Liderados pelo português João Zilhão, os arqueólogos encontraram o crânio na gruta da Aroeira, concelho de Torres Novas, no centro do país, e apresentam hoje as suas conclusões num estudo publicado na edição desta semana do boletim da Academia Nacional das Ciências dos Estados Unidos.
"É o mais antigo fóssil encontrado em território português e um dos mais antigos da europa", disse João Zilhão à agência Lusa.
Nunca se tinha encontrado um fóssil humano da altura média do Pleistoceno, que cobre o período desde há 2,5 milhões de anos até há 11,5 mil anos, num local tão ocidental da Europa.
O arqueólogo indicou que o interesse deste fóssil é que está "muito bem datado e passa a ser padrão de referência para interpretação de outros fósseis bem completos mas com datação mais imprecisa".
"Apresenta uma combinação de características morfológicas únicas que põem em causa a noção de que a variação, as diferenças entre fósseis desta época possam ser interpretadas como manifestação de várias espécies humanas diferentes", afirmou.
Apesar de nesta altura coexistirem "populações muito diversas, mais diferentes do que qualquer população humana atual, nem por isso deixavam de pertencer a uma só espécie", salientou João Zilhão.
As escavações no sistema de grutas onde foi encontrado este crânio vai continuar porque "faz sentido tentar encontrar mais material", desde logo "mais restos do esqueleto deste indivíduo ou até as partes do crânio que estão em falta".
Trata-se de um antepassado "a meio caminho entre o 'homo erectus', que apareceu em África há entre 1,5 e dois milhões de anos e os mais recentes, a que chamamos Neandertais na Europa e modernos em África".
O local da descoberta "tem potencial, pelas condições geológicas, para ter vestígios de todas as épocas do último meio milhão de anos".
Na gruta foram encontrados também restos de animais e ferramentas de pedra, como machados.
São dados que dão aos cientistas informação sobre o ambiente e o clima da época, a par de restos de lareiras, carvão e pólenes.
O fóssil, recuperado em 2014, foi retirado do local incrustado num bloco único de sedimentos e levado para um centro de investigação em Madrid, Espanha, onde os especialistas o conseguiram separar ao cabo de dois anos de trabalho.
"O crânio da Aroeira é o fóssil humano mais antigo já encontrado em Portugal e partilha algumas características com outros fósseis deste período descobertos em Espanha, França e Itália", afirmou o arqueólogo Ralf Quam, da universidade norte-americana de Binghamton.
Quam apontou a Península Ibérica como "uma região crucial para compreender a origem e a evolução dos 'homens de Neandertal'", referindo-se ao ramo da evolução humana que se extinguiu há cerca de 40.000 anos.
O fóssil descoberto na gruta da Aroeira será a peça central de uma exposição que abre no mês de outubro no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa.
Comentários