Desde 2014 organizada pela Câmara Municipal do Porto, a Feira do Livro desta cidade ocupa anualmente os Jardins do Palácio de Cristal, pautando-se por uma dimensão menor que a sua congénere lisboeta, mas apresentando um programa mais conciso, coerente e diferenciado, este ano a cargo de Nuno Faria, o curador do Museu da Cidade do Porto.
Ao todo, vão estar presentes 84 expositores e 126 pavilhões — e sim, também terá oportunidade de comprar livros com descontos vantajosos, nomeadamente os Livros do Dia, que pode consultar aqui. De resto, tenha em conta que se deu uma alteração da edição passada para a deste ano: com a mudança do regime da Lei do Preço Fixo do Livro, apenas os livros publicados há mais de 24 meses podem ser sujeitos a descontos superiores a 20%.
Além das já costumeiras apresentações e sessões de autógrafos, a Feira do Livro do Porto conta com uma programação que vai do cinema à música, passando pelas declamações, performances e conferências. O programa completo está disponível no website oficial.
Antes de se avançar para o que deverá reter deste cartaz, saiba que uma larga percentagem de atividades vai decorrer no auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett, sendo que precisa de ter isto em conta:
- Apesar de serem de entrada gratuita, os eventos necessitam de levantamento de bilhete no Balcão de Informações desta instituição no máximo até 1h30min antes do seu início da atividade;
- A lotação é de 186 lugares
- Há entrega limitada a dois bilhetes por pessoa.
Ana Luísa Amaral: a celebração de um “Olhar Diagonal das Coisas”
A celebração do corpus poético da escritora — nascida em Lisboa, mas radicada na Invicta desde muito cedo — já era um dos desígnios desta edição da Feira do Livro do Porto, mesmo antes de Ana Luísa Amaral no deixar a 6 de agosto, aos 66 anos.
Tal desaparecimento, contou Nuno Faria à agência Lusa, “pesa muito”, até porque Ana Luísa Amaral ia ela própria dar uma lição e participar em várias sessões dedicadas à sua obra. Ainda assim, a sua morte acabou por reforçar os intuitos de celebrá-la, com a presença de “muitos convidados”, dos quais “muitos cúmplices” da escritora e “muitos profundos conhecedores da sua obra”.
O ciclo de homenagens começa no dia 27 de agosto, com uma lição — a tal que deveria ter ficado a cargo de Ana Luísa Amaral — de Maria Irene Ramalho, sua professora e “mentora”, e que irá debruçar-se sobre a sua obra a partir da recente coletânea de poesia, O Olhar Diagonal das Coisas (2022), e o volume de ensaios Arder a Palavra e Outros Incêndios (2018). A sessão decorre no auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett.
O mesmo espaço acolhe, no mesmo dia, a projeção do documentário “Entre dois rios e outras noites”, de Nuno F. Santos e João Nuno Soares, sobre a vida da poeta. Segue-se uma conversa entre Rosa Maria Martelo, Isabel Pires de Lima, Teresa Coutinho (que irá também declamar) e Nuno F. Santos, com moderação de Luís Caetano, que fez o programa “O Som que os versos fazem ouvir” na Antena 1 com Ana Luísa Amaral.
A 28 de agosto, o auditório é palco para uma sessão acerca do trabalho de tradução feito por Ana Luísa Amaral e da forma como colaborou para que a sua própria obra fosse traduzida para outras línguas, contando com Livia Apa, Lauren Mendinueta e Catherine Dumas. Sucede a esta conversa uma performance de Isaque Ferreira.
Além destas homenagens, a Ana Luísa Amaral vai ainda ser dedicado um recital chamado “O Excesso Mais Perfeito” e que percorrerá toda a sua obra, a 8 de setembro. Com programação de João Gesta, este espetáculo — uma vez mais, no auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett — conta com a música das Golden Slumbers e de emmy Curl, da performance de Sónia Baptista e da voz soprano de Rafaela Albuquerque, entre outros intervenientes.
Lições, sobre o Brasil e não só, e conversas a ter em conta
A lição sobre a obra de Ana Luísa Amaral, de resto, não será a única a ocorrer nesta Feira, havendo dois programas de lições: “O Sentido da vida é só cantar”, dedicado à poesia, e “Escrever brasileiro em língua minha”, com a evocação dos 200 anos da Independência do Brasil. Todas estas lições ocorrem no auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett.
Quanto ao primeiro programa, Helena Carvalhão Buescu fala sobre a obra de Manuel de Gusmão no dia 26 de agosto e Joana Matos Frias ensina quanto ao legado poético de Ruy Cinatti, no dia 29 desse mesmo mês. A 4 de setembro, é a vez de Paulo Pires do Vale ministrar uma lição sobre o trabalho de José Tolentino Mendonça.
