A exposição “Poema de Contornos”, que será inaugurada na quinta-feira, assinala os 20 anos da morte deste artista, que se destacou na escultura, desenho, pintura, azulejaria e poesia, e que pretendia marcar o 240.º aniversário da Casa Pia de Lisboa, em julho, tendo sido adiada devido à pandemia da covid-19.
No Centro Cultural Casapiano, junto ao Colégio Pina Manique da Casa Pia de Lisboa, em Belém, estão expostas 21 peças, três delas inéditas, como um retrato da filha do artista, Elsa Martins Correia, em bronze policromado (1955), a escultura em cimento pintado “Egípcia” (1934) e um conjunto de medalhas em bronze e bronze policromado (1947-1995).
O diretor do Centro Cultural Casapiano, João Louro, explicou à agência Lusa que, além da dimensão puramente estética, a exposição privilegiou “as obras menos conhecidas do grande público”.
“A obra de Martins Correia é imensa em termos de qualidade, mas ainda há um potencial de descoberta”, afirmou.
A ligação afetiva de Martins Correia à Casa Pia de Lisboa, onde foi educado após ficar órfão, e à qual se manteve muito próximo, desde então, também está patente na mostra, com a exposição de várias obras doadas à instituição, como um busto em bronze e pedra da Rainha Santa Isabel, padroeira da instituição.
Martins Correia “personifica muito bem o que a Casa Pia sempre fez: dar oportunidades aos que, pelas circunstâncias da vida, tiveram inúmeras adversidades. É um paradigma de um homem que cresceu na Casa Pia de Lisboa, aproveitou o que de melhor a Casa Pia lhe deu e foi sempre de uma enorme gratidão”.
A presidente do conselho diretivo da Casa Pia de Lisboa, Cristina Fangueiro, sublinha a importância desta ligação: “Conjugou-se aqui uma boa relação entre o menino prodígio na área das artes e uma escola que lhe permitiu prolongar os estudos. Aqui fez um curso industrial, mas foi a Casa Pia que lhe proporcionou, através de uma bolsa, um curso na Faculdade das Belas Artes”.
Em declarações à Lusa, Cristina Fangueiro referiu que este é o caminho da instituição que dirige: “Ver qual a potencialidade de cada menino e, depois, se puder, continuar a ajudar”.
Martins Correia, que também deu aulas na Casa Pia de Lisboa, continua a ser uma referência para os alunos, que já tiveram a oportunidade de expor as suas obras, juntamente com as do mestre, que dá nome a uma das residências do Colégio Pina Manique.
A Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa também faz questão de “recordar e homenagear os antigos alunos” desta escola, como disse à Lusa o professor Eduardo Duarte, um dos responsáveis desta exposição.
À Lusa, este professor de Escultura disse que faz sempre referência a Martins Correia nas suas aulas, pois considera-o “uma figura incontornável no panorama da escultura portuguesa da segunda metade do século XX”.
“É um homem muito moderno na sua época, com uma particularidade: foi o primeiro escultor a usar o bronze policromado, que é a sua imagem de marca”, disse, acrescentando que Martins Correia se inspirou no túmulo de Cristóvão Colombo, na Catedral de Sevilha.
Segundo Eduardo Duarte, os alunos ficam surpreendidos com as várias dimensões deste artista que se revela ainda hoje “extraordinariamente moderno”.
A seleção das peças para esta mostra contou com a colaboração de Elsa Martins Correia, filha do artista, que sente o pai nesta exposição.
“A obra dele está cá. Eu convivi com isto tudo desde miúda, tudo isto me transmite o meu pai, é todo um sentir. Toda aquela força que ele tinha dentro dele. Desde miúda que convivo com arte, com a arte do meu pai, que para mim é uma irmã”, disse à Lusa.
Para Elsa Martins Correia, este regresso do mestre às escolas (Casa Pia e Belas Artes) é “fantástico”, nomeadamente à Casa Pia de Lisboa: “Foi a casa-mãe do meu pai”, afirmou.
Sobre a escultura com a sua imagem aos sete anos, Elsa Martins Correia mostra-se satisfeita pela partilha, contando que nunca se tinha separado dela, já que a tem em sua casa.
Recentemente, ofereceu uma escultura a uma escola na Golegã, onde Martins Correia nasceu, em 1910, que tem o nome do pai. Escolheu uma com cortes fortes – outra imagem de marca do artista.
“A policromia no meu pai desperta nas crianças um gosto”, referiu.
Por: Sandra Moutinho da agência da Lusa
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