Depois de ter estado dois meses, no ano passado, no Museu Soares dos Reis, no Porto, onde recebeu cerca de 43 mil visitantes, a mostra "Amadeo de Souza-Cardoso/Porto Lisboa/2016-1916", com 81 obras, vai ficar no Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado (MNAC-MC), até 26 de fevereiro.
A diretora do museu, Aida Rechena, sublinhou, em declarações à agência Lusa, que as obras "vão poder respirar" nas cinco salas disponibilizadas para 81 das 113 peças que a organização conseguiu reunir para evocar as exposições realizadas no Porto e em Lisboa, pelo artista.
A primeira mostra de 1916 decorreu no Porto, no Jardim Passos Manuel, de 01 a 12 de novembro, e a segunda, em Lisboa, na Liga Naval Portuguesa, de 04 a 18 de dezembro.
Na capital, porém, Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918) teve apenas disponível a sala de leitura daquele espaço, sendo obrigado a "cobrir as paredes" com as pinturas que queria mostrar.
Esta evocação das exposições realizadas pelo próprio artista no Porto e em Lisboa, há um século, resultou de uma proposta apresentada por Raquel Henriques da Silva, historiadora de arte e curadora da mostra, em conjunto com Marta Soares.
"Ao nos ser proposta esta exposição para o Museu do Chiado, para evocar a mostra na Liga Naval Portuguesa, obviamente que aceitámos por ser uma exposição tão extraordinária, com um conjunto tão significativo de obras", vincou a diretora.
As obras apresentadas por Amadeo há um século provocaram grande escândalo e polémica, sobretudo no Porto, devido à incompreensão da época relativamente às estéticas de vanguarda. No entanto, em Lisboa, o artista teve o apoio de outros artistas, como Almada Negreiros, que a divulgou com entusiasmo.
O artista chegou a distribuir um manifesto no qual escrevia que a exposição de Amadeo de Souza-Cardoso era mais importante do que a descoberta do caminho marítimo para a Índia, por Vasco da Gama.
Questionada sobre as expectativas em relação aos visitantes, na sequência do grande interesse que obteve no Porto, Aida Rechena declarou: "Vamos ter a exposição menos tempo do que esteve no Porto, no Museu Soares dos Reis, mas pensamos receber números semelhantes, talvez até mais, visto que estamos no Chiado, que tem muitos turistas".
Por seu turno, Marta Soares, co-curadora da mostra, sublinhou a importância de Amadeo ter organizado pessoalmente as exposições porque "a escolha dá a ver as relações que estabeleceu entre as suas obras".
"Ao contrário do Porto, onde a exposição teve entre 25 mil a 30 mil visitantes em 12 dias, por ter sido apresentada num espaço mais popular, em Lisboa, não há registo de visitantes, mas seguramente terá sido menos porque a Liga Naval era um espaço mais elitista, aristocrático, frequentado por monárquicos", referiu.
As obras suscitaram o interesse da imprensa no Porto e em Lisboa, tendo o artista sido alvo de notícias e entrevistas: "Houve críticas demolidoras no Porto, mas também artigos mais neutros e até positivos", segundo Marta Soares.
Amadeo de Souza-Cardoso vivia em Paris, mas regressou a Portugal no início da Primeira Guerra Mundial como um pintor reconhecido nos meios da vanguarda, tendo participado em exposições coletivas em Paris, Berlim, Nova Iorque, Chicago, Boston e Londres.
"Estas duas exposições em 2016 foram as últimas feitas em vida do artista", recordou a diretora, acrescentando que Amadeo viria a morrer dois anos mais tarde, vítima da gripe espanhola.
"Amadeo de Souza-Cardoso/Porto Lisboa/2016-1916" vai ficar patente ao público no Museu do Chiado até 26 de fevereiro.
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