"Em julho de 2023 a minha relação de quatro anos acabou, estava noiva e pensava que era para sempre. Foi a minha primeira separação e calhou no momento em que fui fazer um espetáculo a Setúbal e eles acabaram por me convidar para voltar com uma criação nova", recorda a atriz e encenadora em entrevista ao SAPO24.
"Fui para casa e pensei no que me tinha acontecido recentemente sobre o qual pudesse escrever uma peça, e decidi escrever sobre o fim de relações", recorda. Rapidamente a ideia final surgiu. Não iria ser um monólogo, mas sim uma junção de histórias de várias pessoas e iria ter música ao vivo.
"A ideia acabou por surgir porque comecei a pensar que, se com a minha idade, 35 anos, aquilo tinha-me afetado de determinada maneira, como seria em outras pessoas? Como era com o primeiro amor? Como era quando se tem filhos e se passa por um divórcio?", aponta.
Rapidamente falou com vários amigos que lhe contaram histórias de pessoas que conheciam que tinham acabado relações e começou a fazer entrevistas. "Entrevistei pessoas dos 17 até aos mais de 50 anos e trouxe todos esses testemunhos para o guião".
"Existem três histórias principais protagonizadas aqui por personagens que são mulheres, mas também se fala do que homens e não binários me disseram em entrevista", revela. "O meu objetivo foi manter o máximo de coerência nas diferentes personagens e contar muitas histórias que se misturam na mesma personagem", acrescenta.
Aconselhando-se com uma amiga psicóloga que fez consultoria para este espetáculo, Catarina Vasconcelos, e que a ajudou a dominar o próprio desgosto de amor, criou a certa altura da apresentação um momento em que o público participa. O momento consiste fisicamente na destruição de listas com características do anterior parceiro de cada um dos espetadores. Na vida real, este momento ajudou a encenadora e atriz a superar a relação falhada, e pensa que pode contribuir para que quem veja a peça saiba que se "fica bem depois de se passar por uma situação destas".
Em palco estão três atrizes, Joana Raio, também escritora e encenadora desta peça, Rita Temudo e Maria d'Aires, a que se juntam os músicos Miguel Cervini e Dionisio, que também intervém na peça em determinados momentos.
As três contam a história da Marta (Maria d'Aires), da Alice (Rita Temudo) e da Sofia (Joana Raio) e convencem-se umas às outras e ao público que o "Break Up" afinal não é o fim.
"Fiz um casting em fevereiro e selecionei duas atrizes e acabei por ficar sem uma delas. Entretanto, lembrei-me da Maria d'Aires e, depois de lhe explicar que não havia financiamento, ela mesmo assim aceitou. Começámos a ensaiar em julho e a primeira semana teve muito a ver com a construção das personagens e criámos várias cenas as três juntas. Estou muito contente com a ligação que temos as três em conjunto com os músicos", diz orgulhosa a artista.
A ideia da participação dos músicos surgiu mais tarde: "Comecei a pensar que não gostava que fossem só mulheres e achei que podia ter músicos a entrar na história e que dava uma dinâmica diferente".
Em outras inspirações, lembra também a podcaster Jillian Turecki, que também é citada várias vezes na peça. "Ajudou muito na altura em que eu estava no meu próprio 'Break Up' e tive pessoas a dar-me cartas de amor e cartas de fim de namoro para a pesquisa. Acabei por ter muito material para me inspirar".
O crowdfunding pode financiar uma peça?
A ideia inicial para Joana Raio financiar esta peça de teatro foi o concurso a que concorreu para obter uma bolsa da fundação GDA – Gestão dos Direitos dos Artistas. Quando percebeu que não iria receber a bolsa, avançou na mesma na esperança do crowdfunding funcionar.
"No início estava a correr muito bem, mas agora já não estamos com tantas contribuições. As pessoas por vezes pensam que não vale a pena dar pouco dinheiro, mas vale sempre, mesmo que seja um ou dois euros", sublinha.
Ao todo precisam de 8.500 euros para pagar aos 5 intérpretes em palco, à produtora, a ilustradora Inês Lau e outras despesas administrativas. Até ao momento contam com 2.952 euros, mas a atriz mantém: "Recuso-me a fazer um projeto sem dinheiro".
A primeira e única exibição agendada do "Break Up" vai acontecer esta terça-feira, dia 27 de agosto, às 22h00 no Festival Internacional de Teatro de Setúbal. Depois disso existe uma incógnita.
"Nós já temos alguns convites de fora de Portugal, de dentro e fora da Europa, e o plano é traduzir a peça e fazê-la em inglês. Todas nós falamos inglês. Mas o objetivo é fazer uma digressão nacional e internacional".
Para isso a ajuda é essencial e para este espetáculo seguir em frente continuam a pedir contribuições na campanha aberta de crowdfunding, que pode ser encontrada aqui. Até agora já conseguiram ter 90 donativos e 34% do montante pedido.
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