunes ser “constantemente mencionado como candidato ao Prémio Nobel da Literatura”, referem as Publicações D. Quixote, que têm publicado a obra de Lobo Antunes, 79 anos.
À cerimónia de entrega do diploma e respetiva medalha, no salão nobre da universidade, deverá assistir o ministro português dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho.
No pavilhão português da Feira Internacional do Livro de Lima, será apresentada uma peça de micro teatro baseada no livro ”Os Cus de Judas”, de Lobo Antunes, adaptada e dirigida pela atriz peruana Yvonne Ydrogo, que se ofereceu voluntariamente para dirigir a peça, por ser uma grande admiradora da obra do escritor português, escreve a D. Quixote.
Em setembro de 2019, o chefe de Estado português condecorou Lobo Antunes com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade. Na ocasião afirmou que o escritor “não precisava” do prémio Nobel da Literatura, porque “estava acima” desse galardão e, por isso, “não há que esperar notícias” de Estocolmo.
António Lobo Antunes nasceu em Lisboa. Em 2020 foi um dos nomeados para o Prémio Literário Internacional de Dublin, com o livro “Até que as pedras se tornem mais leves que a água”.
Lobo Antunes estudou na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, e especializou-se em Psiquiatria, que exerceu durante vários anos.
Mobilizado para o serviço militar, em 1970, embarcou para Angola no ano seguinte e regressou a Lisboa em 1973, experiência que marcou a sua produção literária, iniciada no final dessa década.
Em 1979, publicou “Memória de Elefante” e “Os Cús de Judas”, seguindo-se “Conhecimento do Inferno” (1980), livros “marcadamente biográficos, e muito ligados ao contexto da guerra colonial”, referiu à agência Lusa fonte da sua editora.
O mais recente livro de Lobo Antunes, “Diccionario da Linguagem das Flores”, foi publicado em outubro de 2020, e é protagonizado pelo comunista Júlio Fogaça (1907-1980). Foi o 36.º título do autor.
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