“Beija-me com os beijos da tua boca” é nome desta exposição, que tem por base o livro poético e sapiencial do Antigo Testamento “Cântico dos Cânticos”, de Salomão, e cuja segunda frase inspira o título da mostra: “Que ele me beije com os beijos de sua boca”.
As obras que vão estar expostas pertencem à coleção privada do poeta Gonçalo Salvado sobre esta temática, que tem sido uma grande influência da poesia do autor, revela a Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), que acolhe a exposição até 31 de novembro.
“Nesta coleção privilegiam-se as obras em língua portuguesa editadas em Portugal e no Brasil, algumas de grande raridade e inacessibilidade”, acrescenta a instituição.
A mostra vai estar patente numa das principais salas da BNP, permitindo reconstituir a atmosfera e recriar o imaginário do poema bíblico do amor.
A par da exposição bibliográfica, haverá uma vertente iconográfica, que reúne algumas imagens emblemáticas em Portugal que lhe foram dedicadas, e está previsto um ciclo de conferências e um colóquio sobre o “Cântico dos Cânticos” agendado para 2021.
A BNP destaca a importância desta exposição pelo “valor que este universal poema de amor representa para a cultura portuguesa”, assinalando que, ao longo do tempo, nenhum outro poema “despertou tanto fascínio e deu origem a tantas traduções e interpretações como o ‘Cântico dos Cânticos’, o mais sublime e exaltante dos poemas amorosos”.
“A beleza e o fulgor dos seus símbolos, a intemporalidade das suas metáforas emergindo diretamente da fonte auroral dos arquétipos, a sua atmosfera plena de fragrâncias subtis e de inebriantes aromas, o êxtase da comunhão intensa e sempre inalcançável dos amantes fazem deste poema (ou conjunto de poemas, como defendem alguns) de apenas mil duzentas e cinquenta palavras hebraicas, não só ‘uma das obras eróticas mais formosas que a palavra poética criou’, como escreveu o poeta mexicano Octavio Paz, mas um dos textos de que a humanidade mais deveria orgulhar-se”, sublinha a instituição.
O “Cântico dos Cânticos” é um poema legado pelo Antigo Testamento, atribuído pela tradição bíblica a Salomão e datado por investigadores entre os séculos VIII e VII a.C. e, no registo escrito, entre os séculos VI e IV a.C..
Ao longo dos séculos tem inspirado todas as expressões da arte, na literatura, nas artes plásticas, na dança, na música e no cinema.
A exposição bibliográfica, cuja primeira apresentação, em 2017, decorreu na Biblioteca Municipal de Castelo Branco, evidencia “a extraordinária presença [em Portugal] deste intemporal hino ao amor, documentada nessa mostra desde o século XV, quer no plano das versões e traduções, quer na poesia, no teatro e no ensaio, até aos nossos dias”, sublinha a BNP.
No que se refere à Cultura Portuguesa, o “Cântico dos Cânticos” tem vindo a afirmar-se como “um arquétipo estruturante do imaginário português”: está na “raiz do lirismo, deixou marcas não só na poesia medieval mas em toda a poesia, assim como em todas as expressões culturais posteriores”.
A mostra em Castelo Branco acompanhou o lançamento do livro de poesia de Gonçalo Salvado “Cântico dos Cânticos”, uma edição bilingue português/hebraico, ilustrada com desenhos do escultor João Cutileiro, e prefaciada por Maria João Fernandes.
Trata-se de um poema do autor, inspirado no poema bíblico, cuja segunda edição foi prefaciada por Fernando Guimarães.
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