“Autor de uma obra breve, mas de elevado requinte estético, Camilo Pessanha é considerado o mais alto expoente do simbolismo em Portugal e exerceu uma notável influência sobre a lírica portuguesa do século XX, como reconheceram autores tão determinantes como Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Eugénio de Andrade ou Carlos de Oliveira”, disse hoje à agência Lusa o investigador António Apolinário Lourenço.
Este professor aposentado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) é um dos organizadores do programa dos 100 anos da morte de Pessanha, promovido através de uma parceria do Centro de Literatura Portuguesa, que tem sede na FLUC, com o Grupo de Arqueologia e Arte do Centro (GAAC), liderado por Valdemar Rosas.
“Apaixonado pela arte oriental, Pessanha escreveu vários ensaios sobre a produção artística chinesa e reuniu um significativo conjunto de peças representativas dessa arte, que legou ao Estado português e que se encontram depositadas no Museu Machado de Castro, em Coimbra”, salientou Apolinário Lourenço.
Nascido na cidade do Mondego, em 7 de setembro de 1867, o poeta frequentou o Liceu e a Universidade de Coimbra, em cuja Faculdade de Direito se licenciou.
Partiu depois para Macau, onde foi professor de filosofia, conservador do Registo Predial e temporariamente juiz, tendo morrido no dia 1 de março de 1926. Ficou sepultado na antiga colónia, que em 1999 seria integrada na República Popular da China.
Em vida, Camilo Pessanha publicou apenas o livro “Clepsidra”, em 1920, com os poemas reunidos e organizados pela sua amiga Ana de Castro Osório.
No dia 12, às 19:00, realiza-se o pré-lançamento das comemorações do centenário da sua morte, no café Santa Cruz, em Coimbra.
A iniciativa "A caminho do centenário" inclui a leitura de poemas do autor, por Albino Matos, Beatriz Matos, João Rasteiro, Maria João Simões, Natália Queirós, Valdemar Rosas e António Apolinário Lourenço.
Os atores Francisco Paz e Maria Manuel Almeida, da Cooperativa Bonifrates, irão ler, respetivamente, uma carta de Pessanha a Ana de Castro Osório, em que lhe declara o seu amor, e a resposta da feminista republicana, explicando “as razões que a obrigam a declinar um compromisso amoroso com o poeta”.
O programa completo, que será apresentado em 2025, incluirá reuniões científicas, exposições e publicações, entre outros eventos. A Câmara Municipal e a Reitoria da Universidade de Coimbra associam-se às comemorações, cujo “ponto alto” será em 2026.
Nas últimas décadas do século XX, junto às Escadas Monumentais, funcionou o bar Clepsidra, ponto de encontro de sucessivas gerações da esquerda académica de Coimbra que renomearam o espaço como "Clep".
A memória de Camilo Pessanha está perpetuada na toponímia da cidade e no programa "Clepsidra", realizado por João Pedro Gonçalves, que a Rádio Universidade de Coimbra (RUC) emite semanalmente há longos anos.
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