Inês Amorim, de 27 anos, e Reid Baker, de 30, conheceram-se em Milão, Itália, onde estudaram. Depois disso, ela mudou-se para Londres e ele para Antuérpia, na Bélgica. Nesses países trabalharam com outros designers de moda, e foi nessa altura, há cerca de dois anos, que criaram a Ernest W. Baker.
“Passaram dois anos, mas na moda parece que foi há dez. Tem sido um processo lento para nós. Acreditamos no que fazemos e queremos fazê-lo de forma lenta e autêntica, e crescer mesmo, em oposição ao que acontece hoje, em que as pessoas se mexem tão rápido”, afirmou Reid Baker, em declarações à agência Lusa.
No ano passado, a marca ficou entre os 20 semifinalistas dos prémios LVMH (grupo francês que inclui marcas como Louis Vuitton, Céline e Christian Dior), algo, segundo Inês Amorim, “deu um impulso” para chegarem “a um público maior”. “Deu-nos uma exposição que não teríamos de outra maneira e percebemos ‘ok, foi aprovado’. E foi bom termos ligação a pessoas do topo da moda, de todo o mundo, e ouvir as críticas deles ao nosso trabalho”, acrescentou Reid Baker.
A dada altura, perceberam que tinham que estar juntos no mesmo local e decidiram mudar-se para Portugal, onde já fabricavam grande parte das peças.
De modo a conseguirem “controlar melhor o produto, as peças, o vestuário”, “Portugal seria o melhor” destino.
Em Portugal, optaram por Viana do Castelo, terra onde Inês nasceu e que fica perto da maioria das fábricas de têxtil nacionais, e de onde vendem maioritariamente para o Japão, mas também para o Canadá, Itália e Coreia, entre outros países.
“Em termos de produção toda a gente fica muito contente com a qualidade do produto”, contou Inês. Há até quem fique espantado. “As pessoas estão muito abertas e não há má conotação com o ‘made in Portugal’ [fabricado em Portugal], mas por vezes veem peças e dizem ‘wow isto é feito em Portugal, nunca esperei este nível de qualidade'”, recordou Reid.
A marca, que aposta em “tecidos e acabamentos muito bons”, é “muito baseada num estado espírito”. “Preocupamo-nos em desenvolver um mundo à volta da marca, como num filme criamos personagens”, explicou Reid. Para essas personagens, acrescentou Inês, criam “um ‘look’ total a pensar em tudo, como se veste, onde vai”.
Nas peças há “elementos muito europeus, muito ‘clean’ e clássicos”, mas acabam sempre por “mergulhar nos Estados Unidos, na ‘Americana’, muito ‘western’, ‘kitsch’, irónico”.
Em Portugal, têm um ponto de venda: a loja multimarca Temp-Late, na zona da Matinha, onde hoje à noite vão apresentar a coleção para o próximo outono/inverno, no âmbito da ModaLisboa.
A coleção não será apresentada em desfile por opção própria. Na loja, que é inaugurada hoje à noite, foi criado um espaço, uma espécie de ‘man cave’ [algo como antro masculino, em português] de Ernest W. Baker, que é o nome da marca e também o do avô de Reid Baker.
Hoje com 92 anos, Ernest W. Baker “teve uma agência de publicidade, em Detroit, durante 50 anos, escreveu vários livros, quer fazer um filme, é um homem muito influenciado pela América”. “Não pára, é um personagem nele mesmo”, contou Reid.
A utilização do nome foi feita com o consentimento do avô do designer de moda, que quando questionado respondeu: “não sei porque querem fazer isso, mas ok”.
Em cada coleção adicionam “sempre toques do Ernest”, referiu Inês. No caso da coleção que apresentam hoje, têm uma peça onde estão representados, em fotografias, “os 12 ‘empregados do mês’ que trabalhavam na empresa do Ernest”. “Decidimos usar essas imagens de uma forma irónica nas nossas peças”, disse.
Para criarem a coleção que hoje apresentam olharam muito para o trabalho de Dave Jordano, “um fotógrafo documental dos anos 1970 em Detroit”. “Inspirámo-nos no seu trabalho, combinando com as minhas raízes e a minha família em Detroit, misturando os dois mundos”, revelou o designer de moda.
Mas o avô de Reid não é o único familiar dos dois designers envolvido na marca. “Trazemos a família, queremos que estejam presentes no nosso trabalho”, referiu Inês, contando que dois dos seus primos estão como modelos nos catálogos de coleções.
Os dois acreditam que o envolvimento das famílias dá “um toque pessoal com o qual as pessoas se relacionam” e eles também.
“Gostamos de sentir essa ligação ao que fazemos. Foi bom usar o meu avô, mais uma representação das nossas famílias e da nossa herança”, afirmou Reid.
Na divisão de uma casa recriada na TEMP-LATE, Ernest W.Baker está sentado num sofá, numa sala forrada a papel de parede florido ao estilo anos 1970 e onde não falta um retrato de família, que é mesmo da família de Ernest.
A 52.ª edição da ModaLisboa, na qual são apresentadas coleções para a próxima estação fria, prossegue até domingo.
Comentários