Foi há quase quarenta anos que o filme Alien - O oitavo passageiro - estreou nas salas de cinema norte-americanas. Um clássico do cinema moderno que viria a revolucionar as indústrias do terror e da ficção científica, e que após diversos capítulos e vários anos de evolução tecnológica continua a ser considerado um tesouro pelos cineastas.
Para quem não está familiarizado com a saga, a história de Alien é passada “num futuro distante”, onde as viagens interespaciais estão banalizadas, e trata de uma aventura espacial na qual os tripulantes da nave da sub-tenente Ellen Ripley (Sigourney Weaver) são desafiados por uma criatura temível (o Alien). Apesar de parecer uma história banal, o filme é aterrorizador e prende-nos à cadeira durante cerca de duas horas, de tanto que é o suspense.
Muito se deve às características da figura do Alien, por ser um monstro alto, rápido e discreto, com uma longa cauda em forma de faca e duas bocas com dentes de aço, mas também ao modo progressivo e cuidado como são construídas as cenas que acabam maioritariamente num susto, seguido de um banho de sangue.
O filme venceu, em 1979, o óscar para melhor efeitos especiais e ainda o prémio Saturn Awards de ficção científica. O sucesso do primeiro filme transformou-o numa das séries de franchise mais valiosas do mundo que, ao contrário da maioria, baseia todo o seu triunfo no “mau da fita”. Entretanto estrearam mais três sequelas sobre o conflito entre Ripley e o Alien, duas longas metragens Alien versus Predator, e ainda duas prequelas sobre a origem do universo Alien - Prometheus (2012) e agora Alien: Covenant (2017).
A estreia de Prometheus em 2012 gerou muita polémica, não apenas porque Ridley Scott já não participava na série desde a sua criação, mas também porque o filme em si trouxe novas questões e teorias incompletas sobre o surgimento do Alien (e até da humanidade!). Destas teorias, algumas vieram as ser completadas pelo próprio realizador em conferências de imprensa, mas cinco anos após a estreia de Prometheus, os fãs da saga ainda se esforçam para conseguir compreender o filme.
Em Alien: Covenant algumas destas questões são resolvidas ao longo do filme, mas muitas outras novas questões aparecem, deixando o público ansioso para o próximo filme da saga. Nestas duas histórias, a figura central já não é Ellen Ripley, e passa a ser David (Michael Fassbender) - um androide criado pela empresa de exploração Weyland Industries com o propósito de acompanhar a tripulação da nave Prometheus na descoberta da origem da humanidade.
Na primeira prequela, David acompanha Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e a comandante da nave denominada Prometheus, Meredith Vickers (Charlize Theron), na exploração de um novo planeta, onde acabam por se deparar com o Alien e muitos outros perigos. Já em Alien: Covenant, sem querer revelar muito sobre o enredo, a nave espacial - Covenant - parte numa missão de colonização de um novo planeta distante e após um imprevisto, o comandante Oram (Billy Crudup) decide fazer um desvio e analisar um planeta mais próximo. Tanto a sub-capitã Daniels (Katherine Waterson) como o andróide de bordo, Walter (Michael Fassbender), são contra esta ideia e acabam por ter razão, como é evidenciado por toda a tragédia que ocorre após a aterragem.
Se em Prometheus o papel do ator Michael Fassbender deu que falar, então em Alien: Covenant, não há sombra de dúvidas que grande parte do filme se deve ao seu protagonismo. Ainda que os restantes atores não lhe fiquem a trás, especialmente Katherine Waterson, Fassbender desempenha neste episódio da saga o papel de duas personagens diferentes - David e Walter - e fá-lo com distinção.
Nos diferentes papéis da história predomina uma forte tensão entre personagens que é apoiada pelos movimentos de câmara subtis e planos fortes e futuristas do realizador. A contribuir consideravelmente para a emoção do filme está uma banda sonora genial e aterrorizadora, composta por Jed Kurzel. Não será excessivo dizque que a banda sonora é o elemento técnico que mais se destaca ao longo de todo o filme, estando absolutamente conseguido o equilíbrio entre o tema do espaço e o suspense horripilante que é trazido pelo argumento.
No que toca a efeitos visuais não há muito a apontar, uma vez que esta dimensão é já muito bem trabalhada nos dias de hoje, e o mesmo se sucede em Alien, mas destaca-se, sim, o design de produção, com ambientes repletos de uma arquitetura futurista, paisagens naturais surreais e civilizações perdidas no esquecimento.
Não se pode escrever sobre este Alien sem referir o seu realizador que, aos 79 anos de idade, parte para ambiciosos projetos de ficção científica e terror e consegue impressionar todos com tanta qualidade. Ridley Scott é conhecido por trabalhar essencialmente em produções de grande dimensão, das quais sobressaem clássicos como Blade Runner (1982), O Gladiador (2000), Hannibal (2001) e Robin Hood (2010). Foram muitas as obras de qualidade que passaram pelas mãos de Ridley Scott e, ainda assim, consegue surpreender. Em Alien: Covenant, tal como em outros filmes do mesmo género, as cenas são muito explícitas e realistas e provocam uma emocionante experiência ao longo das duas horas. É, sem dúvida, um sublime retorno do realizador.
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