"A nossa cidade", de Thornton Wilder, será o primeiro livrinho de teatro a ser editado com a chancela da livraria e editora independente Snob, que passa a colaborar com os Artistas Unidos nestas pequenas edições de peças de teatro dos séculos XX e XXI, anunciou hoje a companhia de teatro.
Os Artistas Unidos editam os livrinhos desde 2002 e, apesar do fim anunciado da Cotovia, nunca chegaram a suspender estas publicações, mantendo a mesma parceria até dezembro e começando com a nova casa editorial em janeiro de 2021, acrescentou sublinhando que estas são peças de teatro "para ser feitas, lidas, descobertas, lembradas".
"A nossa cidade" ("Our Town", no original) é um texto do escritor norte-americano Thortnton Wilder, publicado em 1938 e vencedor do Prémio Pulitzer de Teatro, sendo uma das principais peças de teatro responsáveis pelo sucesso que o autor alcançou, e cuja história é uma parábola da vida quotidiana, sempre em torno das mesmas preocupações: o trabalho, o amor e a morte.
Com o anúncio encerramento da editora Livros Cotovia no final de novembro, o grupo Artistas Unidos viu comprometidas as publicações que tinha em parceria com a editora, mas se rapidamente arranjou substituto para continuar a editar os "Livrinhos de Teatro", a mesma sorte não tiveram outros projetos como o de terminar a publicação das obras completas de Bertold Brecht, explicou à Lusa o encenador e diretor artístico da companhia, Jorge Silva Melo.
A editora Cotovia foi fundada em 1988 por André Fernandes Jorge, mas com a sua morte, em 2016, passou a ser dirigida por Fernanda Mira Barros, que fazia parte da equipa há mais de 20 anos.
Além da coleção de Brecht ficar incompleta, Jorge Silva Melo lamenta também que fique em suspenso um projeto que “queria muito”, que era a publicação de uma “série de traduções bem feitas” - já reunidas - de Molière.
“Eram dois volumes de peças de Molière, que é uma pena não estarem editadas, entre elas, um ‘D. João’ traduzido pela [poetisa] Luiza Neto Jorge [1939-1989]”, contou, em entrevista à Lusa, em novembro.
É um projeto que “não cabe” nos "livrinhos", porque Molière é muito anterior aos autores que compõem a coleção da Cotovia com os Artistas Unidos.
“Queria muito que fosse claro, também para não competir com a Cornucópia, que editava com a Cotovia os seus clássicos. Os nossos são só século XX e XXI, a partir de 1950, a peça mais antiga que temos. Agora vamos ter uma de 1898, é o limite. A ideia é ser os clássicos do século XX e os atualíssimos”.
Para o próximo ano, os Artistas Unidos já tinham anunciado, no seu 'site', novos 'livrinhos' de autores como Witold Gombrowicz, Federico García Lorca, Marieluise Fleisser, Ricardo Correia, Brendan Behan, Eugene O’Neill e Roland Dubillard. Entre os mais recentes publicados estão Pau Miró, Yannis Mavritsakis, Giovanni Testori.
Outro sonho conjunto do encenador e da Cotovia, mas muito mais inalcançável, era a edição da obra completa de Samuel Beckett.
Todas as peças estão traduzidas, por pessoas como Luís Miguel Cintra, Miguel Esteves Cardoso, José Maria Vieira Mendes e Jorge Silva Melo. Está “tudo reunido e paginado, mas os direitos eram tão caros, tão caros, que não se chegou a avançar”, contou.
Até os livros do próprio Jorge Silva Melo têm agora um destino incerto, pois precisam de uma nova casa, não só as peças de teatro, mas também os ensaios.
Um chama-se “Deixar a vida”, o outro, “Século passado” e, o mais recente, “A mesa está posta”. E “estão todos esgotados”, mesmo o último, editado no ano passado, do qual “sobejam dez exemplares”, afirmou o encenador, que deixou mais um desejo no ar: “Vamos a ver agora se alguém pega naquilo e se continuo a poder escrever. Também gostava”.
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