De acordo com a Galeria Baginski, onde a mostra ficará até 14 de julho, a citação, da arquiteta britânica Alison Smithson dá-lhe o título e assume uma expressão significativa no corpo de trabalho de Fernanda Fragateiro, no qual a arquitetura e o espaço assumem grande protagonismo.
A exposição centra-se nos Robin Hood Gardens, “um projeto emblemático de habitação social da autoria de Allison e Robert Smithson cuja recente demolição, condenada por arquitetos, artistas e críticos, representa o apagamento de um período de importantes políticas sociais no Reino Unido”, segundo a galeria.
A citação faz uma analogia entre o processo de conceção de um livro e de um edifício: “se enquanto objeto, os livros podem ser transformados, originando pequenos edifícios, desenhos ou pedras de calçada, enquanto conteúdo representam ideias que operam num processo de construção”.
Através das obras presentes na exposição, Fragateiro “caracteriza o edifício e relata de forma subliminar os princípios que estruturaram o projeto de arquitetura e as causas que levaram ao seu insucesso”.
“Ao mesmo tempo, recorre à materialidade das obras para sugerir um comentário das premissas que originaram o Brutalismo, bem como a degeneração do estilo resultante de uma simplificação dos conceitos da materialidade, introduzindo de forma discreta destroços do bairro 6 de Maio, na Amadora, numa confrontação entre dois processos de demolição que decorrem em simultâneo ao período da exposição”, descreve a galeria no sítio ´online´.
“Apesar da simbologia do apagamento de um complexo social de arquitetura de autor, o grau de agressividade da destruição das arquiteturas informais do 6 de Maio, sujeita à igual negligência da opinião pública, é sintomático de uma desconsideração política e social pela dignidade humana que foi a principal motivação do projeto dos Smithson”, acrescenta.
Nascida em 1962, no Montijo, Fernanda Fragateiro vive e trabalha em Lisboa.
Após a realização de exposições individuais na Alemanha, Reino Unido e Espanha, da participação na Trienal de Arquitetura de Lisboa (2010), e na Dublin Contemporary (2011), o seu trabalho tem vindo a obter cada vez maior destaque na arte contemporânea europeia.
A artista é conhecida pelas suas intervenções escultóricas e arquitetónicas em espaços públicos como mosteiros, orfanatos, casas em ruínas.
O seu trabalho tem sido exibido em museus e centros culturais de todo o mundo, como o Palm Springs Art Museum, nos Estados Unidos, o Palais des Beaux-Arts de Paris, e está representada em coleções como a Caixa Geral de Depósitos, Fundação de Serralves, Fundação Calouste Gulbenkian, em Portugal, ou Helga de Alvear, em Espanha.
No ano passado, o Museu de Arte, Tecnologia e Arquitetura (MAAT), em Lisboa, apresentou “Fernanda Fragateiro: dos arquivos, à matéria, à construção”, sobre a ligação umbilical” da artista à arquitetura, área pela qual se interessou desde criança.
Em muitas das obras apresentadas na altura, havia uma forte carga política, nomeadamente em peças questionadoras, como “Arquitecture, a place for women?”, uma denúncia artística da ausência das mulheres da produção de espaço, segundo declarou a artista à agência Lusa, numa visita guiada, na altura.
Em janeiro, apresentou, em Madrid, uma obra inédita, intitulada “letter, for Anni”, criada depois de vencer o I Prémio Catalina D’Anglade.
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