O ponto de partida desta BD é o conclave que elegeu o atual Papa Francisco, em março de 2013. A primeira personagem é o autor, o sociólogo Olivier Bobineau, questionado por vários jornalistas desde o significado do fumo branco, saindo da capela Sistina, no Vaticano, num sinal que já foi encontrado o novo líder da Igreja Católica, até aos escândalos que a Igreja enfrentou como a pedofilia, e qual a influência da Igreja na atual sociedade “individualista e sempre em movimento”.
O autor coloca os seus dois filhos na narrativa, que também o questionam e a quem explica que a Igreja Católica é “uma instituição política e religiosa” que “deseja guiar cada homem e cada mulher até à salvação e pretende fazê-lo seguindo os passos de Jesus”, lê-se num dos quadradinhos iniciais desta banda desenhada (BD), editada pela Gradiva, com tradução para português de Tiago Marques.
Noutro quadradinho e dirigindo-se aos leitores a personagem/autor explica o propósito deste álbum: “Nesta banda desenhada vai descobrir o que sempre quis saber sobre o catolicismo e o papado e nunca teve coragem de perguntar”.
No prefácio à obra, Bobineau, professor no Instituto de Estudos Políticos de Paris, no Instituto Católico de Paris e na Escola Superior de Ciências Económicas e diretor do Institut du Sens Politique, afirma que mobilizou “uma soma de conhecimentos em história, ciência política, sociologia, exegese, filosofia e teologia” a que se juntam os “desenhos acessíveis e legíveis para todos”, de Pascal Magnat.
Para o sociólogo francês, a ideia é fazer compreender ao leitor de hoje, a história do papado com “humor e rigor, malícia e precisão científica”.
“Trata-se de cultura geral desenhada”, conclui Bobineau.
Na nota à edição portuguesa, o padre Anselmo Borges afirma que “no centro do cristianismo está precisamente a revolução na conceção de Deus”.
Deus é omnipresente, “mas o seu poder não é o poder de dominar, mas o poder infinito de criar, de dar, de salvar”, e recorda que Jesus Cristo disse quer tinha vindo ao mundo não para ser servido mas para servir, para dar testemunho da verdade e do amor de Deus, tendo “sido condenado à cruz pelos interesses do Templo [de adoração hebraica] e pelos interesse do Império [Romano]”.
Anselmo Borges refere em seguida a ação dos apóstolos que divulgaram a nova mensagem, a de Cristo, pelos territórios então conhecidos, dando testemunho de Jesus Cristo e do seu Evangelho.
Mas, como escreve o padre português, “lentamente, o Evangelho pareceu esquecido e foi surgindo um Império, uma Igreja imperial com todas as suas consequências, por vezes brutais e utilizando inclusivamente o Evangelho como meio”.
Para o sacerdote Anselmo Borges “é este processo” que a obra “O Império - de Jesus a uma Igreja Imperial” traz, “fundamentada num sólido saber científico, histórico e sociológico, e por vezes, até com humor”.
Anselmo Borges afirma que este é o primeiro volume, terminando a narrativa no papado de Gregório VII (entre 1073 a 1085) e a sua reforma “que não é ‘mudança na Igreja, mas uma mudança de Igreja’”.
O sacerdote português refere ainda a ligação do atual Papa à espiritualidade de São Francisco de Assis, que lhe inspirou o nome pontifício.
“Há na Igreja uma tensão insuportável entre o Evangelho e a instituição, mas impõe-se a revolução que Francisco quer levar a cabo: O Evangelho não pode estar subjugado ao serviço da instituição, é a instituição que tem de estar ao serviço do Evangelho”, defende Anselmo Borges.
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