Escrevo estas palavras no local onde o Bombarral iniciou o seu desenvolvimento, talvez o seu lugar mais importante: a estação ferroviária. Vim até aqui para voltar a olhar os lindíssimos azulejos que decoram as paredes e lembram o que foram os tempos em que o vinho era o centro de toda a atividade.
Verdadeiro interface de passageiros e mercadorias, a sua abertura no final do séc. XIX permitiu a exportação da produção vinícola e transformou uma pequena aldeia agrícola numa vila comercial, que mais tarde veio a tornar-se sede de concelho. Por este espaço circularam, durante décadas, incontáveis mercadorias e gerações de passageiros. Era por onde tudo chegava e partia.
Não agora. O exponencial crescimento da circulação rodoviária provocou o inexorável declínio da linha do Oeste e a estação ferroviária veio a perder importância. O vinho também já não é o produto principal: a aposta é agora na pera rocha para exportação, e com grande sucesso. Por autoestrada.
Muitas pessoas não sabem, mesmo algumas que cá residem, que o Bombarral é visitado anualmente por mais de um milhão de turistas, nacionais e estrangeiros. Custa a crer, dito assim. Mas estes são os números do Budha Eden. É um jardim paradisíaco, localizado na Quinta dos Loridos, freguesia de Carvalhal, que se tem vindo a tornar num dos principais destinos turísticos nacionais.
Mas são poucos os visitantes que “descem” à vila do Bombarral, ali tão perto… A grande maioria prefere o verdadeiro turismo de massas: chegar, fotografar, juntar o grupo e partir.
Mas vale a pela fazer aqueles três quilómetros, nem que seja para almoçar. Há bastantes restaurantes e para todos os gostos. E vale a pena conhecer mais, porque há muito mais que o Eden.
Desde logo a vila merece uma visita. O seu coração é verde, uma mata, em torno da qual cresceram as casas. A Mata Municipal está sempre aberta e é um local bastante aprazível onde se realizam diversos eventos. É também na zona central da vila que se pode visitar o Museu Municipal e consultar o posto de Turismo para quaisquer informações. Porque há muito para ver e visitar em todo o concelho.
O Bombarral é também uma terra de gente hospitaleira. Sabemos receber e é com grande paciência que ajudamos os turistas que se perdem e perguntam: “Desculpe, sabe-me dizer como se vai para o jardim dos budas?”.
Mas há mais do que o Eden. Tal como acontece em todo lado, a população envelhece e o comércio tradicional definha. A eficaz rede de autocarros facilita o acesso a Lisboa e, pouco a pouco, o Bombarral vai-se tornando uma vila dormitório. Mas essa proximidade também tem vindo a gerar investimento, ao nível da logística e dos serviços, embora ainda de forma tímida.
A atividade turística tem vindo a crescer na região, que vai tendo vários polos de atração, seja o surf de Peniche e Nazaré, as muralhas de Óbidos, a serra do Montejunto ou o Parque de Dinossauros da Lourinhã. A oferta de alojamento cresceu de forma exponencial, embora por vezes com problemas de qualidade no serviço prestado. A criação de um destino turístico com identidade própria é um imenso desafio coletivo, que se colocará à região nos próximos anos. O Bombarral participará com certeza nesse percurso. E continuará a haver muitas e boas razões para se viver bem aqui.
Muito mais que o Eden.
Rui Fernando Viola tem 53 anos, é natural de Bombarral e vive em Bombarral. Exerce Arquitetura em regime liberal e é diretor do Jornal Região Oeste.
A Minha Terra é uma rubrica especial do SAPO 24 em que várias pessoas são convidadas a falar da sua terra, "à boleia" das eleições autárquicas do próximo dia 1 de outubro de 2017.
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