Trata-se de reedições de obras já publicadas anteriormente pela Presença, mas com novas capas e com as traduções feitas diretamente do russo, por Nina Guerra e Filipe Guerra, vencedores do Grande Prémio de Tradução Literária da Associação Portuguesa de Tradutores/PEN Clube e do Prémio Especial Tradutor - Prémios de Edição LER/Booktailors, revelou a editora.
Publicado originalmente em 1866, “O Jogador” reflete muito da biografia de Dostoievski, que foi, ele próprio, um jogador compulsivo durante vários anos.
Com a Alemanha em pano de fundo e um ambiente de casinos, a história segue Aleksei Ivánovitch, um jovem com um forte sentido crítico em relação ao mundo que o rodeia, mas sem objetivos, que descobre em si a paixão compulsiva pelo jogo.
Recorrendo ao humor satírico, Dostoievski expõe as motivações mais íntimas desta e de outras personagens, criando uma obra “simultaneamente viva e dramática”, descreve a editora.
“O fascínio culpabilizado dos jogadores, o descontrolo e o desespero, paixões que raiam a loucura e uma solidão sem recurso são temas que se adequam ao genial universo da ficção dostoievskiana”, acrescenta.
Em fevereiro, regressa às livrarias “O Duplo”, obra escrita pelo autor quando contava apenas 24 anos, que reflete já muitas das suas inquietações, sobre um funcionário público obcecado pela existência de um colega, que é uma réplica de si próprio e que lhe usurpa a identidade, acabando por levá-lo à insanidade mental e à rutura com a sociedade.
Em março, a editora publica aquele que foi o primeiro romance de Dostoievski, “Gente Pobre”, situado num dos bairros mais miseráveis de São Petersburgo, onde um funcionário de meia-idade e uma jovem costureira, demasiado pobres para se casarem, trocam cartas de amor, que refletem a realidade de um quotidiano de extrema precariedade.
“O Eterno Marido” é o livro que se segue, com o ciúme como tema-chave e uma abordagem cómica, centrada num personagem cheio de fragilidades e propenso a uma passividade que o expõe ao ridículo, a que se seguirá “Os Demónios”, um romance de cariz político, inspirado na história verdadeira de um assassinato político que chocou a Rússia.
“A Aldeia de Stepantchikovo e os seus Habitantes” regressa em junho, trazendo uma narrativa cómica, ambientada numa propriedade rural do interior da Rússia, e fortemente corrosiva em relação aos pequenos dramas em que se comprazem as personagens.
No mês seguinte, a Presença vai reeditar “O Adolescente”, história de um filho ilegítimo, que cresceu entre estranhos, sem quase ter visto a mãe nos seus primeiros anos de vida, atormentado por uma existência parental “dupla”: o pai biológico e o marido da mãe.
Entre agosto e outubro está prevista a publicação de três coletâneas de contos ou novelas: “O Ladrão Honesto e Outras Histórias”, “A Submissa e Outras Histórias” e “Coração Fraco e Outras Histórias”.
A coleção “Obras de Fiódor Dostoievski”, da Editorial Presença, teve inicio em 2001, tendo-se distinguido no mercado editorial de então por apresentar a tradução direta feita a partir do russo.
A editora tem ainda publicados “Cadernos do Subterrâneo”, “Humilhados e Ofendidos”, “Cadernos da Casa Morta”, “Os Irmãos Karamazov”, “O Idiota” e “Crime e Castigo”.
Entretanto, também a Relógio d’Água começou a publicar obras do escritor russo, a começar por “O Jogador”, editado em 2007 na coleção Biblioteca de Editores Independentes, a que se seguiu “Crime e Castigo”, em 2009.
Ao todo, já editou 10 livros deste autor, o último dos quais foi “Humilhados e Ofendidos”, publicado em junho do ano passado, sendo que todas as traduções desta editora são feitas igualmente a partir do russo, por António Pescada, tradutor também já premiado.
Para este ano, a Relógio d’Água tem prevista a edição de mais uma obra, “Recordações da Casa dos Mortos”, igualmente com tradução de António Pescada, disse à Lusa o editor.
Fiódor Dostoievski, escritor, filósofo e jornalista do Império Russo, nasceu em Moscovo, a 11 de novembro de 1821, no seio de uma família modesta.
Como escritor, foi um dos precursores da mais moderna forma do romance, posteriormente representada por nomes como Marcel Proust, Virginia Woolf e James Joyce.
Filho de um médico militar, aos 15 anos foi enviado para São Petersburgo, onde fez o percurso da Escola Militar de Engenharia, época durante a qual a sua vocação literária despertou, ao entrar em contacto com escritores russos e com a obra de Lord Byron, Victor Hugo e Shakespeare.
Depois de terminar a formação académica de engenheiro, trabalhou integralmente como escritor, produzindo romances, novelas, contos, memórias, escritos jornalísticos e escritos críticos, tendo participado também em atividades politicas.
Os temas que o autor mais explorou ao longo do seu percurso literário foram o significado do sofrimento e da culpa, o livre-arbítrio, o cristianismo, o racionalismo, o niilismo, a pobreza, a violência, o assassinato, o altruísmo, e os transtornos mentais, muitas vezes associados à humilhação, ao isolamento, ao sadismo, ao masoquismo e ao suicídio.
Os seus escritos têm sido classificados como “romances filosóficos” e “romances psicológicos” por retratarem todas aquelas questões através de uma abordagem filosófica e psicológica atemporal.
Em 1849, Dostoievski foi condenado à morte por suspeita de conspirar contra o czar e de estar implicado numa conjura revolucionária, mas a pena acabou comutada para trabalhos forçados na Sibéria, e em 1855, o escritor foi amnistiado.
Esta data marcou o início de um período de atividade literária intensa, que lhe granjeou novamente o sucesso, inicialmente com “Recordações da Casa dos Mortos”, e posteriormente reforçado graças às obras “Crime e Castigo”, “Os Idiotas” e “Demónios”.
Foi já próximo da morte que Dostoievski se consolidou um dos maiores escritores de todos os tempos, com “Os Irmãos Karamazov” (1879-1880), por muitos considerado a sua obra-prima.
O escritor morreu em São Petersburgo, em 1881, mas deixou influências na literatura, na filosofia, na psicologia e na teologia, e foi reconhecido como precursor dos movimentos nietzschianismo, psicanálise, expressionismo, surrealismo, teologia da crise e existencialismo.
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