Já no programa de lições dedicado ao Brasil, Osvaldo M. Silvestre debruça-se sobre as versões paródicas da História deste país que a poesia modernista brasileira apresenta, a 9 de setembro, e Alva Martínez Teixeiro explora as potencialidades e conquistas da obscenidade na literatura brasileira, no dia 10. Por fim, no último dia da Feira, o artista musical Luca Argel recorda a canção popular do Brasil — em particular, o samba — como repositório de memórias coletivas e culturais.
No que toca ao ciclo conferências e debates, a ter em conta as conversas da jornalista e escritora Inês Fonseca Santos com Rui Couceiro (30 de agosto), Pedro Eiras (31 de agosto), José Carlos Barros (1 de setembro) e, com particular destaque, Sérgio Godinho (2 de setembro), a decorrerem no auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett.
É também de anotar na agenda a apresentação de Valter Hugo Mãe do seu novo livro “A minha mãe é a minha filha”, acompanhado por Júlio Machado Vaz na Concha Acústica (31 de agosto) e as conversas de Nuno Júdice com Sérgio Guimarães de Sousa (4 de setembro) e de Filipa Leal com João Gesta (10 de setembro).
Por fim, é incontornável também destacar que haverá uma conversa quanto a Agustina Bessa-Luís a 10 de setembro, um mês antes de se celebrar o centenário do seu nascimento. A conversa será feita pela sua neta, a escritora e atriz Lourença Baldaque, e pelo cineasta Eduardo Brito, responsável por transpor o romance “A Sibila” para o grande ecrã, com antestreia marcada para outubro. A moderação ficará a cargo da jornalista Susana Moreira Marques.
Falada, cantada ou tocada, a música regressa à Feira
Como vem sendo comum nas edições da Feira do Livro do Porto, há uma extensa programação de concertos a acontecer ao longo das três semanas, com a curadoria de Luís Salgado e do espaço de intervenção cultural Maus Hábitos, assim como da Associação Porta-Jazz.
A arrancar no primeiro dia há prestações da rapper Azia e da dupla Redoma, no Terreiro do Roseiral. Já no sábado, dia 27 de agosto, o mesmo espaço acolhe os concertos dos Palankalama e dos Daguida, ao passo que o Lago dos Cavalinhos recebe o noneto jazz Vazio e o Octaedro.
No final de agosto, no dia 31, a fadista Aldina Duarte apresenta-se no auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett, acompanhada por Paulo Parreira e Rogério Ferreira. A 1 de setembro, regressam os concertos ao Terreiro do Roseiral, com atuações de Inês Malheiro e dos Sereias, e no auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett, Manuel João Vieira vai cantar e declamar poemas de Cesariny, Verde, Pessanha e Pessoa ao sabor do improviso musical.
O Terreiro do Roseiral vai depois ter os concertos dos The Miami Flu e dos The Rite of Trio no dia 2, dos Colectores e dos Holy Nothing no dia 3, do projeto Adufes & Pandeiros (de Jorge Queijo) e dos Unsafe Space Garden no dia 8, dos rappers Pixis e Each1 no dia 9 e, por fim, de João Não e dos Nile Valley no dia 10.
Entretanto, junto ao Lago dos Cavalinhos, Vera Morais e Hristo Goleminov trazem o seu “Remember the Plumes” no dia 3 e o Filipe Teixeira Trio atua no dia 10. A encerrar o cartaz, a Orquestra Filarmónica Portuguesa vai dar um concerto exclusivamente dedicado a compositores do período romântico no terreiro do Museu da Cidade, sob direção do maestro Osvaldo Ferreira.
Enquanto tudo isto decorre, há em paralelo uma iniciativa que tem por base o Spoken Word e a declamação, sendo o cenário a Concha Acústica. A 28 de agosto, IAN, projeto a solo da violinista Ianina Khmelik, toca antes da Lisbon Poetry Orchestra. Já a 4 de setembro, o cantautor e contrabaixista Aníbal Zola atua com o rapper Maze a sucedê-lo. Por fim, no dia 11 desse mês, Adolfo Luxúria Canibal, dos Mão Morta, e Marta Abreu, que também passou pela banda bracarense, apresentam “Goela Hiante”, terminando com Abril em Branco, projeto de tributo à música de José Mário Branco, composto pelos músicos Filipe Valentim, Luís Bastos e Quarteto Naked Lunch, além de Luca Argel e Mitó Mendes nas interpretações.
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