"Sinceramente, não tenho reagido muito bem, mas estou tentando superar e tenho que ter forças para levantar a cabeça e seguir em frente", disse hoje o escultor madeirense aos jornalistas, junto ao polémico busto.
Instalado no exterior do terminal de chegadas do Aeroporto da Madeira, que desde quarta-feira passou a designar-se Aeroporto Cristiano Ronaldo, a peça escultórica é alvo incontornável de atenção e está constantemente rodeada de pessoas com máquinas fotográficas e câmaras de filmar.
"Claro que, ao fazer um trabalho desta natureza, uma figura pública, uma figura mediática a nível mundial, de antemão já sabia que ia correr este risco", disse Emanuel Santos, lembrando que é um autodidata e que ninguém o convidou para levar a cabo o projeto, pois foi ele mesmo que o apresentou à direção do aeroporto.
"Acharam bem e mandaram avançar", disse, contando que a iniciativa foi aprovada e reportada ao Governo Regional, que por sua vez deu conhecimento à família do futebolista.
Emanuel Santos, que tem 40 anos e está desempregado há três meses, diz ainda que a família enviou fotografias da peça ao Cristiano Ronaldo e ele "gostou do que viu".
"O meu objetivo era projetar-me, verdade seja dita, porque eu estou a começar a dar os meus primeiros passos", revelou, contando que, quando idealizou o projeto, era funcionário do serviço de limpezas do aeroporto e apresentou-se diante da direção trajando a farda de trabalho.
Emanuel Santos revelou que, ao conceber o busto de Cristiano Ronaldo, pretendia "reforçar a caminhada", até porque antes tinha recebido críticas positivas em relação a outros trabalhos.
Enquanto falava aos jornalistas, o rodopio de pessoas à volta do busto era constante e, por vezes, ouviam-se expressões como "está magnífico" ou "parabéns ao escultor", um registo bastante diferente do que circula nas redes sociais e programas de humor, onde a peça é ridicularizada.
"Sendo crítico do meu trabalho, eu próprio já reparei que havia um pormenor ou outro que poderia ter ficado melhor", reconheceu, sublinhando, no entanto, que "a arte é assim" e que uma obra nunca fica "100% tal e qual" a realidade, caso contrário "perde o efeito de arte".
Emanuel Santos explicou, por outro lado, que se dedicou ao busto apenas nos tempos livres, sendo que a fase de moldagem a barro ficou concluída em 15 dias.
"Depois dessa fase, houve a passagem para gesso. E depois foi enviado para o continente, para uma fundição, para a passagem para bronze", contou, mostrando, entretanto, fotografias de todo o processo criativo.
O busto de Cristiano Ronaldo é a segunda peça escultórica de Emanuel Santos exposta no espaço público, sendo a primeira uma peça de grandes dimensões em homenagem aos pescadores do Caniçal, freguesia do concelho de Machico, zona leste da Madeira, de onde é natural.
O artista, que é casado e pai de um menino de cinco anos, encontra-se atualmente a trabalhar numa terceira peça, com dois metros de altura, para ser exposta no sítio da Ribeira de Machico e que constitui uma homenagem aos lenhadores da localidade.
"Temos de ser duros e temos de saber lidar com tudo", disse Emanuel Santos, olhando para o busto de Cristiano Ronaldo. E acrescentou: "Não podemos ir para casa maquinar, ficar a pensar e entrar em depressões".
Depois, como que para reforçar a convicção, afirmou: "Estou satisfeito porque foi um desafio que lancei a mim próprio e, apesar de toda a polémica e toda a crítica, acho que não menospreza o trabalho".
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