Assim que foi anunciada a line-up do NOS Alive, uma das primeiras questões foi como é que os públicos de Arctic Monkeys, Lizzo e Lil Nas X iam coexistir. Porque, à primeira vista, não parecia haver um elo de ligação muito forte e temeu-se entre muitos portadores de bilhete o impacto que isso podia ter nos respetivos concertos de cada um destes artistas. Lizzo e Lil Nas X chamando um público mais jovem e pop e Arctic Monkeys chamando aquele público mais generalista, característico de um cabeça de cartaz que, a caminho de celebrar 20 anos atividade, já atravessa diferentes gerações e grupos de fãs.
A banda de Sheffield sempre se desafiou a não ficar parada no tempo. Quem for ouvir os primeiros álbuns e comparar com o mais recente “The Car”, editado em 2022, podia perfeitamente assumir que se tratavam de dois grupos completamente diferentes. É esse um dos aspetos mais fascinantes sobre os Arctic Monkeys, a capacidade transformativa e os riscos que correm na procura de novas sonoridades, mesmo que não sejam para o agrado de todos, principalmente alguns dos fãs que tinham fidelizado pelo caminho.
Havia, por isso, uma curiosidade natural para perceber como é que o novo projeto podia ser integrado no espetáculo ao qual se juntava alguma expectativa para os mais curiosos que tinham decidido espreitar a “agenda” de algumas datas anteriores. Na tour pelo Reino Unido que marcou o início do verão para a banda, canções clássicas como “Mardy Bum” e “Certain Romance” estavam não só a ser tocadas, como a abrir os próprios concertos, pela primeira vez em dez anos. Outros clássicos como “Do Me A Favour” ou “Suck It and See” também iam tendo presença alternada em algumas das datas. Infelizmente, não teríamos oportunidade de as ouvir em Lisboa.
Há um ano, quando os Arctic Monkeys pisaram o palco do MEO Kalorama, o concerto pareceu uma exibição de um álbum de best of, com uma banda algo cansada das mesmas músicas de sempre e apenas à procura de criar algum buzz para o projeto que se seguia.
Nos NOS Alive fizeram algo diferente, mas foram buscar uma receita antiga.
Uma solução chamada AM
O quinto álbum de Alex Turner e companhia “AM” foi aquele que os lançou para o estatuto mainstream no mundo inteiro. Singles como “Do I Wanna Know”, “R U Mine” e “Why Do You Only Call Me When You’re High” são atualmente as músicas mais conhecidas da banda para o público geral e é expectável que façam parte de qualquer concerto, especialmente em festivais como o NOS Alive, onde é preciso criar uma familiaridade com muitos públicos diferentes. Até aqui tudo bem.
O problema é que com um álbum novo e com um diverso reportório de músicas por onde escolher, os Arctic Monkeys acabaram por decidir recair em sete músicas do “AM” num concerto que contou com 21, muitas delas “habitués” como “Snap Out Of It” ou “Arabella”. Não foi um ajuste específico para NOS Alive, dado que tem sido assim em vários países, mas acabou por dar origem a um concerto não muito diferente daquele que a banda já tinha dado em Portugal em 2018.
Se calhar, este é só o desafio natural ou a “maldição” de uma banda que se consegue manter junta durante tanto tempo e lançares tantos álbuns de sucesso. Torna-se impossível agradar a todos.
Não significa que tenha sido um mau concerto, muito pelo contrário. A entrada com “Sculptures Of Anything Goes”, do álbum mais recente resultou muito bem e o seguimento com “Brianstorm” abriu as hostes para o que se espera de um concerto de Arctic Monkeys, quase como uma espécie de abanão que prepara o público para qualquer música que possa aparecer a partir daí. Ao longo do concerto, todas as atenções vão para Alex Turner que, seja através da sua voz, seja através da sua postura muitas vezes descontraída e peculiar, prova o porquê de ser provavelmente a maior rockstar criada pelo século XXI.
“Fluorescent Adolescent” deixou-nos navegar no tempo com alguma nostalgia e “Body Paint” foi o momento da noite, com uma performance a todos os níveis memorável, principalmente com o outro que a banda adiciona ao vivo, relativamente à versão de estúdio de um dos singles de “The Car”. Ouviu-se inclusive várias na plateia a perguntar pelo nome da música para escutarem quando chegassem a casa. Não há melhor sinal de trabalho bem feito do que isto.
A noite terminaria com “I Bet You Look Good On The Dancefloor” e com “R U Mine”, acompanhadas de um nevoeiro que entretanto ia caindo e que algumas pessoas tentam afastar com “moshes” de despedida, sem sucesso.
Ainda pelos palcos secundários
Os The Amazons abriram o Palco Heineken no segundo dia do NOS Alive e mostraram ser tudo o que esperamos de uma banda de rock alternativo inglesa, tendo editado em 2022 o álbum “How Will I Know If Heaven Will Find Me?”. Não existe nada de super distintivo face a algumas das bandas que certamente terão como referência, mas houve uma competência, um rigor e uma capacidade de cativar o público que no final é tudo o que se pede. O facto de metade da audiência ser inglesa pode ter ajudado o caso da banda britânica, mas não deixou de ser uma ótima forma de começar o dia.
O NOS Alive continua este sábado com concertos de Sam Smith, Queens Of The Stone Age, Machine Gun Kelly, Tash Sultana, entre outros.
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