Amos Oz, escritor traduzido em 45 idiomas, cujo romance “Uma história de amor e trevas” conheceu sucesso mundial, morreu aos 79 anos, vítima de cancro.
"É um golpe muito duro", disse David Grossman, galardoado em 2001 com o prémio Medicis, numa entrevista à rádio pública do país.
O escritor contou que, cada vez que se encontrava com Amos Oz, tinha a sensação de ter a sorte de ser enriquecido, "de ter encontrado um grande homem", devido à sua "generosidade e sabedoria" em relação ao mundo.
Mesmo não sendo da mesma geração - Amos Oz nasceu em 1939 e Grossman em 1954 - os dois escritores "eram próximos", pois tinham-se conhecido há 25 anos e encontravam-se regularmente.
"Ele explicou a todo o mundo, melhor do que qualquer israelita, a grande complexidade, o grande milagre e a grande dificuldade de ser israelita", disse.
David Grossman, comprometido, como Amos Oz, na paz com os palestinianos através de uma solução de dois Estados, e o fim da ocupação israelita, disse que o escritor estava "cada vez menos otimista nos últimos anos", sobre a situação dos dois povos.
"Ele via como a força do radicalismo e da violência aumentam em todas as formas, e como algumas pessoas agitam os medos para criar uma certa realidade", explicou.
Autor de livros como “A terceira condição”, o biográfico “Uma história de amor e trevas”, “Contra o fanatismo”, “O meu Michael” e “A Caixa Negra”, Amos Oz nasceu em Jerusalém em maio de 1939.
“Uma história de amor e trevas” obteve grande sucesso mundial e foi adaptado ao cinema, com a atriz Natalie Portman como protagonista.
Amos Oz nasceu em Jerusalém a 4 de maio de 1939, no seio de uma família de origem russa e polaca, com o nome Amos Klausner, tendo mais tarde escolhido o apelido Oz, que significa "força" ou "coragem".
Ainda jovem, entrou para um Kibutz, o Hulda, e estudou Literatura e Filosofia na Universidade Hebraica de Jerusalém, tendo publicado os seus primeiros contos entre 1960 e 1963.
Amos Oz participou na Guerra dos Seis Dias e na Guerra do Yom-Kippur e, na década de 1970, esteve entre os fundadores do movimento pacifista Paz Agora (Shalom Akhshav), do qual se tornou o principal representante, tendo sido um dos primeiros defensores da Solução de Dois Estados, para Israel e Palestina.
Aclamado desde o início como o "Camus israelita", o escritor, um fervoroso ativista pela paz com os palestinianos, denunciou, nos últimos anos, a política do primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, protestando contra o que qualificou “um extremismo crescente” do Governo.
Casado e pai de três filhos, Amos Oz era muito apreciado pelos israelitas, um pouco por todo o mundo, especialmente devido ao seu humor.
Publicou cerca de duas dezenas de livros em hebraico e mais de 450 artigos e ensaios em revistas e jornais israelitas e internacionais, estando a sua obra traduzida por todo o mundo.
Quase toda a sua obra está traduzida em português, destacando-se “A Caixa Negra”, “Conhecer Uma Mulher”, “A Terceira Condição”, “Não Chames Noite à Noite”, “Uma Pantera na Cave”, “O Meu Michael”, “O Mesmo Mar”, “Uma História de Amor e Trevas”, “Cenas da Vida de Aldeia”, “Entre Amigos” e “Judas”, o seu derradeiro romance, distinguido com o Prémio Internacional de Literatura – Casa das Culturas do Mundo, da Alemanha.
No passado mês de setembro foi editado em Portugal, também pelas Publicações D. Quixote, “Caros Fanáticos”, um conjunto de três ensaios de Amos Oz sobre "fé fanatismo e convivência no século XXI", escritos a partir de “um sentido de urgência e preocupação, e na crença de que um futuro melhor ainda é possível”.
A obra, publicada dez anos depois de "Contra o Fanatismo", foi traduzida para português, a partir do hebraico, por Lúcia Liba Mucznik.
Amoz Oz ganhou vários prémios, incluindo o Prémio Israel, o Prémio Goethe (2005) e o Prémio Heinrich Heine (2008), da Alemanha, o Príncipe Príncipe das Astúrias (2007), o Prémio Primo Levi de Itália (2008), o Femina estrangeiro (1988), de França, e o Franz Kafka (2013), da República Checa, entre mais de três dezenas de distinções internacionais.
Apontado recorrentemente como um dos principais candidatos ao Nobel da Literatura, Amos Oz foi ainda distinguido com a Legião de Honra de França, em 1997.
Numa entrevista ao jornal The New York Times, em 2016, a propósito da edição de “Judas”, nos Estados Unidos, Amos Oz falou dos seus gostos literários. Citou Cervantes, Faulkner, Tomasi di Lampedusa, Kafka e Borges, “às vezes Thomas Mann e, noutras, Elsa Morante e Natalia Ginzburg”, para dizer que a sua lista de preferências estava em permanente construção. E confessou que gostaria de ter conhecido o escritor russo Anton Tchekhov, “mas apenas se pudesse ficar com ele em amena cavaqueira”.
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